Em meio à grave recessão em Cuba, o Governo do general Raúl Castro está reduzindo aos poucos os alimentos contidos na chamada “Libreta de Abastecimiento” (caderneta de abastecimento), um dos símbolos dos anos mais difíceis do período em que Fidel esteve no poder.

Nos últimos meses, foram reduzidas as rações entregues a preços subsidiados aos 11 milhões de cubanos que se inserem no programa, que para muitos está com os dias contados.

A partir de novembro, as batatas e as ervilhas foram excluídas, sem aviso público nem explicações, como é habitual no único país da América governado unicamente por um partido comunista, do qual Fidel Castro continua como primeiro-secretário.

Esses alimentos podem ser comprados no mercado livre, sem limite de quantidade, pelo dobro do preço subsidiado. O valor, no entanto, ainda não é comparável a muitos países – o quilo da batata custa apenas US$ 0,10 em Cuba.

Antes já haviam sido reduzidas as cotas de outros alimentos e do sal, também sem aviso prévio.

Os cubanos ficaram sabendo dos cortes apenas ao chegarem às lojas oficiais com sua caderneta ou, às vezes, por meio dos Comitês de Defesa da Revolução de seus bairros, considerados os olhos e ouvidos do sistema.

Recentemente, foram eliminados também os chamados “refeitórios operários” de quatro ministérios. É um teste para acabar com os 24.700 refeitórios que há em toda a ilha, que atendem a 3,5 milhões de pessoas e custam ao Estado US$ 350 milhões basicamente só em arroz, carnes, grãos e azeite, segundo a imprensa oficial.

Economistas, analistas e diplomatas divergem sobre a real razão dos cortes. Enquanto alguns os atribuem às “reformas estruturais” prometidas em 2007 pelo general Castro, outros acreditam serem fruto da falta de liquidez do Governo.

Cuba vive uma de suas recessões mais acentuadas das últimas décadas, que reduziu em 36% seu comércio exterior de bens nos nove primeiros meses de 2009, segundo reconheceu esta semana o ministro do Comércio Exterior e Investimento Estrangeiro, Rodrigo Malmierca.

O Governo de Havana já rebaixou de 6% para 1,7% sua meta de crescimento para 2009, mas economistas independentes questionam até o último número.

Embora não tenha entrado oficialmente em moratória e diga que não o fará, o Governo cubano está descumprindo seus compromissos de dívida e chegou a congelar as contas em moeda estrangeira de várias empresas internacionais.

O assunto é tão grave que foi um dos pontos centrais das recentes visitas a Havana do comissário europeu de Desenvolvimento, o belga Karel De Gucht, e do chanceler espanhol, Miguel Ángel Moratinos.

No jantar anual da associação de empresários espanhóis em Cuba, na quinta-feira, houve grande tensão pelos pedidos dos anfitriões aos funcionários cubanos presentes sobre a necessidade de resolver o bloqueio das transferências de divisas antes que mais companhias quebrem.

Segundo fontes espanholas, além dos US$ 2,9 bilhões da dívida oficial de Cuba com a Espanha, há US$ 890 milhões em atrasos de pagamentos a companhias comerciais espanholas que fornecem produtos à ilha.
Esses números não incluem o congelamento das contas de empresas espanholas com investimentos em Cuba, nem os compromissos com companhias mistas.

Esses, porém, não são os únicos números que preocupam: as estatísticas oficiais cubanas reconhecem redução de 12% até setembro deste ano, frente ao mesmo período de 2008, na receita com turismo, apesar de o número de visitantes ter crescido mais de 3%.

O turismo não só é uma das maiores fontes de divisas de Cuba, junto com a exportação de serviços e pessoal médico, principalmente à Venezuela, mas o eixo de vários investimentos de fora, sobretudo espanhóis.


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Crise força Cuba a fazer primeiros cortes em subsídios a alimentos