A terceira edição da ArtRio começa nesta quinta-feira (5) com mais espaço, menos galerias e muitas obras de arte, cujos preços partem de R$ 2 mil e podem chegar à cifra de milhões.
De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, foi vendida nessa quarta-feira (4) a obra mais cara da feira, um móbile de 1945 do artista norte-americano Alexander Calder, por US$ 18 milhões. A venda foi realizada pela galeria Pace, que representa o Calder no evento. A reportagem do jornal acrescenta ainda que a obra, muito rara, ficou na casa do artista até sua morte, em 1976.
São 20 mil metros distribuídos em cinco armazéns da Zona Portuária do Rio de Janeiro. Neles, 106 galerias (61 nacionais e 45 internacionais) exibem 7 mil obras de seu acervo e também peças produzidas especialmente para a feira de artes.
“As artes plásticas são o que há de mais revolucionário nos últimos anos. Vamos mal no Brasil em várias áreas da produção cultural, mas nas artes temos tido um desenvolvimento impressionante”, opina o ator José Wilker, que chegou cedo ao evento na quarta-feira (4), dia de visitação exclusiva para convidados.
Encantado com as obras do estande da Pinakotheke – entre outras, telas de Guignard, Anita Malfatti, Manabu Mabe e, em especial, uma sem título de Oscar Niemeyer retratando uma soturna Brasília, pouco depois do golpe militar de 1964 – Wilker confessou ser não apenas colecionador, mas um “acumulador”. Guilhermina Guinle, Antonio Grassi, Arnaldo Antunes, Cissa Guimarães e Alexia Deschamps foram outros famosos que circularam por lá nesse primeiro dia.
Prevê-se que 60 mil pessoas transitem no local nos quatro dias de evento. “A ArtRio quer mostrar que a arte não é inacessível e é um investimento que vale a pena”, diz Brenda Valansi, uma das sócias ao lado de Alexandre Accioly, Luiz Calainho e Elisangela Valadares.
Calainho explica que, ao pensarem em criar o evento, há três anos, já tinham o objetivo de ir além de uma feira de artes: “Nós queremos um movimento em prol da arte. Temos um portal, aplicativos, relacionamento com museus e instituições durante todo o ano. Quando chega setembro, isso tudo se tangibiliza na ArtRio”.
O empresário ressalta que ainda há dois grandes preconceitos em relação às artes plásticas no Brasil: um, o de que a pessoa precisa ser profunda conhecedora para entender uma obra – e o outro, que é preciso ser milionário para comprar uma. “A arte não é fim, é meio! E aqui encontramos muitas obras de qualidade de novos artistas a preços bem razoáveis. A ArtRio está desconstruindo essas duas pontas e começando a formar novos colecionadores”, orgulha-se. Colecionador “contumaz”, Calainho disse já estar namorando algumas obras, uma de Tunga em particular, mas que só “iria às compras” nesta quinta-feira.
Obras acessíveis
O Armazém 2, ocupado pelo Programa Vista, reúne as galerias com menos de 10 anos de atividades, com artistas iniciantes e obras acessíveis. “Os galeristas estão muito satisfeitos com o novo espaço. Uma feira carioca tem que ter esse frescor”, diz Brenda.
Uma das participantes, a paulista Choque Cultural, tem no acervo obras resultantes de pesquisa e experimentação de jovens artistas como Daniel Melin, Tec, Znort e Rafael Silveira. “Temos clientes que são colecionadores de adesivos de R$ 1,00. Estamos junto desse público e de nossos artistas para mostrar que o legal é o que está por trás da obra”.
Falando em proximidade com o público, o estande que reúne a Escola de Artes Visuais do Parque Lage e a Galeria Mul.ti.plo Espaço Arte montou um ateliê de gravura. A cada dia, será feita uma tiragem de apenas 34 trabalhos, que serão assinados, a partir das 18h, pelos artistas convidados Iole de Freitas, Victor Arruda, Daniel Senise e Carlos Vergara.
Cifras milionárias
Se as novas galerias estão chamando a atenção pelos trabalhos criativos e acessíveis financeiramente, as que ocupam os maiores espaços, de 120 m², praticamente hipnotizam as pessoas. Afinal, a sensação é de se estar num museu internacional. No Pavilhão 4, a novaiorquina Pace, em sua primeira participação na ArtRio, reuniu apenas trabalhos do escultor e pintor Alexander Calder.
A escultura Untitled (1945) é cotada como a obra mais cara do evento e, mesmo assim, ainda na tarde do primeiro dia de exibição, já estava vendida. Mas o valor exato não é revelado – há um acordo silencioso entre os negociantes de manter segredo sobre cifras e compradores. Há chances de ter ultrapassado os sete dígitos, já que um móbile de pequenas dimensões do mesmo artista exposto no local era US$ 4 milhões.
Elizabeth Esteve, diretora internacional da galeria, disse que trouxe o que tem de melhor no acervo para mostrar ao público brasileiro e conta um pouco mais sobre a valiosa escultura: “É uma peça que estava com a família e é a primeira vez que é exibida ao público. Calder a manteve em casa até a sua morte”.
Outro estande que se destaca pelo acervo valioso está no Armazém 1. O Paulo Kuczynski Escritório de Arte tem pendurados nas paredes trabalhos de Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Cícero Dias, Portinari, Tarsila do Amaral e Segall. “Participamos desde a primeira edição e o nosso trabalho é o de formar grandes coleções. Para isso, trabalho garimpando as obras. Então, posso dizer que vender é até fácil, difícil é conseguir as obras”, conta Kuczynski.
Ele apontou como mais valiosa a tela Vaso com Copos de Leite, uma bela natureza morta de Di Cavalcanti. E mostrou, orgulhoso, um pequeno óleo sobre tela abstrato de Antonio Bandeira que já havia sido vendido naquela tarde. Dois desenhos raros de Tarsila do Amaral e um guache sobre papel de Alexander Calder (com dedicatória a Mario Pedrosa) na própria tela são outros atrativos do estande.
Perto dali, no estande da Galeria Sur, de Punta Del Este, uma pequena obra, também com dedicatória, atrai muitos olhares. É um desenho original de Picasso, feito para Manuel Palláros. “Eles eram amigos e ele fez esse desenho em 1955, quando estavam em Paris”, conta o galerista Martin Castillo. O estande tem ainda outro desenho de Picasso, mas é uma grande tela de Antonio Berni que se destaca. Los Emigrantes, de 3m x 1,97m, foi pintada em homenagem a Lasar Segall e é a mais valiosa do acervo da galeria uruguaia.
SERVIÇO ARTRIO 2013
Quando: De 5 a 8 de setembro (quinta a domingo) – aberto ao público das 13h às 21h
Onde: Píer Mauá (Armazéns 1, 2, 3, 4, e 5) – Av. Rodrigues Alves, 10 – Rio de Janeiro (RJ)
Classificação Etária: 18 anos
Quanto: R$ 20 (inteira), R$ 15 (cliente Bradesco inteira) ou R$ 10 (meia-entrada) – vendas pelo site www.ingressorapido.com.br