A Cúpula da ONU sobre a Mudança Climática (COP15), em Copenhague, da qual participaram 119 chefes de Estado e de Governo, ficou marcada, à margem de acordos e divergências, pelo caos organizativo e uma ferrenha atuação policial para frear protestos.

A decisão da ONU de permitir o credenciamento de 46 mil pessoas ao palácio de congressos Bella Center, três vezes mais do que a capacidade do palco da cúpula, provocou em vários dias um colapso dos acessos.
A avalanche de gente do início desta semana, coincidindo com a chegada de representantes ministeriais dos 192 países participantes, provocou o caos, com milhares de pessoas fazendo filas durante mais de oito horas a temperaturas próximas a 0°C e sem poder entrar no Bella Center.

A ONU, então, limitou o acesso por meio de cotas a ONGs e entidades intergovernamentais, que ficaram com um terço do total de credenciais, o que contribuiu para aliviar a situação nos dias seguintes.

Entretanto, os graves problemas na organização fizeram com que o secretário-executivo da COP15 e porta-voz da ONU para a mudança climática, Yvo de Boer, assumisse publicamente os erros e pedisse desculpas, enquanto as autoridades dinamarquesas negavam qualquer tipo de responsabilidade no ocorrido.

O Governo dinamarquês se saiu pior no campo da segurança e no uso massivo das detenções preventivas de mais de 1.500 pessoas, em sua maioria liberadas pouco tempo depois, em uma cúpula na qual não houve confrontos violentos graves nem distúrbios comparáveis a outros eventos deste porte.

Um mês antes do início da COP-15, a Dinamarca aprovou a liberação de uma verba de 84 milhões de euros para o setor de segurança, em uma iniciativa batizada pelo ministro da Justiça dinamarquês, Brian Mikkelsen, como “pacote legal para malfeitores”.

Mikkelsen demonstrou total apoio à atuação policial após a grande manifestação do dia 12, na qual houve mais de 1.200 detidos, muitos dos quais permaneceram algemados em fila durante horas e sentados sobre o gelado asfalto para serem liberados pouco depois.

Para o ministro, a ação policial impediu que Copenhague acabasse “em chamas”, como aconteceu com outras cidades que receberam cúpulas do tamanho da COP-15, o que não evitou fortes críticas de ONGs, grupos de ativistas e organizações como a Anistia Internacional (AI).

A entidade Climate Justice Action (CJA), uma das principais organizadoras dos protestos mais espetaculares, acusou as autoridades dinamarquesas de quererem silenciar as manifestações e de criminalizar suas atividades por meio das detenções.

A CJA destacou que, apesar da controvertida atuação policial, a cúpula de Copenhague permitiu reforçar o movimento internacional pela justiça climática.

No entanto, o maior esquema de segurança na história recente da Dinamarca, com mais de 6.500 agentes, não pôde evitar uma ação simbólica, mas de consequências ainda mais graves para a imagem do país.

Ontem à noite, dois ativistas do Greenpeace vestidos em trajes de gala burlaram a segurança e mostraram um cartaz de protesto diante das câmeras, enquanto a rainha Margarida II oferecia um jantar em homenagem aos chefes de Estado e de Governo presentes na cúpula, em um incidente que pôs as autoridades policiais em xeque.


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Caos na organização e atuação policial ofuscam cúpula de Copenhague