A rainha Elizabeth II da Inglaterra se transformou neste sábado na verdadeira estrela do Festival de Veneza, graças ao divertido e irreverente filme "The Queen" ("A Rainha"), do britânico Stephen Frears, sobre as reações da Coroa britânica após a morte em 1997 da princesa Diana.
Com uma magnífica atuação da atriz Helen Mirren, cuja semelhança com a soberana inglesa na telona é surpreendente, o longa-metragem reconstrói os dias posteriores à morte de Lady Di e as críticas que a família real recebeu por sua postura depois da trágica morte da "princesa do povo".
O filme, que concorre na mostra oficial pelo cobiçado Leão de Ouro, uma co-produção Grã-Bretanha, Itália e França, apresenta uma monarca sóbria e humana, guardiã da tradição e dos valores vitorianos, que precisa se dividir entre o dever institucional, a proteção dos netos e o desafio de uma visão mais moderna do mundo.
Aplaudido ao fim da projeção para a imprensa, o filme, que havia chegado ao Lido precedido por uma grande polêmica por tocar em um tema tabu para os ingleses, na realidade é um retrato simpático, amável e impregnado de humor inglês da família real, assim como do então recém-eleito primeiro-ministro Tony Blair (interpretado por Michael Sheen).
"Estamos preparados para qualquer ação legal. Temos as costas cobertas. Podemos provar tudo o que contamos", declarou Peter Morgan, roteiristas do longa, que consultou centenas de especialistas, assesores e amigos próximos, tanto da Coroa como dos partidos políticos.
Um batalhão de jornalistas ingleses assistiu à estréia mundial do filme, assim como vários cineastas presentes no Lido, entre eles o americano Spike Lee.
"Bom, bom", comentou o diretor de "Malcom X" com um amplo sorriso.
Não foi possível confirmar a presença em Veneza dos advogados da rainha Elizabeth II, como havia divulgado a imprensa local. De acordo com os jornais eles estariam interessados em descobrir possíveis violações legais e difamações.
"Cada setor da família real tem uma visão diferente da morte de Lady Di. Não existe uma linha unitária. Sua capacidade de tramar nos corredores é maior que a de qualquer político", comentou o roteirista.
No filme, enquanto Elizabeth II aparece como uma rainha que tende a isolar-se com a família em um palácio na Escócia depois de receber a notícia, o premier Tony Blair emerge como o "príncipe do povo", empenhado em explicar à soberana o risco que corre ao repudiar, na vida ou na morte, a princesa Diana.
"Foi o papel que mais me intimidou em minha carreira", admitiu Helen Mirren, já apontada como favorita para levar a Copa Volpi de melhor atriz no Festival de Veneza.
Em oposição à imagem negativa do príncipe Charles divulgada pelas revistas sensacionalistas, o herdeiro do trono inglês aparece como uma pessoa sensível, que entende o desafio que a coroa atravessa e a necessidade de modernização, com o rompimento dos rígidos protocolos para adaptar-se às mudanças da sociedade.
"Blair ou a rainha? É difícil dizer. Para mim, a rainha é uma presença constante em nossas vidas", admitiu Stephen Frears, que rejeitou dessa maneira que o filme seja antimonárquico.