HAB é um quarteto liderado pelo guitarrista Guilherme Valério
Formado por membros de bandas como Hurtmold, Siba, M.Takara3 e Guizado, HAB é o quarteto liderado pelo guitarrista Guilherme Valério. “O desafio é experimentar, pagar pra ver, se rolar vai até o fim e, se não rolar, tirar algum aprendizado disso também”, afirma o músico, que recusa a palavra “cena” para designar sua turma, que há anos atua na vanguarda da música instrumental paulistana.
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HAB by DESMONTA
“O fator mais interessante da música é aproximar as pessoas e isso é uma esfera infinita de experiências. Quando se junta diferentes maneiras de olhar o mundo, de sentir e de interpretar tudo isso com seu instrumento, a música se torna algo mais abrangente, a gente vai se descobrindo melhor como humano e artista”, afirma o músico, em entrevista ao Virgula Música.
Você pertence a uma turma que tem muitos projetos, isso é uma maneira de evitar o culto à personalidade, de se desafiar a fazer coisas novas?
Creio que essa necessidade de fazer diversos projetos está relacionada com uma busca interior e parte do entendimento de que existem muitos caminhos a seguir. Cada indivíduo pode descobrir muito ao longo do processo criativo e, às vezes, apenas uma banda ou um projeto pode não ser satisfatório intelectualmente e espiritualmente. Na minha cabeça não existe esse lance de evitar o culto à personalidade, o que existe são personalidades interessadas em diversos tipos de música e assuntos.
O fator mais interessante da música é aproximar as pessoas e isso é uma esfera infinita de experiências. Quando se junta diferentes maneiras de olhar o mundo, de sentir e de interpretar tudo isso com seu instrumento, a música se torna algo mais abrangente, a gente vai se descobrindo melhor como humano e artista. O desafio é experimentar, pagar pra ver, se rolar vai até o fim e, se não rolar, tirar algum aprendizado disso também.
Que outros nomes da nova cena admira e indica?
Não é uma “cena” tão nova assim e nem sei se chamaria de “cena”, acho esse termo datado pros dias de hoje, além de exclusivista. Tem muita gente produzindo, tocando, e acho que alguns se identificam mais com uns do que com outros, mas também acho que hoje em dia, na música, tá todo mundo mais aberto à troca de experiências. Acho que essa “cena” a qual você se refere é mais uma turma de amigos, que se conhece e frequenta o mesmo circuito desde os anos 90 e isso acaba nos tornando mais próximos. Mas pra citar alguns trabalhos, ultimamente tenho curtido o Response Pirituba, projeto bem legal do nosso baixista Marcos Gerez. Mauricio Takara, que sempre se desafia a fazer algo novo. Tem o Guizado, MDM duo, Henrique Diaz, Thomas Rohrer é um cara que se encaixa em diferentes contextos na música. Juçara Marçal e Sombra lançaram discos muito bons recentemente.
Vê pontos em comum entre esses nomes e o HAB, quais?
O ponto em comum entre esses nomes e o HAB acho que é a maneira de misturar sonoridades, de experimentar, sem se prender em um estilo só. A busca por identidade é um objetivo claro e comum também. E acho que principalmente a liberdade estética, não há alguém além dos próprios envolvidos na música dizendo o que temos que fazer conceitualmente.
Você também desenha? Como que isso se relaciona com a música?
Acho que meus desenhos se relacionam de uma maneira bem nítida com a música que toco, são formas inspiradas na natureza, vão se moldando em momentos de vibrações em que estou mais conectado comigo mesmo. As ilustrações do encarte por exemplo foram feitas em um momento em que eu estava bem conectado com a natureza, com o mar e por consequência comigo mesmo. A música emerge de uma maneira parecida, tento me concentrar no que é mais verdadeiro no momento, a única coisa que diz sim para o que eu faço é a paixão, quando rola esse sentimento é quando a criação valeu a pena. Nas ilustrações as repetições de padrões também estão presentes assim como na música.
O disco foi feito usando uma técnica chamada impressão em risografia, explique o que é, por favor e fale sobre essa maneira de se relacionar com o público, com uma tiragem a 120 cópias, isso é uma forma de resgatar a “aura” da música?
As ilustrações foram impressas nessa máquina, um tipo de impressora que não é mais fabricada. Foi uma indicação do Brunno Balco, da Acerca, que fez a diagramação do encarte. É uma técnica bastante usada na impressão de fanzines. Fazer 120 cópias foi uma ideia que tivemos junto a Desmonta Discos, selo independente que lançou o álbum, pra divulgar e agendar shows, um primeiro documento, quase como um cartão de visita da banda. Mas temos planos de lançar o material em vinil pra completar essa expansão, nós e nosso público temos preferido o vinil pela qualidade de som e como objeto de arte completo.