O Timor-Leste embarcou na gravação de sua primeira novela, um drama local que analisa os conflitos econômicos, sociais e políticos do país mais jovem e um dos mais pobres da Ásia, para buscar sua reconciliação nacional após anos de conflito.

Os 20 capítulos da série, ainda sem título oficial, já estão sendo gravados e começarão a ser transmitidos no início do ano que vem. A trama abordará os dramas cotidianos enfrentados pela sociedade timorense e pretende encorajar o debate necessário para ajudar a resolvê-los.

A novela conta a história de dois irmãos que decidem deixar a vida no campo e tentar a sorte em Dili, capital do Timor-Leste.

No entanto, têm que enfrentar problemas quando se instalam em um bairro da cidade com uma realidade cheia de conflitos, como o desemprego juvenil, a emigração rural, mudanças demográficas, disputas territoriais e desigualdades entre homens e mulheres.

“Tudo (acontece) através das experiências dos dez principais protagonistas e seu bairro fictício. As duas grandes ideias da novela são que tudo está interconectado e que as pessoas devem escolher seu próprio futuro”, disse à Agência Efe Toby Gibson, coordenador do projeto e membro da Organização Internacional de Migrações (IOM, na sigla em inglês).

“Queremos gerar uma ampla reflexão nas comunidades sobre uma grande quantidade de temas sociais próprios de um povo que acaba de superar um conflito”, acrescenta.

Sete anos após sua independência, o Timor-Leste é uma nação ainda fragmentada, e com uma infinidade de problemas sociais, políticos e econômicos que requerem assistência permanente das Nações Unidas.

De acordo com Gibson, o maior obstáculo para conseguir a estabilidade no longo prazo do país é a falta de diálogo sobre suas recorrentes crises desde 1999, como a frustrada tentativa de assassinato em 2008 do presidente e Nobel da Paz, José Ramos-Horta.

“A futura estabilidade da sociedade timorense se baseia no aumento da aceitação, da tolerância e do entendimento mútuos. O diálogo é essencial para a compreensão do passado, presente e futuro do país”, acrescenta Gibson.

Para Luiz Vieira, chefe da missão da IOM no Timor-Leste, “a falta de reflexão nos parece um dos maiores fatores de risco para a prevenção de crises no futuro”.

Foi assim que surgiu a ideia da novela, seguindo o exemplo de iniciativas similares desenvolvidas na América Latina e na África como veículo perfeito para abordar os temas mais sensíveis e chegar à maior audiência possível, segundo o responsável da IOM.

O projeto, financiado com US$ 236 mil disponibilizados pela Comissão Europeia, será transmitido primeiro na televisão pública estatal e depois estará disponível em DVD para as pessoas que contam com a possibilidade de ter acesso a reprodutores comunitários.

Posteriormente, será gravada em uma versão radiofônica, já que 50% dos timorenses só têm acesso a rádio.

Depois de quatro séculos de colonização portuguesa e 24 anos de ocupação indonésia, o Timor Leste finalmente conquistou a independência em 2002, e desde então foi sacudido por sucessivas crises desencadeadas por conflitos internos.


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Timor-Leste terá sua primeira novela