Um estudo lançado hoje no Brasil e que será apresentado no próximo sábado (12) na Conferência do Clima, em Copenhague, estimou a quantidade de emissões de gases de efeito estufa associada à pecuária no Brasil. De acordo o documento, o setor é responsável por metade das emissões de gases do efeito estufa no Brasil.
O estudo, intitulado de Estimativa de Emissões Recentes de Gases de Efeito Estufa pela Pecuária no Brasil, foi elaborado por dez pesquisadores, entre eles Mercedes Bustamante (UnB), Carlos Nobre (Inpe) e Roberto Smeraldi (Amigos da Terra – Amazônia Brasileira).
O estudo procurou calcular apenas as emissões de desmatamento associadas à pecuária. Com isso, descobriu que cerca 3/4 do total desmatado na Amazônia e 56% do total desmatado no Cerrado resultaram em implantação de novas pastagens.
De acordo com o estudo, os valores devem ser considerados conservadores, já que não calcula emissões complementares da atividade, como as oriundas do transporte de gado, por exemplo.
Recomendações
Os pesquisadores também indicam algumas políticas públicas para reduzir o impacto da pecuária brasileira nas mudanças climáticas. Segundo o estudo, opções de mitigação no setor não implicam em diminuir a produção atual, e podem ser compatíveis com um aumento moderado da produção.
“O Brasil deve caminhar para uma agricultura integrada ao ambiente tropical, científica e tecnológica, que, ao mesmo tempo em que aumenta sua eficiência, diminui seu impacto ambiental, inclusive quanto às emissões”, defende o climatologista Carlos Nobre.
As principais opções para diminuir esse impacto seriam a redução do desmatamento, a eliminação do fogo no manejo de pastagens, recuperação de pastagens e solos degradados, a regeneração da floresta secundária, a redução da fermentação entérica, integração lavoura-pecuária, entre outros.
“O potencial de redução de emissões de gases estufa oferecido pela pecuária no Brasil é muito expressivo. Por representarem aproximadamente 50% das emissões totais brasileiras de gases de efeito estufa concentradas em um único setor, constituem assim a mais importante oportunidade de mitigação brasileira”, diz o estudo.
Os pesquisadores defendem que a criação de grandes frigoríficos deve estar vinculada a um zoneamento adequado, já que trata-se do principal motor para a expansão descontrolada e sem precedentes da atividade pecuária.
Além disso, o documento considera que é importante que as políticas de fornecimento sejam baseadas em critérios transparentes e que contemplem devidamente o objetivo de melhorar o balanço de gases de efeito estufa dos produtos, em vez de meros critérios negativos de exclusão, como simples listas negras.
“Com base no estudo, constatamos que o custo das emissões de carbono por unidade de produto supera o próprio custo do produto no atacado”, avalia Roberto Smeraldi, da ONG Amigos da Terra – Amazônia Brasileira, co-autor do estudo. Segundo ele “a sustentabilidade econômica da indústria da carne requer drástica queda em carbono-intensividade, e as recomendações do estudo mostram que isso seria perfeitamente possível”.