A 5ª edição da Virada Cultural, segundo a Prefeitura, recebeu cerca de 4 milhões de pessoas. Mesmo assim, simplesmente não existia infra-estrutura para organizar os inúmeros palcos – que compreendiam todo o centro, mais os CEUs, os Sescs, museus e livrarias –, e muitos locais estavam sem policiamento algum. Uma manada de pessoas se locomovia sem parar pelos palcos da Avenida São João, o Teatro Municipal, o largo do Arouche, a Praça da República e a Estação da Luz, e tinha que aguentar a falta de iluminação, a ausência de limpeza em todos os horários do evento e a insegurança de passar por esquinas perigosas que não tinham nenhum policiamento.

Mesmo assim, a Virada contou com muitos eventos divertidíssimos, que fizeram a galera pular durante toda a madrugada. Até mesmo o Teatro Municipal, que teoricamente traria um público mais clássico e já acostumado a freqüentar concertos, teve sua dose de gingado e ritmo brasileiro. A primeira atração era a performance na íntegra do álbum Clara Crocodilo, clássico de Arrigo Barnabé considerado como um marco na música experimental brasileira. A apresentação contou com a Banda Sabor de Veneno, que encantou o público com sua apresentação intensa e cheia de personalidade, além das performances divertidas das vocalistas Suzana Salles e Vânia Bastos. O público que conferiu a apresentação chegou bem cedo – os primeiros da fila tinham chegado às 14h, mesmo o show começando só às 18h. Daniela Simões e Neide Viana, as primeironas que esperavam no hall do Teatro Municipal, eram a cara do público que queria conferir a apresentação de Arrigo Barnabé: os fãs de música clássica que queriam ver no teatro um clássico da música brasileira. ”Aqui tem um público mais alternativo, mas a gente quer ver tudo! Vamos nos DJs, no Benito di Paula e no Odair José”! afirmaram as duas, rindo.

Outro palco que ofereceu ao público horas de diversão foi talvez um dos mais comentados da Virada. O palco brega, que reuniu ícones da música cafona como Wando, Reginaldo Rossi e Odair José, juntou inúmeros casais em um palco de dança lenta no largo do Arouche. Wando arrasou no palavreado, conclamando a mulherada a procurar “um homem gostoso, forte e bonito que as deixem embriagadas de felicidade”. O ídolo do público, que contava com muitas pessoas de idade e casais já velhinhos em clima de romantismo, cantou clássicos como Fogo e Paixão, Deixa eu Te Amar, Moça e Coisa Cristalina, e não poupou os fãs de seu lado galanteador. Wando chamou as “viúvas e as mulheres carentes do palco a se jogarem e aproveitarem o clima de amor que estava no ar”, finalizando seu aplaudidíssimo show jogando calcinhas, rosas e maçãs para o público.  

Reginaldo Rossi não deixou por menos e tentou estabelecer um novo recorde na hora de cativar o público. O cantor então soltou as pérolas da noite e conversou com a platéia sem parar. Cantou I Wanna Hold Your Hand, dos Beatles, e comparou o grupo inglês ao compositor Amado Batista, dizendo que o brasileiro não perdia em nada na comparação, e soltou um cover de Scorpions. Depois, deu aula de inglês tosco para o público e fez uma ode contra as drogas. O público foi abaixo, mas o show não acabou tão bem assim – uma briga feia no meio do público um pouco longe do palco fez com que muita gente tivesse que sair correndo para não ser pisoteado. Beto Barbosa tentou manter a platéia acordada, mas não deu muito certo e o pessoal começou a se dispersar do palco brega.

Já o palco da República não podia estar mais agitado. Fora os empurra-empurras insuportáveis, os trombadinhas, a falta de iluminação e a galera jogada no chão de maneira a tornar o trânsito de pedestres impossível, as apresentações estavam bem animadas. O som era o pior da Virada – irônico, já que foi o palco que mais bombou –, mas mesmo assim os fiéis fãs de Joelho de Porco, Camisa de Vênus (que tocou com a formação original), Velhas Virgens e Matanza não deixaram por menos e foram bater cabeça em toda a extensão da Praça da República. Tinha gente subindo nas árvores para poder ver melhor os caras do Matanza mandando ver no som pesado característico da banda. Logo depois do Matanza, entretanto, o clima estava um pouco tenso nos arredores da República, já que o Vanguart, a próxima banda a se apresentar, não tem muito a ver com a proposta do palco de rock e metal pesado. Com raízes folk e uma pegada mais alternativa, os garotos do Vanguart esperavam ser mal recebidos, conforme disseram aos jornalistas, mas o que aconteceu foi o contrário. Apesar da animação do Matanza não se repetir na apresentação da trupe comandada pelo vocalista Hélio Flanders, a platéia recebeu muito bem a banda e gritou bastante durante o show.

Mas a atração do palco ainda estava por vir. A galera enlouqueceu mesmo quando o CPM 22 entrou no palco e mandou bala no som pesado, afirmando estar adorando a  experiência de fazer um show de manhã em um domingo tão bonito. Mesmo com o som muito alto e cheio de ruídos, o público não ligou e cantou em uníssono quase todas as músicas da banda. A animação era tanta que alguns fãs tentaram invadir a área de imprensa para subir no palco e gritar junto com o vocalista Badauí.

Os problemas de organização permearam todo o evento e vão deixar suas marcas em quem participou, mas as apresentações divertidas e intensas de alguns palcos provavelmente vão durar mais na memória dos espectadores.

Os shows continuam até às 18h de hoje. Para garantir um fim de tarde tranqüilo, sigam nossas dicas para a Virada e aproveitem a festa!


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Virada Cultural reúne milhões em evento divertido, mas mal organizado