O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou na terça-feira (26) durante o Fórum Social Mundial que irá ao Fórum Econômico de Davos (Suíça) e vai “jogar na cara dos países mais ricos” a crise financeira e o “abandono” do Haiti.
“Vou a Davos como em 2003, com orgulho do que tenho que dizer e mostrar (…) e com a missão de dizer que se o mundo desenvolvido tivesse feito a lição de casa na economia, não teríamos tido crise”, afirmou Lula em discurso realizado perante aproximadamente 10 mil participantes do Fórum Social em Porto Alegre.
Como fez em 2003, pouco após assumir a Presidência pela primeira vez, Lula participou antes da reunião Social e nesta quarta (27) viaja para Davos, onde receberá do Fórum Econômico a primeira edição do prêmio de “Estadista Global”.
Apesar do prêmio, Lula alertou que vai a Davos com exigências contra os representantes de países ricos e empresários que vão se reunir. “Davos não discutiu a crise que estava por vir” e que o Fórum Social já tinha antecipado desde sua primeira edição, em 2001, afirmou Lula.
Também garantiu que vai acusar o mundo desenvolvido pelos fracassos da Rodada de Doha da OMC e da Cúpula sobre Mudança Climática de Copenhague e rebateu críticas que alguns países europeus fizeram ao álcool de cana produzido pelo Brasil.
“Não aceitaremos que ninguém ponha seus dedos sujos de petróleo na matriz energética brasileira, uma das mais limpas do mundo”, afirmou.
Além disso, antecipou que irá dizer com orgulho “que o Brasil não deve mais nada ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e que, ao contrário, acaba de emprestar US$ 14 bilhões” ao órgão.
Perante uma plateia que lhe interrompia seguidamente com ovações, acrescentou que também dirá em Davos que “um torneiro mecânico foi quem mais criou universidades e escolas técnicas profissionais” e demonstrou que “é possível mudar a história de cada país”.
Lula refletiu, além disso, sobre as responsabilidades da tragédia do Haiti, país que foi arrasado por um terremoto no último dia 12. “O que aconteceu no Haiti, mais que desatenção, foi falta de respeito ao direito sagrado da cidadania”, afirmou, referindo-se à miséria vivida pelo país há anos, também atribuída pelo presidente aos países mais ricos.
Acusou os chamados “países doadores” do Haiti de haver retido o dinheiro que tinham comprometido e disse que acredita que a devastação causada pelo sismo “provoque vergonha nos Governos que poderiam ter feito algo” para ajudar.
Além disso, anunciou que visitará o Haiti no próximo dia 25 de fevereiro, e pediu ao Fórum Social que dedique este ano à “solidariedade para a reconstrução” do país.
Em outro momento, ressaltou o “extraordinário momento” que, segundo sua opinião, vivem a “América do Sul e toda a América Latina”, graças a uma série de Governos progressistas que “estão dando passos importantes para a consolidação da democracia”.
Sobre o Fórum Social, lembrou que, quando foi lançado, há dez anos, o evento “era só um experimento da sociedade civil com a ideia que outro mundo é possível”, e agora “segue intacto, mas mais maduro” e com “muito mais espaço para crescer”, graças à crise financeira que previu há uma década.
Em tom de despedida, disse que não voltará mais ao Fórum Social como presidente, pois entregará o cargo no dia 1º de janeiro do ano que vem, mas garantiu que não se afastará das lutas sociais que marcaram sua vida.
Também pediu ao movimento contra a globalização que siga na busca da “utopia do impossível” com “vontade, coragem” e respeito à diversidade e à solidariedade que desde o início caracterizaram o Fórum Social Mundial.