Fabiana Escobar, mais conhecida como Bibi Perigosa, lança no próximo dia 27 seu primeiro livro, Perigosa, na Biblioteca Parque, na Rocinha, Rio de Janeiro. A carioca de 33 anos, que já ocupou o cargo de “primeira-dama do tráfico”, baseou-se em suas próprias experiências para escrever o romance de ficção. Fabiana foi casada por 14 anos com Saulo de Sá Silva, traficante conhecido como Saulo da Rocinha, ou Barão do Pó, com quem teve dois filhos.

“É mais prudente que seja visto como ficção”, conta ela ao Virgula , entre risos. “Percebi a curiosidade de outros sobre tudo o que tinha acontecido.” Saulo foi preso em 2008, em Alagoas, e condenado a 18 anos de prisão. Após a chegada da UPP (Unidade da Polícia Pacificadora) à favela da Rocinha no final de 2011, a fama de Bibi ficou maior: ela foi entrevistada para uma matéria do programa Fantástico, da TV Globo.

Primeiro, ela escreveu um blog no qual relatava suas experiências. Depois, orientada pela escritora Glória Perez – que encontrou o blog pesquisando na internet e entrou em contato com a autora – transformou as histórias em um livro. “Conversávamos bastante sobre o dia a dia do morro. Ela foi um presente de Deus, porque em meio a um furacão, conseguiu perceber e exaltar um lado bom que estava adormecido em mim”, disse. “Ela me incentivou a publicar o livro, mesmo muito atarefada na época de [exibição da novela] Salve Jorge, tirava muitas dúvidas minhas.”

A própria vida de Fabiana parece ser saída da ficção. Cultuada na internet, ela tem mais de 10 mil seguidores no Twitter que a bombardeiam com perguntas. Reza a lenda que, quando era casada com Saulo, fazia demonstrações nada discretas de amor, como jogar pétalas de um helicóptero e espalhar faixas com mensagens de amor pelo morro. O apelido Perigosa indica o temperamento forte, mais ainda com mulheres que tentassem se aproximar de seu marido.

Fabiana conheceu Saulo ainda na escola. “Minha mãe era diretora da escola em que nós estudávamos”, revela. Questionada sobre o fascínio que sua história gera, Fabiana reflete. “Foi uma verdadeira história de amor. Bela e intensa. As pessoas gostam disso. Mas gostam da tragédia e isso tambem os atrai e os fascina. Passar por uma tragédia, sobreviver a uma tragédia, sempre gera curiosidade alheia”.

Produziu o livro no estilo faça-você-mesmo. “Fiz tudo sozinha e com ajuda de alguns amigos. Enviei para as editoras e recebi preços altíssimos. Não teria esse dinheiro todo”. O livro foi produzido por meio da Perse, uma editora independente. A primeira tiragem é reduzida, com apenas 60 cópias – que deve esgotar no lançamento. E, por se tratar de um livro de ficção baseado em fatos reais, não pediu autorização a ninguém. “Não preciso de autorização de ninguém para falar da minha vida. E falar dele [Saulo] qualquer pessoa pode, visto que quando ele foi preso, ficou exposto na mídia”, pondera.

Separada de Saulo desde 2010, Fabiana garante que não tem ligação com o tráfico: “Nenhuma conexão, nem vínculo”. Namora novamente e continua cuidando dos dois filhos, hoje com 14 e 16 anos. “Ele me conhecia antes de namorar, sabe de toda a minha vida. Não há segredos, só love mesmo”, esclarece. Em seu site, escreveu e publicou duas webnovelas: Linha Cruzada e A Fera e a Bela, ainda em andamento. Mas nas redes sociais, não dá outra: querem mesmo é saber dos escândalos da vida no crime.

“Esse glamour que as pessoas pensam existir é uma ilusão”, conta. “Não existe respeito, fidelidade, consideração. Existem regras que os beneficiam, doa a quem doer. Os ganhos são tão rápidos quanto as perdas, que vão além do dinheiro. São emocionais, psicológicas, físicas.” Revendo a própria trajetória, Fabiana reflete: “Não tenho orgulho do que vivi, mas me sinto vitoriosa e orgulhosa de ter tido força pra sair desse mundo do tráfico. Tive que ser muito firme, suportar muita coisa pra não fraquejar na minha decisão”, conclui.

Lançamento Perigosa, de Fabiana Escobar
27/10 – Biblioteca Parque
Das 14h às 17h
Endereço: Subida da Cachopa – Favela da Rocinha – Rio de Janeiro


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Ex-primeira dama do tráfico, Bibi Perigosa lança livro: 'É mais prudente que seja ficção'