Os índios de quatro etnias protestaram hoje, em Brasília, contra a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, maior empreendimento energético previsto no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal.
Representando mais 11 etnias que vivem na Bacia do Rio Xingu, os índios xavante, kamayurá, kayabí e kayapó vieram de diferentes regiões para entregar às autoridades do governo uma cópia da carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, documento aprovado no fim de outubro por quase 300 lideranças indígenas que se reuniram na Aldeia Piaraçu, na Terra Indígena Capoto/Jarina, em Mato Grosso.
A manifestação ocorreu em frente ao Ministério de Minas e Energia e contou com o apoio da organização não governamental ambientalista Greenpeace. Além de tentar entregar uma cópia do documento ao presidente Lula, os índios irão protocolar uma cópia da carta nos ministérios de Minas e Energia e de Meio Ambiente, no Ministério Público Federal (MPF), na Fundação Nacional do Índio (Funai) e no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Os índios reclamam da forma como o processo de licenciamento da obra foi conduzido. Eles dizem não ter sido ouvidos e se queixam de não receber as informações adequadas sobre os efeitos da construção da usina nas comunidades que vivem próximas das áreas que serão alagadas pelo lago da usina.
Segundo Agnelo Xavante, da Terra Indígena São Marcos, o povo xavante é contra a hidrelétrica por entender que ela acarretará diversos problemas para as comunidades indígenas, como a diminuição do volume das águas do Rio Xingu e a consequente diminuição do pescado.
O governo tem que levar em consideração a posição dos índios, disse Agnelo à Agência Brasil. Também somos povo [brasileiro], mas o governo não consulta e não conversa com a gente, que não aceitamos não apenas a construção de Belo Monte, mas de nenhuma outra usina perto de terra indígena, disse.
O representante dos kayapós, Poy Kayapós, afirmou que nenhuma das 15 etnias representadas no encontro em Piaraçu aceita a construção da usina. Segundo Poy, o início das obras poderá precipitar uma guerra na região.
Não aceitamos Belo Monte e não vamos deixar que ela aconteça. Se o governo começar a obra, ele vai ter que se responsabilizar pelos funcionários porque vão acontecer brigas e até mortes. Vai haver uma guerra, afirmou.
O leilão para a construção da usina está marcado para o próximo dia 21 de dezembro, mas ainda depende da autorização do Tribunal de Contas da União (TCU) e da concessão, pelo Ibama, da licença ambiental prévia. Em outubro, a Funai emitiu um parecer favorável ao Estudo e Relatório de Impactos Ambientais (EIA/Rima) da usina sobre a sua influência no modo de vida dos indígenas da região.