Nos últimos anos, o mercado de animações brasileiras tem aumentado seus números de produções consideravelmente e o que antes não passava de alguns filmes da Turma da Mônica e da Xuxa em cartaz ou desenhos feitos para a televisão, agora está ganhando destaque internacional.

Um dos grandes motivos do aumento substancial de animações se deve às Leis de Incentivo do Ministério da Cultura e ao Edital do BNDES, que financia aproximadamente 15% do valor da produção.

Em meio a esse cenário favorável, em breve, diversas produções animadas produzidas no Brasil vão ser lançadas. Como é o caso de Ivete Stellar, filme que leva Ivete Sangalo no papel de protagonista; Lutas, com Camila Pitanga e Selton Mello nas vozes; Vivi Viravento, do mesmo criador do elogiado Garoto Cósmico e Nautilus, do diretor de Xuxinha e Guto Contra os Monstros do Espaço.

Mas para entender melhor esse mercado que está fervilhando no Brasil, nada melhor do que ouvir quem está pensando e criando as produções animadas. O Virgula conversou com Alê Abreu, diretor de Garoto Cósmico, e Rodrigo Gava, que está na direção de Nautilus, animação prevista para estrear no início de 2011. Confira:

“O CINEMA DE ANIMAÇÃO BRASILEIRO ESTÁ EM PLENA FORMAÇÃO”

Virgula: Garoto Cósmico é um filme crucial para o mercado de animações brasileiras. Acredita que ele abriu o caminho para as atuais produções?

Alê Abreu: Acho que tudo o que é produzido tem sua ligação com o que já foi feito anteriormente. No caso do cinema de animação, nossa responsabilidade é dobrada pelo fato de tão poucos filmes em nossa história. O cinema de animação brasileiro está em plena formação e acho que Garoto Cósmico tem seu lugar neste importante momento.

V: Como você resolveu ingressar no mercado de animações e como é produzir animações aqui no Brasil?

AA: Quando comecei era bem diferente. Poucas produções e basicamente curtas. Hoje o Brasil tem leis de incentivo, editais específicos para animação, e alguns longas em andamento. O jeito de se fazer um filme mudou muito com a chegada dos computadores. Temos também o festival AnimaMundi, que é uma grande vitrine.

V: Atualmente, você está trabalhando em Vivi Viravento. Gostaria de saber um pouco sobre o filme e se ele já tem previsão de estreia.

AA: A Vivi é a neta de Rosa Rara de Viravento, a grande escritora de literatura fantástica, diversas vezes premiada com o Literatus Mundi. Vivi acompanha a avó nas viagens que faz pelo mundo, visitando diversos países e lugares curiosos e interessantes.

Numa dessas viagens a avó conta o segredo sobre um lugar chamado Viravento, um lugar ao mesmo tempo perto e distante, e “super sur-pre-en-den-te”, como diz a Vivi. É onde as idéias nascem. A Vivi deseja descobrir este lugar em cada viagem que faz, e sempre em companhia de seus amigos imaginários Mochilão e Lanterninha, sua mochila e sua lanterna.

“SE COMPARAR AO QUE FOI NO PASSADO, ESTAMOS NUM ÓTIMO MOMENTO”

Virgula: Em que pé está Nautilus? A animação já tem previsão de estreia?

Rodrigo Gava: Pretendemos iniciar a produção em janeiro de 2010, quando aumentaremos nossa equipe chegando a 60 profissionais e no fim do ano terminar. Eu e Clewerson Saremba faremos a direção e Eduardo Campos fará a direção de animação. O lançamento deve ser no inicio de 2011, para aproveitar as férias. Já contamos com a Globo filmes e Paris Filmes para distribuição e divulgação.

No momento estamos na fase de pré-produção e entrevistando profissionais. Ainda neste ano, pretendemos começar o treinamento dos escolhidos, como sempre fazemos nas nossas produções, para que o candidato possa aprender nosso método de trabalho.

V: Quanto tempo, em média, demora para finalizar um longa-animado no Brasil?

Os dois filmes que fizemos – Xuxinha e Guto Contra os Monstros do Espaço (Warner Bros.) e Turma da Mônica em Uma Aventura no Tempo (Buenavista International) – levamos um ano, contando das negociações até a exibição. De animação foram de 10 a 11 meses.

Para Nautilus, pretendemos levar 15 meses. Infelizmente um longa no Brasil não pode demorar muito mais que isso. Qualquer mês a mais já começa a encarecer demais a produção tornando inviável a captação. Até existem filmes sendo feito em mais tempo no país, mas se ele pretende ser competitivo nas bilheterias, não poderá fugir muito disso.

V: Para você, o mercado de animações no Brasil está em um bom momento?

Com certeza! Se comparar ao que foi no passado, estamos num ótimo momento. Porém, se compararmos ao que podemos ser, ainda estamos bem no início de uma longa jornada. As pessoas e até o governo já estão conseguindo ver a animação como um bom negócio, tanto no quesito investimento financeiro quanto no de geração de emprego e exportação de produto e cultura.

V: O Ministério da Cultura tem incentivado a produção de animações no Brasil. Vocês receberam algum tipo de incentivo para criar “Nautilus”?

Para a criação do projeto propriamente dita, fizemos unicamente com capital próprio da Labo Cine Digital, mas para a produção, os incentivos do governo têm sido fundamentais. As Leis de Incentivo estão tornando possível a captação dos recursos necessários para a produção e o Edital do BNDES, apesar de só representar aproximadamente 15% do valor total do filme, foi a fagulha que acendeu a chama de Nautilus.

V: Quais desenhos animados você acredita que foram cruciais para o desenvolvimento das animações brasileiras?

Não sei se tem algum desenho que foi crucial para o desenvolvimento das animações brasileiras. As animações da Disney com certeza foram muito importantes para as animações no mundo todo.

V: Como e quando acredita que o mercado de animações brasileiras começou a despontar?

Acredito que esse mercado está se desenvolvendo devido ao trabalho árduo das produtoras independentes, juntamente com associações do ramo como ABPI-TV (BTVP), e agora com incentivos do governo, que no inicio dessa década – de 2002 a 2004 -, bravamente começaram a frequentar os festivais internacionais, entenderam como esse mercado funcionava e estão fazendo ele acontecer aqui no Brasil.

Juntamente a isso, festivais aqui no Brasil, principalmente, o AnimaMundi, foram ganhando força e criando a cultura de se ver e se fazer desenhos animados. Um terceiro fator que possibilitou a iniciação efetiva do Brasil nessa técnica foi a tecnologia que passou a permitir que qualquer pessoa pudesse se aventurar nessa área com seu computador pessoal. Isso fez com que tornasse viável a criação de estúdios e principalmente de mão de obra especializada.

Confira o teaser de Ivete Stellar e o trailer de Lutas, que estão para estrear:


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