“Biscate” é uma palavra que muita gente fala sem saber o seu real significado. O termo na verdade é o nome daquele trabalho extra, por fora, para ganhar uns trocados a mais. Biscate. No Brasil, o povo deu outro sentido ao termo que, bem, vocês exatamente qual é.
No Twitter, a palavra ganhou outra grafia graças a um dos perfis mais divertidos que surgiram nesse ano, o @tiposdebiscat. “Optamos por usar biscat porque biscate é a biscate periguete e pronto. A biscat engloba tudo. A periguete, a burra, a pobre, a folgada, a sem noção, a fofoqueira, a exibida e a subcelebridade”, explicam os autores, por e-mail.
Criado pelo jornalista Leonardo Polo de Aquino (21 anos) e o publicitário Pierre Artistta (24), o “arroba” reúne uma compilação de frases que definem o tipo de mulher descrito no parágrafo acima. Os post são sugestões enviadas pelos mais de 12 mil seguidores – mulheres, em sua maioria. Os dois são amigos virtuais de Orkut desde 2004 e se conheceram pessoalmente no ano passado.
“Para mim, o pior tipo de biscat é biscate sem noção. A que vai trabalhar de abadá, calça social e bota de plataforma de rave. A que coloca e-mail thayannigatinhaangelstar@bol.com.br no curriculum. A biscat que na balada grita ‘ela tá vomitando’ quando a amiga abaixa pra arrumar a sandália”, brinca Pierre.
“Meu tipo preferido são as fofoqueiras. Aquela que fica parada olhando acidente de carro, com a barriga encostada na faixa de isolamento. A que corre pra janela quando ouve barulho de batida de carro, de briga, ou então sai atropelando todo mundo quando ouve a música do plantão da Globo”, completa Leonardo, que explica como é o tipo de “biscat” do momento: a do Twitter.
“A mais comum é aquela que tem foto de exibição no espelho, com máquina fotográfica, decote e biquinho. As biscats também adoram usar o Twitter como chat pra se exibir pros followers, dar RT em qualquer elogio que recebem e fazer ciúmes para o namorado mandando mensagem pros comediantes do ‘CQC’, dizendo que ‘além de gatos, eles fazem um humor inteligente e crítico’”, provocam.
A pedido do Virgula Lifestyle, a dupla comentou como as “biscats” esquecem da etiqueta ao passarem as festas de fim de ano. E ainda revelou uma bomba: “biscat” sente frio!
Como costumam ser os natais das “biscats?” Em casa, com a família, ou vão pra balada?
Começa em casa, assistindo ao “Especial Roberto Carlos” com a família. Primeiro ela diz que não aguenta mais o Roberto, mas meia-hora depois ela está chorando, abraçada com a mãe e cantando aos berros “Como É Grande o Meu Amor Por Você”, sonhando em pegar uma rosa do rei. Depois, na hora da ceia, ela faz várias piadas sobre “encher o rabo de peru” e “pavê ou pacumê”.
Quando dá 1h da manhã, ela cansa de ficar com a família e vai pra casa da melhor amiga dela, a Thayanni. Ela dá de presente pra mãe dela uma Sidra Cereser que ganhou na cesta de Natal da empresa. Então as duas vão para a balada especial de Natal, vestidas como ajudantes de Papai Noel. Sexy, como toda fantasia de biscat. Viram três tequilas porque “quem tem limite é município”, competem pra ver quem beija mais gatinhos e terminam a noite muito loucas gritando pela rua, desejando “Feliz Natal” pra todo taxista e mendigo.
“Biscat” paga muito papelão nas festas de fim de ano?
Começa que ela faz “esquenta” para a festa de fim de ano. Já chega lá de tomara-que-caia de veludo e microshorts de cetim. Fica bêbada e pede aumento pro chefe, tenta arrumar namorado pra Regina Célia do Financeiro e senta no colo do Seu Agenor, gerente de planejamento da empresa. Pede lingerie de oncinha no amigo secreto e presenteia a estagiária do RH com um pinto de chocolate. Fala que até queria dar um presentinho melhor… “Mas com o salário que recebo aqui, né?” Coloca o CD de funk que trouxe de casa pra tocar, sobe na cadeira pra dançar e cai.
Como “biscat” reage quando o primo dá em cima dela no Natal?
Sem muita surpresa, porque foi ela que ficou o ano inteiro provocando ele pelo MSN, dizendo “enquanto você não acha a mulher certa, vem aqui em casa se divertir com a errada”, mas quando ele ameaça ir, dá a desculpa que não dá porque precisa “dar um choque de Kérastase no cabelo”.
“Biscat” toma sidra no fim de ano e fala que é champanhe?
“Champanhe” ela não fala que é. Mas com certeza fala que é “champanha”. Tem também a biscat que bebe a sidra que ganhou na cesta de Natal da empresa já no ônibus, a caminho de casa. E a que vai pra balada de Natal, acha garrafa de Baby Chandon no lixo do banheiro, enche de água e fica fazendo pose na pista.
Como é o réveillon da “biscat” na praia? Veste roupa velha e fala que é nova?
Primeiro ela vai terminar o namoro, porque: a) já ganhou o presente de Natal, b) quer curtir o Carnaval sozinha. Vai viajar para o réveillon na Praia Grande com as amigas e ficar muito bêbada, jogar a calcinha amarela pra Iemanjá e tenta acender um cigarro na vela da macumba e queimar a franja. Daí entra no mar de roupa, pisa num despacho e sai gritando que pisou num caranguejo.
Biscat pode passar fome, mas no réveillon tem que ter dinheiro pra duas coisas: bebida e roupa nova. A primeira por motivos óbvios, a segunda porque é “ano novo, tudo novo”. A roupa nova depende. Se ela é gótica, ela vai pra praia de coturno, saia de tule e camiseta preta de banda. Se ela é mais perua, vai de vestido longo vermelho e é chamada de Pomba Gira Maria Padilha na rua. Se ela é mais gueto, vai de sandália dourada trançada até o joelho, vestido de paetê dourado e maquiagem dourada. Pra atrair muito ouro em 2011. Faz simpatia pra atrair dinheiro, guarda semente de uva na carteira, usa calcinha amarela… Mas só começa a procurar emprego depois do Carnaval.
Para finalizar, é verdade que “biscat” não sente frio?
Biscat não sente frio porque tá sempre com fogo no rabo. Tá sempre disposta a “botar fogo na boate e apagar com o cabelo”! Requebrar até o chão até estourar a calcinha, beber deitada pra não se dar o trabalho de cair. Se o uniforme da Escola Estadual Ribeiro de Barros está muito largo, ela dá um nozinho atrás pra ficar curto e mostrar o piercing de coelhinha da Playboy. Se o shorts tá muito comprido, ela faz a barra com clipes de papel. Mas é claro que ela culpa a falta de roupa no Aquecimento Global.
Mas tem um porém. Biscat também sente frio. Mas só na sala de aula. Reclama que o ar condicionado é um freezer e pede pra desligar, mesmo que esteja 35ºC lá fora. Aí ela coloca o moletom falsificado da GAP que comprou no intercâmbio na Austrália – experiência “ímpar e reveladora”, mesmo tendo voltado 15 kg mais gorda.