Fazer grandes turnês em palcos elaborados e passar os dias trancado em estúdios para conseguir a sonoridade perfeita nunca foi um estilo de vida agradável para o mineiro Vander Lee, que sempre gostou de tocar em bares esfumaçados toda a noite. Para ele, o legal era testar estilos e descobrir músicas que funcionavam ao vivo, que cativavam aquela platéia que se confundia com cigarros, uísque e conversa.

Vander Lee já lançou seis álbuns – o mais recente, Faro, ele considera como um trabalho mais pop, mais maduro, que reúne um pouco de toda a sua carreira. O som criado por Vander Lee normalmente é definido como MPB, com toques românticos e elementos do samba e até mesmo do rock mineiro. A definição dada pelo próprio Vander é ainda mais variada – e, no mínimo, curiosa. “Acho que meu som é uma coisa meio Beatles, meio Coldplay, meio Radiohead, meio Guimarães Rosa, meio Roberto Carlos”. Esse mix antropofágico é um reflexo de como Vander Lee vê não só sua música, como sua trajetória. “Sempre fui um cara a parte, marginal, que não fazia parte de nenhum círculo específico do cenário musical mineiro”. Mesmo assim, o músico admite que sofreu influências diversas em sua carreira. Seu novo álbum, por exemplo, mistura elementos da música moderna – “uma sonoridade um pouco melódica e um pouco pop, uma coisa meio Beatles –, música brasileira – “esse meu álbum dialoga com a canção mineira, ao contrário de No Balanço do Balaio, um CD de samba” – e sonoridade africana.

Depois de incitar a curiosidade ao falar de Radiohead e Coldplay como influências, Vander Lee muda para o outro extremo: sabem o que ele escuta praticamente todo dia? High School Musical. “Ah, mas daí é forçado, é que minha filha não me dá opção”, afirma ele, entre risos. Outra coisa que não sai do player de Vander Lee é… Faro, seu próprio disco. “Estou ouvindo praticamente o dia todo. Quando o álbum fica pronto, é insuportável ouvir, mas agora que já passaram umas duas semanas da finalização, é uma delícia e uma surpresa”.

As letras e títulos das músicas de Vander Lee são pitorescos – A Baiana Cover, Deus Lhe Pague Card, Tô em Liquidação, Chazinho Com Biscoito, Tavimatutu, O Dedo do Tempo no Barro da Vida e Xilique são alguns exemplos ecléticos do repertório do músico mineiro. Quase todas as suas letras, aliás, são de autoria própria. “Sempre sou eu que componho as músicas dos meus álbuns, e a minha gravadora resolveu sugerir algumas parcerias. As pessoas brincavam que eu tinha um ego muito grande, porque eu nunca chamava ninguém para compor e trabalhar comigo nas músicas”. Em Faro, Vander Lee trabalhou com o cantor congolês Lokua Kanza, na faixa Do Bão, com Regina Souza em Baile dos Anjos e com o rapper Renegado em Ninguém Vai Tirar Você de Mim, regravação de um clássico de Roberto Carlos.

Outra parceria inusitada, embora indireta, é entre Vander Lee e o compositor Cartola. Vander musicou um poema do compositor, que se transformou na música Obscuridade. “Resolvi gravar Cartola não só porque já trabalhei muito com samba, como pela admiração que sinto por ele. Cartola é referência na música e na vida”. Vander Lee ressalta que suas releituras têm sempre a sua cara, a cara de seu trabalho. “Quando gravei Roberto Carlos agora, por exemplo, a música ficou com uma pegada mais Tim Maia, além de elementos da música africana. Não tem jeito, é minha ancestralidade. Ainda quero trabalhar mais com esses elementos no futuro”.

Em fevereiro de 2009, Vander Lee tocou no festival South by Southwest, em Austin, no Texas. Ao lado de outros brasileiros, como Fernanda Takai, Érika Machado e Valéria Oliveira, o cantor mineiro apresentou seu repertório para os americanos, em uma experiência que afirmou ter sido maravilhosa. Além de se apresentar, o cantor resolveu dar um passeio pelo festival e ver o que tinha de novo nos palcos – o que, pelo testemunho de Vander, pode ser uma experiência um pouco opressora, embora rica. “A sensação que os festivais de lá me dão é que é como passear em um zoológico – cada uma das jaulas me traz uma musicalidade nova, uma espécie de som diferente”. E completa: “Quando voltei para o Brasil, senti vontade de quebrar meus discos, de tão saturado de som que eu estava. Voltei completamente enlouquecido, foi excesso de som”.

Para o futuro, Vander pretende sair em turnê em junho para divulgar o novo álbum. As próximas paradas serão em Cuba, Portugal e uma apresentação com o congolês Lokua Kanza como parte das comemorações do Ano da França no Brasil. Será que ele toca algo meio Beatles, meio Radiohead em sua futura turnê?


int(1)

Vander Lee fala de seu novo álbum, "Faro", e afirma ter uma sonoridade "meio Radiohead, meio Coldplay"