Edson e Hudson
Ao descobrir que repórter que o entrevistaria chama-se Fabiano, o boa praça Edson não perde a piada e logo pergunta de César Menotti. Para o cantor que faz dupla com Hudson, nem tudo é piada, no entanto. Ele avalia que o mercado sertanejo vai muito bem, obrigado, mas deve ficar em alerta para não cair na “mesmice”.
“Eu enxergo de uma maneira muito positiva porque está falando bem da nossa música, mas preocupante ao mesmo tempo com relação à mesmice. A única coisa que eu peço para meus amigos é fazer sempre diferente, para ser um produto diferente, não ser uma fita Basf, que você grava, grava, grava e tem uma hora que ela não grava mais”, posiciona-se o músico.
Oriundo de uma época em que os sucessos sertanejos saiam do interior de São Paulo e de Goiás, hoje o eixo gravita em torno de Campo Grande e do interior do Paraná. Edson, no entanto, diz ser “o cara mais a favor do mundo dessa molecada”. E elogia Michel Teló, Gusttavo Lima, João Lucas e Marcelo, Jorge e Mateus.
Ao lado do irmão, de quem se separou em 2010 e voltou um ano depois, Edson está lançando o CD e DVD Faço um Circo Pra Você – Ao Vivo 2013 (Radar Records). O trabalho é inspirado na infância da dupla, cujos pais eram do meio circense.
Leia a entrevista, concedida por telefone, em que Edson fala sobre o aprendizado com circo para falar desde com quem está “mamano” a “caducano”, a personificação da canção popular perfeita em Esse Cara Sou Eu, do Rei Roberto Carlos.
Por que vocês resolveram falar do circo?
Ele vem ao encontro com nossas raízes, nós nascemos no circo e vivemos no circo durante um bom período. E a gente resolveu na volta da dupla resgatar o lance do circo, só que agora de uma maneira mais glamourosa, com toda tecnologia que tem. Porque na nossa época era aço.
De que maneira o circo foi importante para a formação de vocês?
Na nossa época era circo teatro, ia Os Trapalhões, as duplas da época, como Léo Canhoto & Robertinho, que é uma dupla que trabalhou com a gente. Tinha que fazer um drama junto com o show, entendeu? Se não, não conseguia levar público. Engraçado, né, é exatamente o que foi para televisão, que Os Trapalhões faziam, era o que acontecia no circo.
Então, para gente este contato e esta parceria, tendo pais que eram duo, cantava em dupla, meu pai era palhaço, trapezista, fazia números de circo. Vendo tudo isso, participando de algumas situações, a gente acabou aprendendo muito na porte teatral, na parte de postura de palco, como se colocar à frente de uma televisão e até como conversar com jornalista como você.
Isso te ajudou a se comunicar com um público que vai de criança a idoso?
Isso é de “mamano” a “caducano” (risos). É tipo assim, o mais importante que o circo ensinou pra gente é respeitar as pessoas. Independente de que elas são, se é o presidente do Brasil ou um andarilho.
Então, a gente tem princípios, como viemos de abaixo da linha da pobreza, nós crescemos vendo os dois lados da moeda e conhecemos o lado negro, que é quando a moeda se parte, que foi o lance da nossa separação, só que graças a Deus esta moeda, espiritualmente falando, foi grudada novamente, o elo se refez e a agora só a morte nos separa, se Deus quiser.
Como que você vê hoje o mercado sertanejo, o que você acha que está estourando, que vai estourar…
Cara, tem muita gente boa, viu? Vou falar pra você, rapaz, eu sou o cara mais a favor do mundo dessa molecada, sabe? Sou muito fã deles porque eles tem autenticidade, tem pessoas talentosas, sim. É lógico que no meio de um monte de coisa boa, tem umas porcarias também, é normal.
Só que o público não é bobo, o público sabe identificar. Mas eu sou muito fã do Michel Teló, do Gusttavo Lima. Sou fã do João Lucas e Marcelo, que é uma dupla que não para só no “eu quero tchu, eu quero tcha”. Eles vão além disso, eles cantam bem, eles tem raiz, eles vieram de boteco, eles cantaram em boteco. Então são pessoas que eu considero, que têm tudo para ficar dentro do mercado.
Agora, eu enxergo de uma maneira muito positiva porque está falando bem da nossa música, mas preocupante ao mesmo tempo com relação à mesmice. A única coisa que eu peço para meus amigos é fazer sempre diferente, para ser um produto diferente, não ser uma fita Basf, que você grava, grava, grava e tem uma hora que ela não grava mais.
Você está sendo bem político, de falar que admira a turma, mas vocês não se consideram sertanejo universitário… Vocês se consideram sertanejo autêntico?
Não, não. A gente é um sertanejo rock and roll, esta é a verdade. A gente teve uma influência muito grande do rock and roll e nós somos muito fortes também quando se fala de música romântica. As nossas músicas românticas são verdadeiros clássicos, que estouraram no Brasil inteiro.
Eu falo porque eu conheço. Quando eu falo de uma dupla como João Lucas e Marcelo eu não estou sendo político, estou sendo verdadeiro. Eles cantam muito mesm. Quando fala-se de Jorge e Mateus, cantam muito mesmo. O único problema é não ficar copiando a si próprio. Porque a cópia da cópia é um clone. E o último clone que fizeram, ele morreu, ele envelheceu. É a ovelha Dolly que não durou nem 10% da vida que ela tinha que durar.
O que você acha que uma canção popular deve ter pra fazer sucesso? Quais são os ingredientes que ela deve ter?
Posso resumir numa música? Esse Cara Sou Eu, se tiver que alguma música ter algum ingrediente diferente, coloca que tem que ter o Roberto Carlos.
Eu acho que o Roberto acertou tanto nessa música, que eu fui no show dele no Espaço das Américas, que é uma casa de um amigo meu, o Alejandro (Figueroa), que era dono do antigo Olympia e hoje é proprietário do Villa Country. E o Roberto estava sorrindo como uma criança quando as pessoas cantavam a música dele.
Isso prova que até o Rei tem dificuldade para acertar, na música certa, no repertório certo.
Então não tem fórmula?
Olha, eu diria que é 90% de trabalho e 10% de muita sorte.
Neste repertório novo de vocês, qual é a música que estão apostando mais agora?
Tem duas músicas. Pensando em Você, que é a de trabalho agora. Esta música está sendo trabalhada porque tem mais de dois milhões de views no YouTube. Naturalmente, sem aqueles fakes que a galera faz, que coloca lá 50 milhões e é uma mentira. É real, eu estou falando alguma besteira?
Não, isso acontece mesmo…
Mas acho que os órgãos responsáveis vão tomar providência. Voltando à música, além de ter esses views, Pensando em Você é uma música que identifica muito com a volta da nossa dupla porque ela é uma versão minha e do Hudson, então isso cola mais ainda. E as pessoas amam tanto que, graças a Deus, está entre as músicas mais tocadas e pedidas nas paradas de ônibus do Brasil (risos).
E a outra?
A outra, bicho, tem uma música que está se destacando, é um baião e chama Mulher de Porre é Mole. Ela é muito boa, ela fala assim “deixa ela beber, deixa elas ficar de porre, mulher de fogo é mole, mole, mole”, aí fala “mole pra beijar, mole pra acabar, mole pra curtir, mole pra ficar, mole pra pegar e com ela sumir no mundo, mole pra chamar a gente de vagabundo”.
É uma brincadeira, não é peculiar, a Maria da Penha não vai pegar no pé da gente por causa disso. E é uma música que caiu no agrado da galera de uma maneira tão grande que ela está rolando de imediato.
Tirando isso tem Rosana, que é um clássico do Toto, uma versão do meu irmão Hudson, mais parceiro, não lembro o nome. E também tem uma música dele Aleluia, que é abertura do DVD, uma versão do Sammy Haggar, que é o antigo vocalista do Van Hallen. Ele inclusive elogiou a versão, disse que adorou a versão do Edson e Hudson.
Como você espera que as pessoas saiam do seu show?
Feliz, descarregada e principalmente sendo mais fã. Porque a missão do artista é fazer um show para que a pessoa volte. O show em si que você está fazendo no momento é uma plantação de vários outros shows que vão acontecer no futuro da sua carreira.
Então, você tem que agradar muito, respeitar muito seu público. E fazer um puta show, porque ninguém gosta de ser enganado.