A maioria das pessoas que viveram os anos 1990 tem como primeira imagem de Zeca Camargo, ele de tiara apresentando o MTV no Ar. Nesse pequeno acessório traduzia-se toda a modernidade e ousadia que a emissora jovem queria imprimir no cenário televisivo brasileiro. Mas assim como Lady Gaga, de quem o jornalista afirma admirar, a tiara era apenas uma peça para poder comunicar outras ideias. Não à toa, ele hoje apresenta o Fantástico, o programa mais importante da grade da TV Globo. No meio da correria, ele respondeu algumas perguntas por e-mail para o Virgula. “Estou enlouquecidamente editando os episódios da série sobre Megacidades – e isso deve ir até o final de maio”. Contou também que no meio de tudo isso mais “um livro já está sendo preparado”. Zeca já lançou: De A-Ha a U2: os Bastidores das Entrevistas do Mundo da Música, Isso Aqui é Seu: A Volta ao Mundo Por Patrimônios da Humanidade, Novos Olhares, A Fantástica Volta ao Mundo: Registros e Bastidores de Viagem.
Nessa quinta-feira (08), Zeca completa 47 anos. E passamos um pouco em revista sua carreira no jornalismo, a amizade com Paulo Francis, a MTV, os reality shows e suas entrevistas com grandes nomes da música como Cazuza, Renato Russo e Lady Gaga.
Virgula: No começo de sua carreira, você trabalhou em Nova York junto com o Paulo Francis para a Folha de São Paulo. Como foi sua convivência com ele?
Zeca Camargo: Se tenho alguma dose de irreverência – sobretudo no que diz respeito à atitude jornalística, devo isso à convivência com o [Paulo] Francis, em 1989. Extremamente bem-humorado e inteligente, era um excelente conselheiro – e um bom companheiro (ao lado de sua mulher, e também minha amiga e jornalista, Sonia Nolasco) nas horas vagas. Nosso almoço de sábado era “sagrado” – e era sempre um prazer.
Virgula: Já na MTV você causava comoção ao apresentar um jornal usando uma tiara – algo completamente anticonvencional no telejornalismo. Como surgiu a ideia de apresentar o programa com esse acessório?
ZC: Não foi exatamente uma “ideia” – na MTV (e creio que é assim até hoje por lá) a gente é encorajado a ser o mais natural possível – você está falando com jovens, quanto mais credibilidade melhor. E aquele era um acessório que eu já usava antes de a MTV entrar no ar. Acho que gravei os primeiros programas com ela porque já vinha de casa usando. Quando a deixei de usar fora das câmeras, ela também foi aposentada no estúdio.
Virgula: Quais foram suas entrevistas mais marcantes?
ZC: Sem dúvida nenhuma aquela, ainda na Folha de S.Paulo, em que Cazuza admitiu que tinha Aids – em 1989. Além dessa, todas as que faço com um ídolo são memoráveis – de Kurt Cobain a Bono, passando por Renato Russo e (por que não?) por Lady Gaga!
Virgula: No meio do ano desse ano, você deixa temporariamente o Fantástico para apresentar o No Limite. Na sua opinião, porque o reality caiu tanto no gosto do brasileiro.
ZC: Acho que a paixão do brasileiro por novelas tem a ver com isso. Nós gostamos de seguir uma história, de nos envolver com narrativas pessoais. Faz parte da nossa cultura. E quando se tem a chance de participar então dessa história (como no BBB), essa relação fica mais próxima ainda. Daí o sucesso…
Virgula: Você é um viajante compulsivo. Qual o lugar do mundo que você precisa voltar sempre e qual você nunca mais quer ir?
ZC: Preciso voltar – sempre – para Istambul. Já fui seis vezes para lá e ainda não me cansei… E o lugar que eu nunca mais quero ir não existe. Às vezes você pode ter uma experiência ruim em um lugar, mas ela pode ser superada numa outra viagem. Já aconteceu comigo isso – e aprendi a lição!
Virgula: No comecinho do frisson Lady Gaga, você a entrevistou. Como foi esse encontro, qual a impressão que você teve dela?
ZC: Acho que ela é uma artista de verdade – não uma fabricação. Ela compõe, toca bem, e ainda tem umas idéias totalmente alucinadas – e sai tudo dela! Não vou me surpreender se um dia ela quiser dar um tempo de tudo e fazer outra coisa – artistas são assim… Ainda bem!