Começar a carreira em uma produção mega premiada e recordista de bilheteria não é privilégio para muitos. Samuel de Assis, ator sergipano de apenas 28 anos, acumula 10 anos de experiência no teatro, mas estreou no cinema pela porta da frente no filme Chico Xavier e estrela agora 5x Favela – Agora por Nós Mesmos (assista ao trailer no final da entrevista), que foi exibido em Cannes, levou sete prêmios em Paulínia e estreia nesta sexta (27) nos cinemas.

A proposta do filme é ousada. Dirigido por jovens cineastas, nascidos em comunidades do Rio de Janeiro, treinados pelo consagrado cineasta e produtor Cacá Diegues, ele mostra a real visão da favela. “Pra mim, o 5X é o primeiro realmente de favela, o que eu tenho visto por aí é uma porção de filmes na favela”, comentou Samuel.

O ator aparece no episódio Concerto para Violino, de Luciano Vidigal, como um policial de personalidade complexa. Não chega a ser um vilão, mas comete imprudências que o levam a um extremo na vida. “Este filme é um ponto crucial da minha carreira, foi um dos trabalhos mais difíceis de executar”, disse o ator, que revelou ainda que recebeu elogios do produtor logo no primeiro encontro.

A impressão não foi à toa. Samuel é formado pela EAD (Escola de Arte Dramática de SP) e já trabalhou com cineastas como Antônio Araújo e José Celso Martinez Corrêa. Sob direção de Wolf Maya, estrelou na minissérie Na Forma da Lei, na TV Globo, ao lado de Luana Piovani, Ana Paula Arósio, Henri Castelli e Leonardo Machado. Seu personagem era Ademir, um jornalista investigativo, homossexual, anarquista e boêmio que forma um grupo de justiceiro com os atores.

Bate-papo

O Virgula aproveitou a estreia de 5x Favela para conversar com ator sobre o filme, as coincidências de trabalhar em temas policiais, os planos para a TV e o cinema e a sorte de ter trabalhado com grandes mestres da sétima arte:

Você fez Na Forma da Lei (foto abaixo) e Força Tarefa, na Globo, e A Lei e o Crime na Record, além de intepretar um policial em 5x Favela. Algum tipo de identificação ou pura coincidência?

Pura coincidência. Não procurei isso. Mas o que mais me agrada nessa feliz coincidência é o fato dos personagens serem extremamente diferentes. Passei por capanga, bandidão, jornalista investigativo e policial, todos com personalidades muito distintas. O universo do trabalho não importa muito se é semelhante ou não, o que importa é o interior dos personagens, se eu vou conseguir fazer coisas bem diferentes ou não. E isso, eu acho que tenho conseguido.

Chegou a ver o filme dos anos 60 – produzido por Cacá Diegues, Leon Hirzsman, Joaquim Pedro de Andrade, Miguel Borges e Carlos Farias – que inspirou a nova versão?

Ainda não vi. Antes de filmar eu pensei em ver, mas quando percebi que era uma outra coisa, que não tinha nada a ver com o primeiro, acalmei minha expectativa e deixei pra ver depois. Agora chegou a hora, verei em breve.

Na época, o filme era um olhar de estudantes de cinema e agora é dos próprios moradores das comunidades, além disso, 50 anos se passaram. Como você compara essas versões?

Eram estudantes de cinema, de classe média, que falavam do ponto de vista deles. Por mais que tivesse, ou não, um olhar compreensivo, era alguém de fora falando de um interior que não lhe pertencia. Agora, são os próprios moradores falando de suas alegrias, tristezas, dores e amores, essa é a grande diferença.

Você chegou a participar do treinamento dos moradores? Como foi o contato com o consagrado cineasta Cacá Diegues?

Eu não participei dos treinamentos. Quando o Raoni Seixas, produtor de elenco, me chamou para os testes, as oficinas já tinham acabado, mas a partir daí começou a minha saga, foram sete testes até eu ficar em definitivo no filme e aí sim, ter uns encontros de preparação com a Camila Amado. Foi muito engraçado esse contato com o Cacá porque de início nosso contato era através de vídeos que ele assistia (meus testes), quando fui encontrar com ele a primeira vez já estava no segundo dia de filmagem e fiquei emocionado com a receptividade e os elogios que ele me fez. Ele é um ídolo pra qualquer um que goste, que faça ou que apenas veja cinema no Brasil.

O filme 5X Favela, Agora Por Nós Mesmos foi o grande vencedor do Festival de Cinema de Paulínia. Você acha que o fato de não cair no clichê dos filmes de favela favoreceu a premiação?

Eu acho que essa questão de “filme de favela” é muito ampla. Pra mim, o 5x é o primeiro filme realmente de favela, o que eu tenho visto por aí é uma porção de filmes na favela. E isso por si só, já é o grande trunfo do filme. Além do mais, aliado a tudo isso tem o fato de ser muito bem feito. É muito bem dirigido, produzido e atuado, acho que isso faz do filme um merecedor de todos os louros que ele anda colhendo.

Como foi a repercussão no Festival de Cannes? Você imaginava que já conseguiria tanta exposição?

A repercussão foi maravilhosa em todos os lugares que o filme foi exibido, graças. Eu, infelizmente, não pude ir por causa das gravações de “Na Forma da Lei”, mas soube que eles fizeram o maior sucesso na cidade. Mas é importante lembrar que o 5X é o meu segundo longa. O meu primeiro foi o doce e aclamado Chico Xavier – o filme, que fiz o sobrinho Altair. Fui muito feliz lá e aprendi muito sobre o fazer cinema com Daniel Filho. Ele é um gênio. Agora, só tenho que agradecer a Deus e aos realizadores desses dois filmes por terem me dado essas oportunidades, ninguém imagina que vai estreiar no cinema nacional com duas grandes produções de sucesso como essas, sou muito feliz e grato por isso.

No currículo, você reúne trabalhos com Zé Celso, na Rede Globo e agora no cinema. Como você compara essas experiências? Tem um preferido?

A minha preferência é por trabalhar, seja onde for. Essas experiências são imcomparáveis. O que me deixa feliz é o fato de ter conseguido viver, até agora, cada coisa no seu momento certo. Eu me considero um privilegiado na minha carreira por ter trabalhado só com os caras que eu sempre considerei mestres, tenho no meu currículo Tó Araújo (do teatro da vertigem), Zé Celso, Iacov Hillel, Wolf Maia, José Alvarenga Jr., Daniel Filho e agora Luciano Vidigal com Cacá Diegues, o que um ator vai querer mais da sua vida depois disso, gente. (risos)

Agora que está conquistando maior visibilidade, tem algum ator no qual você se inspira?

Vários. A gente sempre tem né. Lembro que no começo da minha adolescência estava assistindo uma novela que não me lembro qual, vi a Drica Moraes atuando e falei pra minha irmã: “um dia serei ator só pra atuar com essa mulher”. Quando vi o Caco Ciocler a primeira vez no teatro falei pra ele: “quero ser você quando crescer”. Acho o Angelo Antônio um gênio e fui extremamente feliz quando tive que atuar com ele no Chico Xavier. E por aí. Adoro o Luís Mello, Márcio Vitto, Tony Ramos, Osmar Prado com quem já trabalhei duas vezes (Ciranda de Pedra e Na forma da Lei), dentre outros.

Depois de 10 anos no teatro, chegou a vez de estrear no cinema com uma produção superpremiada. Qual o direcionamento que você pretende dar na carreira?

Eu não sei se é possível querer dar um direcionamento na carreira, é uma profissão muito instável. O que eu sei é que não quero parar de trabalhar.

Pretende conciliar ou investir mais na TV? Já pensou em fazer novela, por exemplo?

Já fiz participações. Quero conciliar tudo sim. Afinal de contas, para se viver bem nesse ofício, você tem que se adaptar aos três veículos (teatro, cinema e televisão).

Já tem algum projeto que possa anunciar?

Eu estou na fase de pré produção de um espetáculo onde irei fazer a minha primeira direção. É uma adaptação de um texto do Jean Cocteau, com o “GRUPO AEROmoças”. Queremos estrear no meio do próximo ano. E como ator, ando namorando uns textos de um autor maravilhoso do Rio Grande do Norte residente em São Paulo chamado João Fábio Cabral e para isso estou juntando parceiros e amigos.

Assista ao trailer de 5x Favela – Agora por Nós Mesmos


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Ator Samuel de Assis fala sobre 5x Favela e a carreira promissora