Foi culpa de Ronaldo, e lá estava eu há pouco menos de um ano conhecendo o pôquer. O Fenômeno virava novo “garoto-propaganda” da PokerStars (maior site de pôquer on-line do mundo) e eu ia à entrevista coletiva da novidade, porém, querendo saber o que o pentacampeão pensava a respeito da Copa do Mundo, assim como outros profissionais de imprensa que ali estavam. Naquele dia uma semente foi plantada.

Ronaldo foi o Mister Astley da minha intentona, e eu, Aleksei Ivanovitch, protagonista do clássico O Jogador, de Fiodor Dostoiévski. Lembrando um pouco do anti-herói que se perde na jogatina aos conselhos do tutor, fui aprender a jogar na nona edição do Brazilian Series of Poker, o BSOP, campeonato da PokerStars aqui no nosso país.

Sérgio Prado (foto abaixo), comentarista do esporte da mente na ESPN, estava lá para ensinar a alguns leigos da imprensa como se joga, e os meus olhos e ouvidos eram atentos a todos os ensinamentos.

Já havia aprendido em duas ocasiões, com amigos, há alguns anos. Nunca fui à frente, apesar de lembrar com boas reticências que venci todas as mãos que disputei. Gostei. Mas sentia que não seria páreo para ninguém devido à indiferença de quem me ensinou em tempos passados. Nada pessoal.

Dessa vez eu estava num evento oficial. Vi ali uma pessoa respeitada no meio olhando nos meus olhos e frisando que um valete e um oito na mão é um jogo ruim. Pensei muito sobre as dicas.

No local estavam algumas celebridades, como o piloto de Stock Car, Thiago Camilo, o ex-nadador Fernando Scherer, a revelação do pôquer, Nicolau Villa-Lobos, o campeão mundial de pôquer André Akkari, e um dos ícones do evento, Edu Sequela, que joga o famoso “Pôquer de Rua”, um figuraça (vide vídeo abaixo).

“Posição é fundamental. É uma coisa que, assim, é básico pra gente que joga, e pra quem não tem a prática, as pessoas nunca lembram disso. É muito importante no pôquer você saber o que está acontecendo. Quanto mais você tem informações, melhor você usa o que tem na mão. É um jogo em que as informações vão aparecendo. Não é que nem o xadrez, que as informações estão todas ali na sua frente. Então, se você for adquirindo mais informação, vai tendo mais vantagens. E você ser o último a falar (jogar ou dar um lance de aposta) é muita vantagem. Então, posição é muito importante. Muito, muito mesmo”, foi a primeira coisa que ouvi de Prado e que lembrei ao começar a jogar.

Ainda com Aleksei Ivanovitch em mente, sempre me vi como suscetível às apostas. Não que tenha medo da perdição, mas ler o clássico, muito fatalista, me colocou mais “pilha” e sempre lembro do sábio, porém louco, escritor russo, quando teimo em ir a algum lado como este.

Assim, sentei ao lado do crupiê, que depois descobri que é melhor chamar de dealer. Sentei logo ao lado direito, imaginando que o jogo começaria do lado esquerdo do mesmo e eu teria boa visão do jogo. Funcionou. Além disso, abusando da minha inexperiência, me dei ao luxo de perguntar ao extraordinariamente habilidoso profissional das cartas algumas coisas sobre o jogo.

Aceitei (entrei na partida, cobrindo a aposta inicial) a primeira rodada, mas não ganhei nada. Foldei a segunda (que é quando uma pessoa dá fold, ciente das cartas ruins, e não aceita ir naquela rodada). Na terceira, já tive o duelo mais emocionante até então da minha carreira no pôquer. Sobrara no lance somente eu e Ciro Hamen, editor de mídias sociais do Portal Virgula, que me acompanhou na aventura. Aumentamos a aposta, mas minhas cartas eram melhores. Foi justamente um valete e um oito, e fiz dois pares juntando com as figuras da mesa. Senti-me muito bem.

“E essa coisa de agressividade também. É que as pessoas confundem agressividade com loucura. Tem que ser essa coisa. A hora que você vai pro jogo, mostre que você está buscando aquilo ali. Mostre firmeza na sua jogada.”

Mais palavras lembradas de Sérgio Prado e que funcionaram.

Resisti a muitas tentações, dei fold diversas vezes. E, entre onze pessoas, fui o quarto a cair. Nada mal. Tiveram momentos de muita alegria.

“Você tem que ir pra frente e mostrar que você está disposto a ganhar aquelas fichas que estão ali no meio. Se você for muito passivo, as pessoas vão acabar te engolindo. O principal mesmo é você ter noção dos seus adversários também. Acho que o pôquer é um jogo de pessoas.”

Foi o meu erro, já que não estudei bem os rivais. Perdi com uma dama e um três, se não me engano, para uma moça que tinha um par de dois, a carta mais baixa do jogo. Só que calhou de a última escolhida no flop (três cartas da comunidade, colocadas pelo dealer a cada rodada que passa, com a face virada para cima) ser também um dois (ela fez uma trinca, que é maior que qualquer par), que me tirou algumas centenas em fichas e proporcionou o meu primeiro dissabor ali.

Mas ver todos na mesa torcendo, sentindo o jogo “apertando”, a minha “rival” que não olhava para os meus olhos, eu tentando disfarçar a explosão dentro de mim… Sensações que só vivi naquele dia.

“Você vai aprender que, por exemplo, se ele (um jogador) sempre é bem contido, só joga com muita carta (mão boa). Ele (outro jogador), ele é muito agressivo, vai pra cima sempre. O que isso significa? Que a maioria das vezes ele (este último) vai estar blefando. Aqui (o primeiro jogador), na maioria das vezes, vai estar com um jogo muito forte, quando ele for. Então, a gente perceber como é o comportamento do adversário na mesa é muito importante.”

E foi assim. Fui bem mais contido no restante. Já eram quase duas horas jogando. Tive uma rodada sensacional na qual faturei milhares em fichas.

Na mesa, não houve blefes. Imagino que, para blefar, muita experiência tem que ser conquistada.

A saída do jogo nem foi tão importante. Estar ali, em mesas profissionais, com gente que sabia jogar, com um crupiê (dealer) profissional, fez-me imaginar muito mais. O pano verde é perigoso, mas transmite sensações únicas. Você tem que se conhecer. Você acaba se conhecendo. Se quiser testar os próprios limites, aquele talvez não seja o melhor lugar, pois tem-se muito a perder. Mas se estiver ciente de até onde pode ir, a diversão é garantida.

E, diferentemente do clássico de Dostoiévski, fui para casa prometendo instalar alguns aplicativos de pôquer no meu celular, ainda tenho a minha vida sob controle, e planejando manter tudo assim.


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Pôquer: A primeira experiência de um repórter no pano verde