O estádio que o Brasil enfrenta Camarões e será palco de muitas disputas nesta Copa do Mundo, poderia não ter mais o nome de Mané Garrincha, se Elza Soares, que completa 76 anos, nesta segunda-feira (23), não entrasse em uma briga feia com o governador do Distrito Federal Agnelo Queiroz (PT). Ele queria trocar a alcunha da arena, mas a cantora, que foi mulher do jogador, soltou a voz poderosa e indignada e o político voltou atrás. Mesmo passado mais de 30 anos da morte de Garrincha e eles terem se separado em 1982, a cantora ainda cuida do legado de um gênio do futebol que até hoje parece não ter recebido seu devido valor.
Parece uma feliz coincidência hoje as atenções estarem voltadas ao estádio que tem o nome do ex-marido da cantora, no mesmo dia que completa mais um aniversário, um presente para alguém que luta até hoje pela memória do jogador. Entretanto a relação dos dois nunca foi fácil.
Eles se conheceram quando ela tinha 25 anos e foi conhecer a seleção brasileira antes de embarcarem para o Chile, na Copa de 1962. Ele falou que achava ela parecida com Billie Holiday e deu um disco da cantora de jazz para ela. Logo começaram a ter um caso e Garrincha, então casado, deixou a mulher para viver com a cantora. Foi um escândalo.
O machismo dos anos 60 (não mudou muito nos dias de hoje) fez com que Elza fosse hostilizada. Xingavam a cantora na rua, jogavam pedra em frente a sua casa. Os amigos detestavam que ela ia aos bares pedir para não darem bebida para o marido, afinal ele era alcoólatra.
Apesar de toda a rejeição, eles tiveram um filho nos anos 70 para orgulho do jogador. Foi também um período que Elza deixou durante alguns períodos a carreira de lado para cuidar do marido. “Protegia o Mané e esquecia de mim. Mané era uma criança, um passarinho, e precisava de mais cuidado do que eu. Parei com tudo. Até de andar na rua, as pessoas queriam me pegar, me matar”, disse Elza, no ano passado, em entrevista para o Portal Fórum.
Mesmo assim, muitos apontavam que a decadência do jogador era culpa de Elza Soares. Com tantas acusações, a barra foi ficando pesada. E eles se separaram em 1892. Um ano depois, Garrincha morria vítima de cirrose hepática.
Entretanto, a relação amorosa entre eles dura até hoje. Em sua conta no Facebook, a cantora escreveu, recentemente, sobre aquele que foi considerado o melhor do mundo na Copa de 62: “Lembro do futebol feliz, daquele homem alegre, que entrava em campo e acabava com qualquer tristeza e monotonia”. Elza, dentro de suas possibilidades e maneiras, tenta preservar a memória de um dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos. Ato mais amoroso não existe.
Abaixo, vídeo de Elza visitando o atelier que estava sendo feita uma estátua de Garrincha: