Torcedor fanático do Flamengo, o secretário de Esporte e Lazer do Rio de Janeiro e presidente da Superintendência de Desportos do Estado (SUDERJ), André Lazaroni, tem andado muito ocupado nos últimos tempos, e não assiste mais aos jogos do seu time tantas vezes quanto gostaria. À frente da pasta há um ano, o deputado estadual pelo PMDB, licenciado, tem viajado bastante pelo interior fluminense nos últimos meses para cuidar do programa Esporte RJ, que considera sua menina dos olhos – 376 polos esportivos atendem a cerca de 30 mil alunos da rede pública – e agora se prepara para assistir às partidas disputadas no âmbito dos Jogos Abertos do Interior.

Com o Esporte RJ, Lazaroni pretende atingir a marca de mil polos nas 92 cidades fluminenses, dos quais 50 serão destinados aos atletas de alto rendimento, e atender quase 300 mil pessoas. E nos Jogos Abertos, o secretário verá 182 equipes coletivas, 112 atletas individuais, disputarem troféus e medalhas em dez modalidades esportivas diferentes em 53 cidades.

Curiosamente, em um momento delicado para o esporte na cidade do Rio de Janeiro, às vésperas da Copa do Mundo e em meio aos preparativos para as Olimpíadas de 2016, Lazaroni voltou boa parte das suas preocupações para o interior do Rio, ainda que as questões envolvendo o Maracanã e outras do gênero também se mostrassem urgentes. Nesta entrevista por email, ele fala sobre as escolhas, prioridades e projetos da sua pasta.

Por que a iniciativa de retomar os Jogos Abertos do Interior? E por que ficaram paralisados por dois anos?
Os Jogos Abertos do Interior representam uma grande disputa entre cidades e são muito importantes para o desenvolvimento de jovens através da prática esportiva. Nós conseguimos retomar a competição, que, por dois anos, esteve paralisada por barreiras financeiras, porque sabemos que há muitos talentos do esporte escondidos no interior que não têm oportunidade de se mostrar. É um orgulho muito grande para todos nós ter ultrapassado estas barreiras que impediram as edições anteriores. Atualmente, fizemos uma parceria com uma Organização Social, a Ascagel, que nos auxilia na realização dos Jogos. Tenho certeza de que muitos desses atletas estarão presentes nos Jogos Abertos Brasileiros deste ano. E trarão muitas medalhas para o Rio de Janeiro.

Quais os programas da Secretaria o senhor considera suas ‘meninas dos olhos’? Por quê?
A grande “menina dos olhos” da Secretaria é o programa Esporte RJ, que implantamos em outubro do ano passado com a intenção de criar, em todo o estado, mil núcleos para que a população tenha acesso a aulas de diversas atividades esportivas. Ao todo, 300 mil pessoas serão beneficiadas.

O senhor está completando um ano à frente da Secretaria. Quais foram as maiores dificuldades sentidas neste período?
A maior dificuldade é saber que não se pode fazer tudo, porque nossos braços e pernas não alcançam. Por mim, reformaríamos todas as praças esportivas, estádios e complexos do estado, mas isso não é humanamente possível. Assim, a gente vai firmando parcerias e ajudando organizadores a captarem recursos através da legislação apropriada, a Lei de Incentivo ao Esporte, que beneficia empresas com dedução fiscal, para conseguir reformar coisas aqui, construir outras acolá.

E as suas maiores alegrias?
Minha maior alegria está ao ver o sorriso no rosto das crianças, principalmente quando elas praticam esportes em equipamentos bem conservados, onde um bom serviço é prestado. No fim de 2013, inauguramos campos de futebol na Rocinha e no Fumacê e você precisava ver a satisfação estampada na cara daqueles meninos e meninas quando a bola rolava em um espaço novinho em folha, com grama sintética usada nos campos dos grandes times mundiais. É uma alegria e tanto.

Lembra de algum momento especial, durante este período, no qual o senhor tenha de fato se emocionado? Quando e por quê? 
A reabertura do Maracanã foi um momento significativo, que marcou bastante. A não derrubada do Parque Aquático Julio de Lamare e do Complexo Esportivo Célio de Barros, a implantação do projeto Esporte RJ e a inauguração do Projeto Travessia no Batan e na Rocinha também me marcaram. Outro momento importante foi o da viagem que os meninos de comunidades carentes revelados pela Copa Zico 10 fizeram ao Qatar e à Austrália. Eles foram campeões de um torneio em Melbourne e jogaram contra o time treinado pelo Zico no país do Oriente Médio. Foi uma experiência e tanto para esses jovens.

O que ainda falta ser feito pelo desenvolvimento do Esporte e do Lazer no Rio de Janeiro?
Acho que o que faltava ser feito era oferecer à população de todo o estado, e não só da capital, mais espaços e maneiras de se exercitar, de transformar o esporte em um hábito saudável de vida, do cotidiano. Isso, sem falsa modéstia, acredito que a equipe da Secretaria de Esporte e Lazer vai conseguir proporcionar ao cidadão fluminense tão logo todos os mil núcleos do projeto Esporte RJ estejam em funcionamento. É uma proposta abrangente e ousada, pois está em curso o maior programa esportivo da América Latina. E ele beneficia crianças, jovens, idosos, pessoas com deficiência, enfim, a população como um todo. 

Dentro das áreas de Esporte e Lazer, quais vocações e potenciais o senhor destacaria no interior do Rio?
Temos grandes destaques em todo o estado e isso tem se refletido nas competições nacionais e internacionais onde nossos atletas se apresentam. O futebol é uma mania nacional e, por isso, somos parceiros da escolinha do jogador Léo Moura, que já abriu filiais no interior. Temos promessas muito interessantes nos esportes náuticos, de vela, na Região dos Lagos e na Costa Verde. Em Mangaratiba, mantemos uma escolinha de tênis, o Rio Tênis, que já beneficiou 60 atletas, alguns com excelentes resultados em competições internacionais. Somos um estado celeiro de bons atletas.

O que o senhor considera mais importante para o Rio de Janeiro hoje: investir em esporte de alto nível, investir em equipamentos de lazer e esporte ou investir no esporte como inclusão social? Por quê? 
O mais importante é haver investimento para tudo isso. No caso dos atletas de alto nível, teremos 50 dos mil núcleos do Esporte RJ voltados apenas para o desenvolvimento deles. Estamos também finalizando um novo edital de convocação para regularizar o programa Bolsa-Atleta, que já beneficiou centenas de esportistas fluminenses, mas que apresentava algumas incoerências. No caso da inclusão social, vamos realizar a segunda edição da Copa Zico 10, que revela grandes talentos do futebol em comunidades carentes – e, este ano, a Copa será estendida para comunidades do interior do estado. Estamos também reformando praças esportivas em 13 comunidades pacificadas da capital. É o Projeto Travessia. Para os equipamentos esportivos, devemos manter o pensamento nas gestões compartilhadas, consorciadas, onde sociedade e empresas tornam-se nossas grandes aliadas, como o que, hoje, acontece no Maracanã.


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Secretário de Esportes e Lazer fala sobre o ousado programa Esporte RJ e da volta dos Jogos Abertos do Interior