O funk, que nasceu há alguns anos nas favelas do Rio de Janeiro muito questionado pelas letras apelativas, encontrou este ano seu espaço na IX edição do Festival Internacional de Cinema de Arquivo, REcine, que exibiu ontem uma mostra sobre seus polêmicos versos.

Repetitivas, sexualmente explícitas e com duras referências a violência, as letras da música funk se destacam pela provocação e se distanciam do samba e da bossa nova, dois grandes estilos musicais do Brasil.

Apesar do nome inspirado no funk americano, o som carioca se aproxima mais de uma mistura de reggaeton e rap.

Com a exibição do documentário Funk Rio, de 1994, o festival reviveu o nascimento do estilo, e com ele, os populares bailes funk, festas organizadas nas favelas da cidade.

Os bailes são associados, até hoje, à violência e ao tráfico de drogas, o que os tornou um dos principais alvos da Polícia, que ameaçou, em várias ocasiões, proibi-los.

Assim nasceu o “proibidão”, nome utilizado para se referir a esta expressão musical, que através das letras reflete a violência e os enfrentamentos entre traficantes e policiais nos bairros mais pobres das cidades brasileiras.

No entanto, o ritmo seduziu as classes mais altas do país e suas músicas são cada vez mais tocadas em boates e bares.

O filme Tropa de Elite (2007), que mostra a violência diária entre policiais e traficantes, impulsionou, em 2008, o reconhecimento internacional da música, com o inconfundível Rap das Armas, cuja versão eletrônica se transformou em sucesso em vários países europeus.

Os versos “proibidos” chegaram, inclusive, aos escritórios das Nações Unidas, com o documentário Grosso Calibre, que aborda o problema da violência armada no Rio de Janeiro provocada pelas letras do funk e que foi tema de debate durante uma conferência sobre desarmamento na semana passada, em Nova York.

Os cineastas Guilherme Arruda e Ludmila Curi foram recebidos por funcionários da ONU para discutir a influência da música na violência e apresentaram o filme, que tem como protagonista o cantor carioca Mc Smith.

“Muitas pessoas criticam meu trabalho. Dizem que é música de delinquente. Mas as letras falam da realidade das favelas”, defendeu o artista em declarações à imprensa.

Além de prestar atenção ao movimento da música, o REcine, maior festival de cinema brasileiro de arquivo, apostou este ano na diversidade musical do país, com a exibição de 114 filmes antigos e vídeos sobre o tema.

“A grandeza geográfica do Brasil e as diversas culturas que formaram seu povo deixaram influências de origem para germinar novas tendências. O processo cultural é dinâmico e mutante, está em constante transformação”, explicam os organizadores na página do festival, que se estenderá até o dia 29 de outubro.


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Festival de cinema exibe documentário sobre funk