A morte do americano David R. Ellis esta semana, enquanto preparava a filmagem de seu novo filme, Kite, lembra o caso de outros diretores como Alfred Hitchcock, que não conseguiu começar seu projeto The Short Night, e Stanley Kubrick, que deixou na sala de montagem De Olhos Bem Fechados.
O diretor de Serpentes a Bordo foi encontrado morto na última segunda (7) em um hotel de Johanesburgo enquanto preparava seu próximo filme — e tinha até quatro projetos em pré-produção, segundo o site IMDB –, o que também aconteceu com diretores relevantes que deixaram no ar a dúvida sobre como teriam sido seus filmes.
Alfred Hitchcok, octogenário e que sofria de artrite, havia estreado Trama Macabra, seu último filme, mas morreu preparando o roteiro e algumas cenas do que ele queria que fosse de seu 54º filme, uma adaptação da novela de Ronald Kirkbridge The short night e que planejava desde os anos 1960. Ninguém se atreveu a dar continuidade ao projeto.
Outros diretores com filmagens mais avançadas, como Stanley Kubrick, conseguiram que sobre suas obras póstumas pairasse uma aura de non finito, a técnica de escultura em que parte da obra fica no estado original, como se estivesse inacabada.
Kubrick, que não havia lançado nenhum filme desde Nascido para matar, de 1987, voltava ao cinema fiel a si mesmo: uma filmagem que durou três anos, em que Harvey Keitel foi substituído por Sydney Pollack e em que, dizem, fez Tom Cruise e Nicole Kidman repetirem cenas até 300 vezes.
Quando foi anunciada a morte do cineasta perfeccionista em 7 de março de 1999 e, sobretudo, quando muitos viram no cinema o resultado na estreia de De Olhos Bem Fechados em julho do mesmo ano, questionou-se muito se Kubrick teria permitido que sua obra estreasse daquela forma. Hoje, muitos defendem que foi sua obra-prima.
Por muito pouco, John Huston pôde concluir sua última obra-prima, Os Vivos e os Mortos, baseada no livro Dublinenses, de James Joyce. O mestre morreu em 28 de agosto de 1987 e, cinco dias depois, o filme era visto pela primeira vez no Festival de Veneza.
O polonês Krzysztof Kieslowski, por sua vez, após contar em A Igualdade é Branca, a história de um homem que forja sua morte para saber a reação de sua amada, morreu em 1996, pouco após fechar sua trilogia cromática com A Fraternidade é Vermelha.
Com o receio que os estúdios passaram a ter de financiar filmes de grandes mestres que não concluiriam a produção, alguns novos gênios do cinema se ofereceram a colaborar para ver seus ídolos em cartaz de novo.
Foi assim com Wim Wenders, que assumiu como diretor interino do último longa-metragem de Michelangelo Antonioni, Além das nuvens, em 1995. O diretor de A noite e Blow-up – Depois daquele beijo havia sofrido um derrame cerebral em 1986 que o deixou sem fala e com problemas de mobilidade, mas ainda viveria até 2007 e dirigiria mais dois curtas-metragens, um deles incluído no filme Eros.
Finalmente, Paul Thomas Anderson fez o mesmo em 2006 com Robert Altman em A última noite, onde a morte passeava vestida com uma capa branca e era interpretada por Virginia Madsen em um elenco que reuniu Meryl Streep, Lily Tomlin, Lindsay Lohan e Woody Harrelson. Uma despedida entre amigos apresentada em Berlim, poucos dias antes de Altman sair de cena.