Leite Derramado é o novo livro de Chico Buarque. O nome, muito adequado, se refere às lamúrias de um velho de mais de 100 anos, o narrador das memórias que compõem a história do livro.

O velho é Eulálio Montenegro d’Assumpção, que agoniza em um hospital público do Rio de Janeiro e relata sua história de vida – e todas as suas angústias – a uma (ou várias?) enfermeiras. Eulálio é o símbolo da imutabilidade da “elite podre” brasileira. Assim como seu pai, se chama Eulálio. Assim como seu avô e seu bisavô. E assim como seu filho, seu neto, seu bisneto. Também igual a seu pai, diz o narrador, tem o gosto por mulheres, pelo sexo, pelas aventuras. Será?

Parece que não exatamente. Eulálio foi (e continua) apaixonado, a vida inteira, por Matilde, com quem se casou muito jovem, mas com quem viveu, efetivamente, pouco. Matilde sumiu da vida de Eulálio logo depois de ter sua filha, Maria Eulália, e a grande graça da leitura passa a ser tentar descobrir por que (e para onde) Matilde foi embora. Mas o mistério de Chico Buarque é poético demais para ser um só um suspense. A dor de Eulálio é poética demais para ser só um drama. O livro é uma intrincada e amarga poesia, embalada por dor, mistério, sarcasmo, romance e sexo.

Leite Derramado, o quarto livro do autor, é, sem dúvida, o melhor deles.

Editora: Companhia das Letras
Páginas: 196 páginas
Preço: 36 reais


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Novo livro de Chico Buarque é poesia embalada por dor, mistério, sarcasmo e sexo