Conhecer e entender o mundo graças ao xadrez é o objetivo de um inovador projeto educativo criado pela professora Judit Polgár, que será colocado em prática em todas as escolas primárias da Hungria a partir de setembro.
“No programa não ensinamos xadrez, mas ensinamos com o xadrez”, explicou Judit, considerada uma das melhores enxadristas de todos os tempos, em entrevista concedida à Agência Efe em Budapeste.
Elaborado junto com sua irmã mais velha Zsófia, também professora da disciplina, o programa desenvolve as capacidades das crianças através de um sistema que une as regras do xadrez, da matemática, da linguagem e outras disciplinas básicas.
As crianças trabalham com tabuleiros nos quais através de diferentes casinhas se conhecem, por exemplo, “histórias sobre os reis ou as origens do jogo”, enquanto as peças que contam com valor numérico ajudam na aritmética, detalhou Judit.
O programa transmite uma forma complexa e criativa de pensar e constitui um sistema “que pode ser utilizado na vida cotidiana, por exemplo, no ensino de diferentes disciplinas”, disse.
“Pode se construir todo o programa educativo sobre estas bases, pois para as crianças é muito importante relacionar as coisas com o visual”, contou a enxadrista, que dirige a Fundação Judit Polgár, que administra o projeto.
No último ano letivo foi realizado um programa piloto em uma escola de Budapeste e, segundo a enxadrista de 36 anos, “tanto as crianças quanto os professores gostaram deste sistema”.
De fato, o papel do xadrez no ensino de crianças conta com o apoio do Parlamento Europeu desde 2012.
Apesar de o xadrez ser o centro de sua vida desde seus primeiros anos, Judit disse que com seus próprios filhos – um menino de nove anos e uma menina de sete – não seguiu o exemplo de seus pais.
Aos cinco anos de idade Judit já dominava as regras do xadrez e, segundo lembra, viveu junto com suas duas irmãs “uma vida excepcional, focada no xadrez”.
Como parte do chamado “Experimento Polgár”, as três irmãs não frequentaram a escola normal, mas tiveram uma educação informal em sua casa, e depois faziam os exames correspondentes ao final de curso.
Nestes anos, Judit aprendeu, além do húngaro natal, esperanto, espanhol, inglês e russo.
Esta vida – tão diferente da dos demais jovens húngaros da época comunista – mostrou seus primeiros resultados quando Judit ganhou aos nove anos sua primeira medalha de ouro em um torneio internacional.
“Meus pais nos educaram pensando que cada criança saudável pode se transformar em uma pessoa excepcional, em um gênio”, lembrou Judit, número um do xadrez feminino desde 1989.
Depois de 25 anos no topo deste esporte, a enxadrista se prepara atualmente para um torneio no final de junho em Genebra. Lá, irá enfrentar, entre outros, jogadores como Vladimir Kramnik, Hikaru Nakamura, Etienne Bacrot, Romain Edouard e também a russa Alexandra Kosteniuk.
Judit considera que não existe diferença alguma entre homens e mulheres no xadrez atual.
“As mulheres sabem jogar como os homens e meus resultados demonstraram isso”, declarou, destacando que desde cedo ela participava de torneios masculinos.
Em sua carreira, Judit derrotou vários mitos deste esporte como Anatoli Karpov, Boris Spassky e Garry Kasparov, entre muitos outros.
Seus títulos e conquistas são quase intermináveis: aos 15 anos se tornou a “mestre” mais jovem da história, recebeu sete “Oscars” do xadrez, e foi escolhida como “a melhor enxadrista do século”.
Hoje a família “está em primeiro plano” para Judit Polgár e junto a seu marido, um veterinário, considera que “o mais importante” é que seus filhos conheçam idiomas, como o inglês e o espanhol. O mais importante de tudo, destacou a enxadrista, é que as crianças sejam felizes.