Eu Quero Festival 2011
Depois de praticamente duas horas e meia de show, dois retornos para bis, muito suor e pouca gente querendo deixar o Circo Voador, a banda canadense Broken Social Scene encerrou uma apresentação histórica – e talvez a vida útil do grupo – no Eu Quero Festival 2011 da mesma maneira que iniciou sua carreira com o disco Feel Good Lost em 2001: com uma música instrumental.
A noite começou com a simpática banda nacional Baleia, grupo liderado por Maria Luiza Jobim, filha caçula do maestro. O som é doce e inofensivo, misturando jazz, dixieland, MPB e bossa-nova aplicadas a covers de Britney Spears, Justin Timberlake e Radiohead, entre outros. Uma banda que não faria feio num desfile de moda, mas que parecia um corpo estranho no line-up do evento. Talvez até por isso tenham tocado num palco secundário, especialmente montado para sua apresentação.
Em seguida, o norte-americano Chazwick Bundick subiu ao palco para liderar o Toro Y Moi, considerado o rei do Chillwave e do chamado Bedroom Pop. Apesar de ser um projeto de um-homem-só, Chazwick é acompanhado de outros três músicos no palco. O que passa por um som quase ambiente e cheio de grooves ensolarados em disco, se torna uma densa massa sonora levemente funkeada ao vivo. O público respondeu muito bem e dançou com passos preguiçosos e suingados as músicas dos elogiados Causers of This (2010) e Underneath the Pine (2011). Contudo, após seis ou sete músicas, fica um pouco difícil distinguir uma canção da outra e o show se tornou repetitivo e desinteressante.
O quarteto britânico de indie rock Bombay Bicycle Club subiu ao palco com a plateia totalmente ganha, colhendo os frutos de dois elogiados shows em solo brasileiro durante o ano de 2010. O público parecia exatasiado com o repertório que deu ênfase ao novo disco, A Different Kind of Fix (2011), e a banda respondia à altura, mostrando total entrosamento com os cariocas.
Com pouco mais de meia hora de atraso, os oito membros dessa formação reduzida do Broken Social Scene subiram ao palco. Misturados ali estavam integrantes de bandas como Stars, Apostle of Hustle e Reverie Sound Revue. Com todos vestidos de preto, começaram a apresentação com a clássica KC Accidental – do disco You Forgot It In People (2002) – e a nova Texico Bitches. Apesar de um som embolado nas cinco primeiras canções, que prejudicou hits como 7/4 (Shoreline) e Fire Eyed Boy, a banda compensou com energia e um carisma pouco visto nos palcos em qualquer lugar do mundo. Até a pacata vocalista Lisa Lobsinger parecia estar adorando tudo. O show realmente engrenou com a sequência de Late Nineties Bedroom Rock for the Missionaries, Shampoo Suicide e Anthems for a Seventeen Year Old Girl, que emocionou boa parte da plateia e confirmou o a real razão para que todos estivessem ali no Circo Voador.
Entre algumas das músicas, a conversa dos membros fundadores da banda, Kevin Drew e Brendan Canning, dava vários indícios de que este foi realmente o último show da banda por um bom tempo ou até mesmo para sempre. Além disso, o show no Rio de Janeiro marcou o fim da turnê de divulgação do disco Forgiveness Rock Record, que durou um ano e meio. Mas apesar do clima levemente melancólico, a banda parecia energizada com a resposta do público, que cantava – ou gritava – a plenos pulmões todas as músicas e uma fascinante interação com os músicos, como se fosse um rito religioso. O único destaque negativo foi uma versão totalmente desencontrada de All to All, que demonstrava problemas no retorno da banda.
Quando tocaram os primeiros acordes de Meet Me In The Basement, o Broken Social Scene mostrou-se uma das pouquíssimas bandas de rock que conseguem incendiar completamente o público com uma música instrumental. Com um riff grudento e cheia de falsos finais, a música que fechou quase todos os shows do grupo nos últimos 2 anos deu início ao terço final da apresentação. Logo vieram a bela balada Looks Just Like The Sun e uma arrebatadora versão de It’s All Gonna Break, com mais de dez minutos de duração.
Entre clássicos como a catártica Almost Crimes, hits recentes como Sweetest Kill e covers inusitados de Modest Mouse (World at Large) e Beastie Boys (Funky Boss) – além de citações a U2 e Rage Against The Machine – a banda parecia não querer deixar o palco. No meio do show, o baixista Brendan Canning disse em tom de piada que ainda tocariam por mais uma hora e meia, e foi exatamente isso o que aconteceu – apesar da impressão de que eles não tinham programado isso. Todos transpareciam estar extremamente felizes.
Por fim, depois de mais uma parada para ser chamada de volta ao palco pela plateia, a ensolarada Pacific Theme foi escolhida para dar um fim à festa. Se foi o último show dessa formação ou da história da banda, ainda não sabemos de verdade, mas pode-se dizer que os cariocas presenciaram uma apresentação histórica, apaixonante e única. Tudo indica que o show de despedida aconteceu no Rio de Janeiro por puro acidente. Mas foi um acidente extremamente feliz.