<br>
Os quase 30 mil torcedores que foram ao Morumbi na noite de ontem esperavam ansiosamente que Adriano respondesse em campo a todas as críticas dirigidas a ele durante a semana. Mas quem parecia mais incomodado com tudo isso era o próprio jogador.

Sob aplausos, o time do São Paulo entrou no gramado para enfrentar o Audax Italiano-CHI, pela Taça Libertadores, e logo as crianças das categorias de base rodearam o Imperador. Nem o ídolo Rogério Ceni foi páreo para o carisma de Adriano com a torcida mirim.

Enquanto os jogadores se aqueciam, a poucos minutos do apito inicial, os torcedores do Tricolor gritaram o nome de alguns atletas, como Rogério Ceni, Zé Luís, André Dias, Miranda, Hernanes e Adriano. Só o atacante, no entanto, não agradeceu.

O nervosismo de Adriano era visível. Só nos 180 segundos iniciais de jogo, o atacante arrumou por 6 vezes o meião. Algo incomodava o Imperador. Algo que parecia atrapalhá-lo mais do que deveria, mesmo que a todo momento ele se abaixasse para consertar o que estava errado.

Adriano destoava de seus companheiros de equipe, e não era só pelas chuteiras laranjas. O atacante tinha um zagueiro chileno o tempo todo em sua sombra. Esperto, começou a ir até o meio-campo, servir de parede para as jogadas e, quando isso dava certo, correr para área. Por três vezes, o jogador assustou o fraco goleiro do Audax.

No final da etapa inicial, foi dele a chance mais clara de gol: Adriano se livrou da marcação na entrada da área e chutou forte; a bola passou rente à trave esquerda, o que levou o atacante a dar um soco no chão, inconformado com o preciosismo da bola, mas deixou o torcedor são-paulino com a sensação de que a noite poderia trazer alegrias. E que eram grandes as chances delas virem daquelas chuteiras laranjas.

Começo de segundo tempo. Jogo morno, São Paulo não se encaixa e o torcedor começa a perder a paciência. Muricy Ramalho coloca Éder Luís um pouco mais próximo de Borges a Adriano, deixando Jorge Wagner mais recuado. Mesmo assim, o futebol tricolor não flui e, numa bobeada geral, o Audax abre o placar: 1 a 0. Adriano se irrita com Richarlyson; o lateral cansou de perder bolas na esquerda e fazer cruzamentos tortos para a área.

Eu já sabia, alguns torcedores devem ter pensado. Esse time não presta, pensaram outros. Nem o Adriano dá jeito, disse um. Nem o Adriano está jogando bola, argumentou outro. O Imperador, porém, só conseguia ouvir a torcida cantando, apoiando e, aos poucos, fazendo coro de “É Aloísio!”.

O ex-atacante do Atlético-PR entra em campo, mas Adriano não deixa o jogo. Muricy sempre disse confiar na dupla de grandalhões, e é dela que sai um dos gols mais comemorados pelo ex-atacante da Inter de Milão. O empate veio em boa hora para o São Paulo, mas o gol de cabeça não poderia ter sido marcado em melhor momento para Adriano.

Na comemoração, o jogador balançava a camisa e olhava para a torcida com cara de quem pergunta: “É isso que vocês querem?”. Tal qual um gladiador da Roma Antiga, que gosta de ver a multidão explodindo a cada ação sua.

Mais confiante, Adriano tenta por duas vezes o gol, sem sucesso. Ainda havia o nervosismo, mesmo que pequeno, de que aquela noite ficasse marcada negativamente, que ‘Adriano marcou, mas jogou mal’, ‘fez o seu, mas não decidiu’. Talvez por isso, em uma cobrança de escanteio, Adriano não subiu para cabecear: estava arrumando o meião, que continuava a lhe incomodar.

Mas bastou 10 minutos para Adriano tomar a “arena” Morumbi para si. Com faro de artilheiro, daqueles que aparece na hora certa para definir e acabar com o jogo, Adriano aproveitou rebote de um chute dado por Hernanes e virou a partida, para delírio da torcida e dele mesmo. A comemoração foi em conjunto, com todos os jogadores titulares e reservas se amontoando em volta do Imperador.

A virada aconteceu aos 40 minutos. Pode ser que não tenha dado tempo, mas o fato é que o meião não incomodou mais Adriano.


int(1)

Crônica: Adriano, enfim, não precisa mais abaixar o meião