Depois que as três maiores redes de supermercados do País Carrefour, Wal-Mart e Pão de Açúcar anunciaram há poucos dias a suspensão da compra de carne de gado criado em áreas desmatadas irregularmente na Amazônia, a ONG Amigos da Terra afirmou que o Banco Mundial suspendeu um contrato de financiamento de RS 90 milhões concedido ao frigorífico Bertin, uma das empresas acusadas por promotores do Pará e entidades ambientais, como o Greenpeace, de comercializar carne bovina vinda de áreas devastadas.
Segundo a ONG, o Banco Mundial, por meio de seu braço financeiro, a IFC, solicitou o pagamento da última parcela pendente, de R$ 30 milhões. O motivo teria sido o desconforto gerado pelas notícias de que parte da produção de carne do grupo Bertin viria justamente de áreas desmatadas. A assessoria de imprensa da empresa confirma que houve a suspensão do contrato, mas alega que o motivo foi decorrente da crise financeira internacional, que prejudicou o agronegócio brasileiro.
A empresa, uma das maiores da América Latina, afirma que uma das condições do financiamento era a criação de um projeto gradual de sustentabilidade, especialmente nas unidades do Pará, para evitar a parceira com produtores que tenham condenação por trabalho escravo, desmatamento ilegal, violência agrária, grilagem e uso de terras indígenas.
Em nota, a empresa também reafirma seu compromisso ambiental. O grupo Bertim garante que compra apenas de produtores que não estão na lista suja do Ibama que, por sua vez, divulga periodicamente uma lista de fazendas embargas por não cumprir requisitos sociambientais.
Em entrevistas para a imprensa, o presidente do Sindifrio-SP, sindicato que reúne frigoríficos paulistas, Edivar Vilela de Queiroz, acusa ONGs e Ministério Público (MP) de estarem mal informados. Ele afirma que o gado criado no Pará está em áreas consolidadas, isto é, que já foram desmatadas há décadas e que só depois receberam a pecuária. Queiroz também é presidente do conselho do frigorífico Minerva, outro acusado pelo MP do Pará de comercializar carne produzida em áreas desmatadas.
Seja como for, as redes de supermercados que suspenderam a compra de produto suspeito, divulgaram que vão adotar medidas adicionais para evitar a compra de gado criado em áreas ilegais. Uma das medidas é contratar auditorias independentes para fiscalizar a procedência do animal.
Além dos supermercados que vão deixar de comprar produtos sem procedência garantida, as empresas pecuaristas vão precisar ficar atentas para não ter ainda mais prejuízos. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou recentemente que poderá cancelar o crédito concedido a empresas pecuaristas, caso verifique que os recursos estão provocando desmatamento na Amazônia.