O equivalente turco de James Bond, o agente especial Polat Alemdar, irá à caça de militares israelenses na nova sequência de uma conhecida saga cinematográfica que promete esquentar ainda mais as já tensas relações turco-israelenses.

“Qual é o motivo de sua visita a Israel?”, pergunta um soldado judeu a Polat Alemdar, que responde: “Não vim a Israel, vim à Palestina”. Esta cena do trailer é uma declaração de intenções do filme, que estreará em janeiro sob o título O Vale dos Lobos: Palestina.

A produção é baseada na popular série Kurtlar Vadisi (O Vale dos Lobos), que desde 2003 é transmitida na Turquia com grandes índices de audiência.

Em suas novas aventuras, Alemdar e sua equipe de superagentes chegam a Israel para assassinar o militar responsável pelo ataque à frota humanitária, em maio deste ano. No episódio, forças de elite israelenses atacaram navios carregados de ajuda humanitária destinada a Gaza e mataram nove pessoas, a maioria de nacionalidade turca.

Os produtores explicaram à imprensa que mesmo antes do incidente, estava decidido que o roteiro do novo filme giraria em torno de Israel e dos palestinos. Durante as filmagens, ocorreu o ataque à frota e os diretores decidiram que o longa-metragem teria o episódio como eixo.

De fato, não se pode negar que os produtores da série, a Pana Films, tenham faro comercial, visto que já conseguiram levá-la ao cinema em três ocasiões, sempre abordando temas muito atuais.

O primeiro filme chegou ao cinema em 2006. O Vale dos Lobos: Iraque trazia um protagonista que tentava vingar um agente especial turco que se suicidou após ter sido humilhado por soldados americanos.

A trama se baseia no incidente ocorrido em 2003, durante a ocupação americana no Iraque, quando vários espiões turcos foram detidos por militares dos Estados Unidos e suas imagens com a cabeça coberta com capuzes rodaram o mundo.

O êxito do filme esteve em utilizar o modelo das produções de ação hollywoodianas e seus vilões maquiavélicos. Desta vez, no entanto, em vez de serem árabes ou russos a planejar maldades, eles eram americanos.

O filme foi tachado de antiamericano e antissemita, já que em uma das cenas um médico israelense extrai os órgãos dos presos da famigerada prisão de Abu Ghraib para poder vendê-los.

No entanto, foi campeão de bilheteria, arrecadando mais de R$ 45 milhões na Turquia e outros R$ 4,6 milhões na Europa, especialmente entre os turcos que vivem na Alemanha.

O fato de apresentar os curdos do Iraque como covardes colaboracionistas dos ocupantes americanos não foi empecilho para o triunfo da série no norte do Iraque.

O mesmo acontece entre a população do Curdistão turco, onde as ruas ficam desertas durante a transmissão da série, às quintas-feiras.

A sequência, O Vale dos Lobos: Espada, que estreou em 2008, não teve tanto sucesso nem gerou tanta polêmica, já que tratava de uma questão mais local: o Estado profundo, que define as relações entre mafiosos, grupos ultranacionalistas e militares com intenções golpistas da Turquia.

Resta saber como reagirão as autoridades israelenses quando virem o 007 turco começar a disparar tiros em sua Terra Prometida.

“Não sei que parte desta terra foi prometida vocês”, argumenta Polat Alemdar em outro momento do trailer: “O que eu prometo é colocá-los a sete palmos abaixo da terra”.

Veja o trailer abaixo (em turco, com legendas em inglês):


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James Bond turco vai à caça de israelenses na telona