Quando o real fica muito valorizado, existe uma série de pressões dentro da indústria para que o governo tome medidas para conter a desvalorização do dólar. Um dos principais motivos é que o setor exportador perde competitividade no mercado internacional, já que as mercadorias produzidas no Brasil ficam mais caras em dólares.
No entanto, agora começam a surgir outros problemas por conta do real mais forte. A questão é que muitas empresas estão mudando seus planos de compras de insumos e peças. Com isso, os fornecedores nacionais já são, em alguns casos, substituídos por fabricantes estrangeiros, já que fica mais barato comprar no exterior componentes como resinas plásticas, minerais não-metálicos e até peças para veículos.
A reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, nesta quinta-feira (12) traz depoimentos de empresários que relatam que a diferença nos preços entre peças nacionais e importadas variam entre 15% e 20%. Essa diferença tem ainda mais importância em um momento de crise, no qual as empresas buscam estar cada vez mais competitivas.
Antônio Farah, supervisor de importação da Cipatex, disse ao jornal que a resina plástica comprada de fornecedores asiáticos é 20% mais barata do que adquirida no Brasil. Com isso, a empresa, que componentes para calçados, importa 70% das resinas que utiliza, ficando acima dos 10% a 20% de antes da crise.
A consultoria MB Associados estima que a importação de insumos está com um crescimento de 20% entre maio e setembro deste ano. Esse resultado é cinco vezes maior que a alta de 4,7% da produção da indústria no período.
O vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, explica que o dólar neste patamar permite indústria, ao importar insumos, aumente sua margem de lucro sem que tenha a necessidade de aumentar preços.
Os setores mais atingido por esta situação são os de calçados e têxteis, que trabalham com margens de lucros mais apertadas por conta da forte concorrência de Ásia. Com isso, a importação de insumos para a ser a única forma de manterem a competitividade para o mercado externo e praticar bons preços no interno.
É o caso da Hering, que aproveitou a queda do dólar para formar uma espécie de “estoque regulador” de fios, que vão abastecer suas tecelagens, conforme a assessoria de imprensa. A empresa também já conta com a importação de peças de vestuário prontas diretamente da China, que atualmente representam 15% das vendas.
Pelos dados oficiais, as importações de insumos se intensificaram de setembro para outubro. As compras externas de bens intermediários já representam 50% do total. Somente no mês passado, a média diária de importações do país chegou a US$ 607,3 milhões, a mais alta do ano. Em relação a outubro de 2009, no entanto, a queda é de 22%.