Há cerca de seis meses, o Brasil foi tomado pela curiosidade sobre o tal “filme dos irmãos gays”, Do Começo ao Fim, de Aluizio Abranches, o mesmo do ousado Um Copo de Cólera (1999). Agora, depois de trailers, pôsteres, público gay envolvido e muita espera, o filme será exibido na abertura do 17º Festival Mix Brasil, na próxima quinta-feira, dia 12.
Se você espera polêmica, não se desaponte: o longa-metragem desperdiça o alarde de seu tema – o incesto – e apenas deixa o espectador assistir ao nascimento do amor carnal entre irmãos de sangue, sem polêmica, sem conflitos. Apesar de ter sido vendido como “uma história de amor que é preciso virar o mundo de cabeça para baixo para entender”, falta ousadia. A não ser no início, quando a mãe – muito bem interpretada pela atriz Julia Lemmertz – se indaga e é questionada sobre a “intimidade excessiva” dos dois, o casal, mais tarde, tem toda a aceitação dos pais e até do treinador de natação. Chega a espantar.
A história de amor dos meio-irmãos Thomas e Francisco é narrada desde o nascimento do mais novo, pula a adolescência – um erro – e vai até a fase adulta dos dois. É quando parece que vem o conflito: um convite para o caçula treinar natação na Rússia. Mas não há maiores dramas, apenas a ausência fortemente sentida pelo casal dá o tom para a história: Francisco sai de casa, vai pra balada, tenta se envolver com uma mulher, mas acaba preso no amor pelo irmão.
Mesmo que o cerne da história esteja no casal protagonista, personagens importantes como a mãe dos garotos e do pai do mais novo – interpretado por Fábio Assunção – poderiam ter sido mais bem aproveitados. Louise Cardoso, então, não diz a que veio: aparece logo no início, como amiga de Julieta, e some na segunda fase. Nem ajudar a amiga nas dúvidas sobre a relação e a sexualidade dos filhos ela faz.
Elenco brasileiro, fotografia importada
O casal protagonista – vivido pelo atores ainda desconhecidos do grande público, Rafael Cardoso e João Gabriel Vasconcellos, que também é modelo – apresenta uma boa química, tanto que hipnotizou o público GLS desde que foram divulgadas imagens do filme no YouTube. Apesar de faltar polêmica na abordagem, os dois não economizaram na cenas de beijo e “se pegam” pra valer. O sexo, no entanto, é tratado de forma sutil.
Para fazer as crianças – fase importante do filme – foram chamados os atores-mirins Gabriel Kaufmann (Thomas), que fez o Francisco da novela global Páginas da Vida, de Manoel Carlos, e hoje atua em Caras & Bocas, e Lucas Cotrim (Francisco), da novela Poder Paralelo, da Record. Guiados por Aluizio Abranches, eles são encarregados de mostrar o mais importante da narrativa: o nascimento do amor, da intimidade incestuosa.
Feito pela produtora Pequena Central, de Marco Nanini e Fernando Libonati, em parceria com a Lama Filmes, o filme conta ainda com o desempenho do diretor de fotografia Ueli Steiger. Nascido na Suiça, já trabalhou em filmes grandes como O Dia Depois de Amanhã (2004), 10,000 A.C. (2008) e o grunge Vida de Solteiro (1992). Steiger consegue passar uma certa melancolia ao Rio de Janeiro e até mesmo a Buenos Aires, onde parte do filme é rodado. Um ponto positivo à película.
Amor bonito, mas sem conflitos
Do Começo ao Fim tinha tudo para ser lembrado pela tônica da sua polêmica, mas envereda apenas pela história de amor entre os irmãos, sem trazer conflitos. O tema por si só já é polêmico – incesto e homossexualidade – pelo menos no Brasil, mas impressão que dá é que o diretor ficou com medo de aprofundar o seu tema.
Em entrevistas recentes, Aluizio Abranches chegou a dizer que “não queria levantar bandeira”. Mas como não polemizar quando se pega um tema forte e tão suscetível a debates? A história de amor é bonita, mas falta ousadia. Uma pena.