A bebida mais popular do Brasil tem um lugar de destaque no interior do Rio de Janeiro. No município de Quissamã, cidade do norte fluminense, a 40 minutos de Macaé, o Engenho São Miguel produz a premiada cachaça com o mesmo nome, desde 2010, com apenas 15 trabalhadores, entre a fábrica e o campo. A fazenda está localizada em um município que é uma espécie de ilha cercada por cana-de-açúcar, historicamente ligado a este cultivo.

Haroldo Carneiro da Silva é proprietário das terras que foram parte do Engenho Central de Quissamã. Sua família produz cana na cidade desde 1770 e ele já pertence à sétima geração de produtores. Após a morte do pai, Haroldo assumiu a missão, em 1990. “Nós produzíamos a cana para o Engenho Central de Quissamã. Com o seu fechamento em 2002, buscamos alternativa para continuar a atividade. Em 2010, fiz sociedade com um colega da faculdade de agronomia, Guilherme Vardiero, e fundamos o Novo Engenho São Miguel, para produzir cachaça, açúcar mascavo, melado e rapadura”, explica o proprietário.

A história que se conhece da região começa em 1633, quando chegaram a Quissamã sete capitães, que receberam a concessão das terras em troca da expulsão dos franceses do litoral do Rio de Janeiro. Durante a ocupação, encontraram um negro no meio dos índios, e ele apenas pronunciava a palavra Quissamã, nação africana de onde era natural, o que teria dado origem ao nome da cidade. Há 250 anos, se instalou na região o primeiro engenho de cana-de-açúcar da América Latina – o Engenho Central, constituído pela união de sete outros pequenos. O Engenho São Miguel era um dos sete, construído em 1858 pelo Visconde de Quissamã, tio-trisavô de Haroldo, o atual proprietário. Depois de 1929, vários fazendeiros se endividaram e perderam as suas terras em favor do Engenho Central de Quissamã, que monopolizou a economia local até à década de 70, mas fechou em 2002.

A cachaça de São Miguel já deu provas de que, além de história e tradição, tem também qualidade. Arrebatou vários prêmios a despeito do pouco tempo no mercado. E Haroldo se orgulha, em especial, de terem conquistado a Medalha de Ouro no Concurso Mundial de Bruxelas Brasil e a medalha de Ouro na Expo Cachaça de São Paulo, ambas em 2013. O destilador da São Miguel é de cobre martelado e a cachaça repousa em barris. A Cachaça São Miguel Prata é mais indicada para drinks como a caipirinha; já a São Miguel Bálsamo é armazenada em um barril desta madeira. A São Miguel Carvalho, com leve sabor de coco queimado, é armazenada em barris de carvalho americano e, por último, a São Miguel Cerejeira, premiada no concurso de Bruxelas, é a mais delicada e sofisticada.

Podem ser organizados grupos de visita à fazenda. “Recebemos principalmente grupos de Macaé, que abriga muitas empresas estrangeiras por causa do petróleo, além de grupos do Rio e do exterior. Já hospedamos uma turma de franceses e até o cônsul de França. Recebemos sempre com visita pré-agendada, para degustação das nossas cachaças no engenho e pernoite só para pequenos grupos, no máximo de 12 pessoas”, explica Haroldo. Os grupos restantes variam entre 10 a 40 pessoas,  para visitar o alambique e almoçar na sede centenária da fazenda. Ao lado da chef Luiza Mesquitela, Haroldo prepara, sob reserva prévia, um almoço com as receitas da família e ingredientes locais, além de caipirinhas feitas com as cachaças da São Miguel. Outras especialidades que podem ser provadas no lugar são o caldinho de tatuí com caipirinha de pitanga, o camarão empanado com farinha de mandioca e caipirinha de limão galego, o risoto de marisco com caipirinha de tangerina com gengibre e uma carne assada com caipirinha de limão, além das sobremesas doces da fazenda, como o doce de leite caseiro.


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Novo Engenho São Miguel, em Quissamã, produz cachaça artesanal premiada