Um grupo de seis pessoas iniciou uma expedição rumo à Antártida em uma pequena embarcação, para recriar a audaciosa travessia feita pelo explorador Ernest Shackleton em 1916, que atravessou mares árticos para salvar sua tripulação.
“Espero que esta expedição faça justiça a sua memória e também nos lembre o quão incrível e frágil é esta parte do mundo”, afirmou o chefe da expedição e ambientalista australiano, Tim Jarvis.
Jarvis enfatizou, em entrevista à imprensa local, que existem “muitos perigos inerentes” a esta tentativa de reviver a histórica viagem realizada por Shackleton (1874-1922), que “obviamente superou todos os obstáculos”.
A expedição britânico-australiana começou na semana passada em uma pequena embarcação que deixou a ilha Elefante, no arquipélago antártico de Shetland do Sul, e tentará navegar cerca de 800 milhas náuticas (1.481km) até chegar à Ilha de Geórgia do Sul ou San Pedro, no Atlântico Sul.
Esta travessia marítima foi realizada por Shackleton depois que sua embarcação, a “Endurance”, ficou presa no gelo no Mar de Weddell, o que fez com que ele e seus 27 tripulantes tivessem que acampar em diversos blocos de gelo polar até que, passados cinco meses, chegaram a bordo de botes salva-vidas à inóspita ilha Elefante.
Neste remoto lugar, Shackleton, que realizava uma expedição transantártica quando sua embarcação encalhou no gelo, decidiu partir em 24 de abril de 1916 com poucas provisões e cinco homens rumo às estações baleeiras da Geórgia do Sul a bordo de um pequeno barco de 6,9 metros, chamado de “James Caird”.
Esta travessia de 17 dias por mar e outros três por terra, é considerada pelos historiadores da navegação como uma das mais arriscadas da história.
Assim, o explorador anglo-irlandês pôde pedir ajuda em uma estação baleeira, após percorrer a pé uma rota que não havia sido utilizada por ninguém até então, e conseguiu mandar uma mensagem para o Chile, de onde saiu o navio “Yelcho”, comandado por Luis Pardo Villalón.
Em 30 de agosto de 1916, a embarcação chilena resgatou os 22 membros da tripulação do “Endurance”.
Essa façanha permitiu salvar a vida dos 27 homens que acompanharam Shackleton na fracassada expedição à Antártida, que foi iniciada em 1914 e pretendia navegar mais de 3,2 mil quilômetros do Mar de Weddell até McMurdo.
Para simular a façanha de Shackleton, a expedição de Jarvis se deslocará em uma réplica do “James Caird”, que foi batizada como “Alexandra Shackleton” em homenagem à neta do explorador anglo-irlandês.
No último trecho da viagem, a equipe de Jarvis, de 46 anos, levará consigo o mesmo tipo de equipamento e a mesma quantidade de mantimentos que Shackleton tinha durante sua longa caminhada pelo gélido e montanhoso terreno da Ilha de Geórgia do Sul.
Em nome de seu país, a primeira-ministra australiana, Julia Gillard, desejou “toda a sorte” à expedição para vencer com brilho este difícil desafio.
As façanhas de Shackleton foram “esquecidas” por conta das realizadas pelos exploradores Robert Scott e Roald Amundsen, que conseguiram colocar suas bandeiras no continente gelado.
Entre 1907 e 1909, Shackleton tentou em várias ocasiões, e sem sucesso, ser o primeiro a chegar ao Pólo Sul, uma delas fracassada por conta do esgotamento das provisões quando estava a 160 quilômetros de seu objetivo.
Porém, a fama do aventureiro irlandês cresceu nos últimos anos de forma simultânea à divulgação de seu legado, até se transformar em uma lenda e em um exemplo de liderança.