O presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Gilberto Câmara, disse hoje (17) que não se pode garantir que o desmatamento da Amazônia em 2009 será o menor dos últimos 20 anos, como vem afirmando o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc. O dado anual, calculado pelo Projeto de Monitoramento do Desflorestamento na Amazônia Legal (Prodes) só deve der divulgado em novembro pelo Inpe.
Segundo Câmara, por causa das nuvens, o Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter), que gera relatórios mensais de alerta, não tem conseguido enxergar o Pará, atual campeão de desmatamento, o que só poderá ser feito com as imagens analisadas pelo Prodes. O sistema, que usa imagens de satélite mais precisas que as do Deter, vai vai avaliar o desmatamento acumulado entre agosto de 2008 e julho de 2009.
O Deter não viu o Pará. E é no Pará que está o maior dilema hoje, por causa do expansão da agropecuária, e não é mais em apenas uma região do estado, está avançando, atravessando rios. O Pará é preocupante, e ainda não temos dados para afirmar como está o desmatamento lá [este ano], afirmou.
Câmara disse que a soja não é mais um fator relevante e primário para o desmatamento da Amazônia e citou a mudança ocorrida em Mato Grosso, que por anos liderou o ranking de derrubadas e tem apresentado tendência de queda no ritmo da devastação.
O diretor, que já teve o trabalho de seu instituto criticado publicamente pelo governador de Mato Grosso, Blairo Maggi que discordava dos dados atribuiu a mudança de cenário do desmatamento no estado a ações de governança e acordos fechados com o setor produtivo. A moratória da soja tem funcionado. A maior parte do desmatamento atual está associada ao binômio madeira/pecuária, disse.
Para Câmara, a saída para frear o desmatamento da floresta está na busca de acordos semelhantes ao feito com os exportadores de soja e com exigência de transparência na aplicação de medidas do governo, como a regularização fundiária aprovada recentemente a partir da Medida Provisória (MP) 458.
O diretor do Inpe é contra a venda de créditos de carbono gerados com a conservação da floresta, mecanismo que pode fazer parte do chamado REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação). O instrumento deve ser incluído no próximo acordo global sobre redução de emissões de gases do efeito estufa e prevê compensações para países que reduzirem as derrubadas e, com isso, evitarem que grandes quantidades de gás carbônico cheguem à atmosfera.
Na avaliação de Câmara, deixar que os países ricos paguem pelo carbono que deixou de ser emitido pelas florestas tropicais é dar um sinal verde para que as emissões nesses países continuem altas. Acho que esse é um dinheiro sujo. É justo que você hoje receba o dinheiro e venda o futuro? Quem compra continua a poluir, e os nossos filhos e netos é que terão que conviver com o custo disso, argumentou.