Missa Negra


Créditos: Alexandre Galvão

Com peso, cinismo, cantando sobre violência, imigração, tráfico, guerrilhas, política, e com uma bela pitada de comicidade, o Brujeria se apresentou na noite deste domingo (09) na Clash Club, na Barra Funda, zona oeste de São Paulo, e que ficou com o seu andar térreo praticamente lotado.

Como já é de costume, máscaras enfeitavam os rostos dos seis integrantes do grupo que, logicamente, usa pseudônimos como Juan Brujo, El Fantasma, El Cynico e El Hongo. Algumas pessoas na plateia imitavam a prática, em justa homenagem ao grupo que colocou o México no mapa do metal mundial.

A abertura ficou da fodástica banda Test, formada só, exclusivamente, e bons o bastante João Kombi e Thiago Barata. O duo começou a fazer sucesso por estacionar uma perua Kombi em portas de casas de shows, com aparelhagem própria, e tocar suas canções originais para quem chegou antes ou estava na fila, esperando para ver Slayer, Megadeth, Metallica e bandas do tipo. No último show do Brujeria no Brasil, em abril de 2012, por exemplo, lá estavam eles em frente ao Hangar 110.

O Test (foto abaixo) levantou muito bem a galera, com um thrash / grindcore pesadíssimo. As luzes mal apagaram e João dedilhava seu instrumento. Já se notava que Thiago usa as baquetas ao contrário, e precisa arrumar o instrumento a cada nova música tocada, provavelmente por causa da violência que coloca em seu material. Com letras em português, foram poucas as pausas na apresentação que, já que os integrantes ficam frente a frente, não olham para o público. O vocalista só olhou “para a frente” aos 20 minutos de show, e olhou pela segunda vez 10 minutos depois. Não teve despedida. Os próprios músicos foram quem retiraram os instrumentos do palco, com ajuda de mais duas pessoas.

Quando o Brujeria entrou no palco, o público foi ao delírio coletivo, que virou em seguida uma roda enorme de mosh. Ação esta que se seguiu dutante praticamente o tempo que o grupo esteve no palco, cerca de 1h15.

Ninguém se importou que a banda não estava tocando certinho algumas canções. O vocalista Juan Brujo perdeu o tempo em umas duas situações. Mas o jeito cínico de cantar e falar com o público mostra que talvez os erros tenham sido propositais.

O Brujeria aborda em suas letras tudo citado no primeiro parágrafo. Leva bem a sério a sua postura que não deixa nada ser levado realmente a sério, e tem uma horda de fãs no mundo todo. Banda mexicana com integrantes que parecem ser traficantes ou guerrilheiros? Sim, é isso, e muito mais.

Teve até comentário sobre a vinda de médicos cubanos para trabalharem no Brasil, medida do governo para melhorar a saúde e que foi bastante criticada pela população. Mas a lembrança do fato foi só uma chamada para o grito de guerra Anti-Castro, que é uma crítica ao ex-líder de Cuba, Fidel Castro.

Vários integrantes de conjuntos respeitados no mundo do metal já tocaram no Brujeria. Seus três álbuns de estúdio já são clássicos – Matando Güeros (1993), Raza Odiada (1995) e Brujerízmo (2000) – com um novo por vir e que teve algumas canções apresentadas nesta noite, e muito bem recebidas.

O som derretia o ambiente. Pesadíssimo. Em alguns momentos, o baixista El Cynico jogava garrafas d’água para a plateia. Mas as garrafinhas subiam rapidamente para perto do teto, e não conseguia diminuir a temperatura, mesmo molhando vários malucos, sem ninguém se importar.

Claro que sons mais conhecidos eram acompanhados em bom portunhol pela plateia, como Matando Güeros, División Del Norte, Marcha de Odio e as inigualáveis Brujerízmo e Consejos Narcos, mas não havia canção que não causasse comoção. Comoção física mesmo.

O segundo vocalista – El Fantasma – arriscava falar em português, mas não se saía melhor que o público, que gritava “Pito Wilson, te quere ver morto” em uma das clássicas.

Não importa, o importante foi a diversão de público e banda, coisa que não faltou, até quando Juan Brujo brincou com a data, dizendo que aquele show era uma simples missa de domingo.

E teve promessa de retorno.

Playlist do Brujeria em São Paulo:

Verga Del Brujo
El Desmadre
Colas de Rata
No Aceptan Imitaciones
Marcha de Odio
Hechando Chingasos
Ángel de la Frontera
La Migra
Pocho Aztlan
Sida de la Mente
Satongo
Cuiden a los Niños
Brujerízmo
Anti-Castro
Revolución
La Ley de Plomo
Cruza la Frontera
División del Norte
Consejos Narcos
Pito Wilson
Matando Güeros

Veja mais fotos na galeria acima!


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Brujeria cria clima de guerrilha, toca clássicos e apresenta músicas novas em SP