Santiago Nazarian lança no final de abril, pela editora Record, Biofobia, seu primeiro romance adulto em cinco anos. O escritor, que despontou em 2003 com o premiado Olívio, convidou amigos, contemporâneos e colaboradores para um trailer promocional do livro, que Virgula Diversão divulga com exclusividade (veja abaixo).

Com direção de Nicolas Graves, o vídeo conta com participações como a do músico Thiago Pethit e dos escritores Marcelino Freire e Lourenço Mutarelli. “Felizmente tenho muitos amigos talentosos e generosos, e pensei quais poderiam se comunicar com o universo do livro”, explica.

Na obra, na qual promete “não pegar leve”, Santiago reafirma suas marcas registradas, entre elas os elementos de terror e as referências do universo pop. Segundo o autor, traz também angústias da sua geração, como a chegada aos 40 e as crises profissionais da meia-idade. “A euforia das primeiras conquistas passou e você pensa: “E agora? É só isso?””, questiona.

Santiago também é voz crítica quando o assunto é o mercado editorial brasileiro. “Não há espaço para literatura no Brasil, para começar, é muito restrito. Então costumo dizer que ou você é um escritor sério ou você é um escritor ruim, ou seja, ou você é o acadêmico jabutado ou é o comercial descartável”, afirma.

Leia a entrevista completa após o pulo:

 <a href=”http://mais.uol.com.br/view/14980138″>Assista ao trailer do novo livro de Santiago Nazarian, Biofobia!</a>

Virgula: Como foi a volta ao romance adulto após se aventurar pelo juvenil (seu último laçamento foi Garotos Malditos, de 2012)?

Santiago Nazarian: Foi natural. Na verdade, fazer um romance juvenil como o anterior é que foi o grande desafio, porque já é um público bem distinto, afastado da minha realidade; certamente foi o livro mais difícil que escrevi. Em BIOFOBIA eu pude voltar à questões pessoais minhas e da minha geração. Então encontrei esse momento de crise de meia idade, a aproximação dos 40. A inspiração veio não só da minha carreira, mas de tantos colegas, amigos e mesmo ídolos que chegam nesse momento da vida, que a euforia das primeiras conquistas passou e você pensa: “E agora? É só isso?”

V: Você trouxe algum elemento do juvenil para esse livro?

SN: Especificamente juvenil não, mas claro que tem o meu universo pop e o flerte com o terror que pode interessar aos mais jovens. Só não quis pegar leve. É um livro que trata do lado mais negativo e cruel da vida. A natureza é madrasta. O amor não é existe. A vida é terrível. Eu pessoalmente não concordo com a visão de tudo o que está lá, é a visão de um protagonista em crise extrema, ainda que com um humor tragicômico. Acho importante trazer essa visão, porque o discurso oficial, mesmo na literatura, é sempre muito bonitinho, comportadinho. “O mundo precisa de amor.” Bem, o mundo precisa de ÓDIO também. Se há tantos livros que flertam com a autoajuda, este flerta com a autodestruição.

V: Quanto tempo você levou para escrever o livro? quando ele foi escrito?

SN: Seis meses, da primeira à última versão, entregue no final do ano passado. O difícil foi chegar nele. Passei uns bons anos rascunhando romances, jogando tudo fora… Não tinha mais ideia do que escrever, para quem escrever, se tinha algo para dizer… Quando decidi abraçar a crise, foi fácil.

V: Há espaço para uma literatura mais pop no Brasil? Os editores e a crítica levam a sério?

SN: Não há espaço para literatura no Brasil, para começar, é muito restrito. Então costumo dizer que ou você é um escritor sério ou você é um escritor ruim, ou seja, ou você é o acadêmico jabutado ou é o comercial descartável. Minha literatura não se encaixa exatamente em nenhum desses perfis; eu poderia dizer que é uma literatura alternativa, mas se eu não brigar para estar junto ao primeiro time, para dialogar com a academia e aquecer as vendas, eu não sobrevivo, nem como autor nem como locatário. Não posso dizer que não tive certo sucesso – tenho meu espaço, geralmente meus livros são bem aceitos pela crítica, cheguei até ser leitura de vestibular. Mas é sempre nesse terreno alternativo, numa brecha. Eu trouxe muita dessa discussão para o próprio livro, com um protagonista que é um roqueiro alternativo, num país em que ou se é MPB fodão ou é hit descartável do momento. Achei que tinha bons paralelos com minha carreira de escritor; e é um alívio não trazer MAIS UM livro protagonizado por um escritor.

V: Você costuma se queixar da ausência de crítica literária na imprensa. Sente alguma mudança nesse sentido?

SN: Não. Acho que os veículos oficiais dão cada vez menos espaço para isso. Eu mesmo assino resenhas para [o jornal] Folha de S. Paulo, e é um espaço bem restrito. Tem um lado positivo de proliferação de blogs, vlogs, muito moleque aí resenhando os livros que lê. Isso descentraliza o foco da discussão da literatura dita “séria”; a literatura fantástica e de gênero está ganhando cada vez mais espaço no Brasil por causa dessa molecada. Acho que precisamos mostrar que literatura não é “só isso” ou “só aquilo”.

V: O que motivou a escolha de cada um dos personagens do trailer?

SN: A direção foi de um grande amigo, produtor de TV, Nicolas Graves, que já dirigiu diversos videoclipes. A escolha dos personagens também foi pelo meu círculo de amizades – felizmente tenho muitos amigos talentosos e generosos, e pensei quais poderiam se comunicar com o universo do livro, o músico (como Thiago Pethit), a diva underground (Cléo De Páris) e escritores que admiro e que se comunicam com minha obra, Marcelino Freire, Andrea del Fuego, Lourenço Mutarelli. Foi também uma forma de dizer que estou de volta, com sangue nos olhos. Preparem-se para o pior.


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"Não há espaço para literatura pop no Brasil", diz Santiago Nazarian, que lança novo livro