O Uruguai assume a Presidência rotativa do Mercosul com a difícil tarefa de integrar política e economicamente um bloco cujas propostas de unidade são criticadas por Montevidéu e que cada vez mais perde crédito diante de outro país-membro: o Paraguai.
À frente do bloco sul-americano, as autoridades uruguaias tentarão avançar em alguns objetivos do Mercosul, que não progrediu em nenhum tema fundamentalmente importante na reunião semestral que realizou na sexta, em Assunção.
Para o Uruguai e o Paraguai, que são os sócios menores do bloco, Brasil e Argentina fazem o que querem no Mercosul e, sem nenhum pudor desrespeitam as regras do grupo.
Ao mesmo tempo, como disse em Assunção o presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, o Uruguai, com essa intatisfação, não pode se permitir perder os mercados do Brasil e da Argentina, que serão difíceis de se recuperar e não serão facilmente substituíveis.
Por enquanto, os conflitos comerciais são a maior preocupação do bloco. Em sua primeira declaração como responsável pelo Mercosul, Vázquez disse se esforçará para fazer “desaparecer as dificuldades tarifárias”. O objetivo é que “no bloco exista solidariedade, apoio e complementaridade”.
Uruguai e Paraguai pedem tudo isso a seus parceiros há algum tempo. Os dois países também reclamam que Brasil e Argentina impõem entraves comerciais aos produtos quando estes têm de atravessar as fronteiras internas. Tais impedimentos, dizem as economias menores do bloco, aumentaram com o agravamento da crise financeira internacional.
A desconfiança uruguaia em relação ao êxito do Mercosul ficou patente no discurso que o ministro das Relações Exteriores do país, Gonzalo Fernández, fez na reunião de ontem em Assunção. O chanceler afirmou que, na última década, o bloco sul-americano não só não avançou em seu processo de integração como regrediu em vários aspectos no “âmbito econômico-comercial”.
Dispositivos não automáticos de exportação impostos pelo Brasil e a Argentina, a estagnação nos acordos de livre-comércio com outros países e a manutenção da dupla cobrança da Tarifa Externa Comum (TEC) foram alguns dos pontos duramente criticados pelo Uruguai. O país também criticou a tendência cada vez maior de Brasil e Argentina negociarem entre si temas comerciais próprios do Mercosul.
Quanto à integração política, os problemas também parecem insolúveis, particularmente a adequação do órgão parlamentar do bloco, o Parlasul, aos desejos de seus integrantes.
O Brasil, o maior e mais populoso membro do Mercosul, pede uma representação proporcional no órgão. O Paraguai, por sua vez, disse que só aceitará esse esquema se for criado um tribunal cujas sentenças sejam de cumprimento obrigatório para cada país-membro e que garanta os direitos dos parceiros menores.
A criação dessa corte, no entanto, não conta com o apoio da Argentina nem do Uruguai, cujos governos acham que uma instituição nesses moldes violaria a Constituição de ambos os países, segundo o chanceler Fernández.
O ingresso definitivo da Venezuela no bloco é outra questão com a qual a Presidência uruguaia terá que lidar. A adesão, que era dada como certa quando foi aprovada há três anos, tropeçou em inúmeros impedimentos e agora depende da ratificação dos Congressos do Brasil e do Paraguai, cujos legisladores parecem dispostos a embarreirar a participação de Hugo Chávez no Mercosul.
O único consenso que parece haver entre os países do bloco é em relação à situação em Honduras. Todos pedem o retorno de Manuel Zelaya ao poder em Tegucigalpa, e o Uruguai não parece ter nenhum problema em reafirmar este posicionamento no futuro.