Pense em 5 celebridades portuguesas para nós brasileiros. Os mais atuais teriam na lista o jogador Cristiano Ronaldo, os mais históricos Pedro Álvares Cabral, os religiosos com certeza colocariam Nossa Senhora de Fátima, os mais pop Roberto Leal, mas ela só estaria completa se o nome de Amália Rodrigues figurasse entre esses e tantos outros lusitanos importantes. A rainha do fado faria nesta quinta-feira (01) 90 anos de idade, mas sua música continua atual, principalmente pelo conteúdo “gótico” de suas letras e da tristeza imensa de sua melodia.
As novas gerações no Brasil conhecem vagamente o mito português – diferentemente de Portugal onde hoje ela é reverenciada por inúmeros jovens. Tem-se talvez a vaga ideia de alguém que canta quase se lamentando, ou sabe-se – quando muito – algum verso de Nem às Paredes Confesso ou a regravação de Caetano Veloso para Estranha Forma de Vida, sem falar da total devoção de Maria Bethânia que sempre a cita como uma grande influência.
O fado com seu lado pessimista e urbano – nasceu provavelmente no século 19 (para o historiador e crítico José Ramos Tinhorão o gênero teria surgido no Brasil) – traz em suas letras o que muitos hoje poderiam enxergar como “gótico”, “dark”. Deixa a tristeza sair/ Pois só se aprende a sorrir/ Com a verdade na boca ou Povo que lavas no rio/ E talhas com o teu machado/ As tábuas do meu caixão são um pequeno exemplo dessa sombra que paira sobre o fado.
Por incrível que pareça, esses últimos versos citados de Povo que Lavas no Rio foram considerados como parte de uma canção política. Portugal por décadas foi palco da ditadura de direita de Antonio de Oliveira Salazar e Amália injustamente condenada como um dos 3 Fs da alienação do povo português (Fado, Fátima e Futebol). Soube-se depois de sua morte, em 1999, que ela colaborou, inclusive monetariamente, com o Partido Comunista Português e que a saída da prisão e a liberdade do compositor e militante de esquerda Alain Oulman durante o regime salazarista foi um ato de sua total responsabildade. Mas ela, nem às paredes confessou.