(por Diego Freire) – Elas são verdadeiros patrimônios para seus bairros e suas histórias se confundem com a vida de seus vizinhos e "amigos". Segundo o SINDJORSPV (Sindicato dos Vendedores de Jornais e Revistas de São Paulo) são aproximadamente 15 mil bancas de jornal na cidade, algumas delas localizadas há mais de 100 anos no mesmo endereço, acompanhando o crescimento da região e as mudanças de gerações na família de seus
clientes.

Porém os novos tempos trazem um cenário nebuloso para tão tradicionais instituições. As estatísticas do Sindicato indicam que o número de bancas na cidade diminuiu em 20% desde o ano 2000, e a tendência é que os baixos lucros (a queda geral em vendagens é de cerca de 50% desde 1997) levem ao fechamento de muitas outras nos próximos anos.

Na opinião dos jornaleiros, a decadência desse mercado está bastante ligada a fatores como a concorrência da venda de revistas em caixas de supermercados ou lojas de departamento, às edições de jornais disponíveis facilmente na Internet e ao crescente número de assinaturas domiciliares.

Estratégias desleais

Seu Julio, prestes a completar treze anos como um dos donos de uma banca no bairro da Praça da Árvore, se diz diretamente afetado com a crise: “Acredito que nunca mais chegarei nem perto do lucro que tinha quando comecei o negócio. É verdade que o movimento da rua diminuiu bastante quando fecharam algumas firmas que eram ponto de referência no nosso quarteirão; mas acho que a nossa queda tem a ver principalmente com as assinaturas de revistas”.

Para ele, as estratégias utilizadas pelas editoras para vender assinaturas chega a ser desleal com os jornaleiros. “Tem revista que oferece um mês de entrega grátis para quem nem é assinante, na esperança de que assinem. Depois, quando assinam, criam descontos especiais, mas não dão a possibilidade do dono de banca vender com desconto também. Ou seja, nós jornaleiros vendemos produtos de um parceiro que também é nosso próprio concorrente”, queixa-se, criticando o sistema de assinaturas. “O assinante pensa que leva vantagem, mas não é bem assim. Ao mesmo tempo em que paga menos, ele perde esse privilégio se quiser comprar uma revista melhor a cada semana. Por exemplo, as matérias melhores nem sempre estão na Veja. Mesmo para um leitor fiel da revista é interessante ter o direito de não comprar a revista e optar pela Época ou pela Istoé quando a capa das outras for superior”.

Na contramão dessa suposta prioridade que as editoras oferecem aos serviços de assinatura, uma iniciativa chama a atenção. A revista Caras disponibiliza uma promoção atual exclusiva para revistas compradas em bancas de jornal. Boa vontade com os jornaleiros? Cleuton Santos, dono de uma banca na Avenida Paulista, não vê solidariedade alguma de qualquer editora: “a Caras não tem interesse nenhum em ajudar as bancas. Apenas não faz também a promoção nos mercados porque não seriam todos que saberiam lidar com troca de selos e estoque de brindes. Além de que essa revista no mercado fica mais barata do que a vendida nas bancas. No final, quem não quer participar da promoção não pensa duas vezes e vai comprar no mercado”, comenta.

Os jornaleiros revidam

Cleuton faz parte de uma nova geração de jornaleiros que vê a necessidade
de criar alternativas para sanar a decadente procura por revistas e jornais, e ainda sofre com limitações impostas pela lei quanto à venda de
outros produtos (como brinquedos, doces e sorvetes – de comercialização
ainda proibida em bancas de jornal, embora sejam comumente encontrados em
qualquer desses estabelecimentos e o projeto de lei n° 47/2000 [a ser
votado], pretenda legalizá-los).

A saída encontrada por ele pretende fidelizar fregueses casuais, motivando-os a voltar a sua banca nas semanas seguintes à primeira compra: “ofereço ao cliente a possibilidade de trocar a revista que comprou por uma do mesmo valor, desde que volte até o final do mês e apresente um carimbo que eu faço para garantir que a compra foi feita na minha banca. É a promoção ‘compre uma, leia duas’”.

Mesmo em meio às dificuldades e estatísticas preocupantes, Luiz Carlos, jornaleiro do bairro de Santo Amaro, duvida do fim das bancas de jornal:
“sobreviveremos, contra tudo e contra todos. Sempre haverá quem mantenha o costume de comprar apenas na banca do bairro”. Seu cliente Antonio Santos, professor aposentado, passeando com o cachorro e comprando a revista da semana no momento da entrevista, concorda: “é um crime fechar uma banca. Se o fenômeno de fechamento se acentuar, a população irá agir e abraçar suas bancas de coração”. E, da criança que compra figurinhas ao idoso que discute política com o jornaleiro, todo mundo tem uma banca de coração…

Qual é o seu ritmo? Seja qual for, venha curti-lo de uma forma diferente!


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Em crise, bancas de jornais pedem socorro