Neo-soul: conheça os artistas que resgatam os sons clássicos da black music
Sem hype na mídia “especializada”, sem fazer um som parecido com o que bomba nas rádios. É comendo pelas beiradas que a inglesa Adele está no caminho para se tornar uma das grandes estrelas internacionais de 2011.
Seu segundo álbum, 21 (sua idade na época das gravações), vem fazendo estrago nas paradas europeias desde que foi lançado no fim de janeiro. Além de bater alto na Itália, Bélgica e Irlanda, já é disco de platina no Reino Unido e ouro na Alemanha (ficando em número um nos dois países).
Na Holanda, ele já foi platina duas vezes, de quebra conseguindo um feito de cair o queixo: quando esteve em primeiro lugar, o disco vendeu mais que todo o restante do Top 100 combinado!
O disco sai nos EUA em 22 de fevereiro. Tem tudo para estourar por lá também.
ALMA NEGRA
O que Adele tem de tão especial? A voz, acima de tudo. Expansiva e forte, mas com as necessárias nuances de dor e fragilidade, que caracterizam as grandes vozes de soul e blues. Adele mostra potência, mas a rouqueada de voz está sempre ali dando as caras, como rachaduras na superfície.
Adele pertence à mesma grande tradição inglesa de Amy Winehouse: meninas criadas a molho Worcestershire, mas com a alma entregue aos sons negros de Memphis, Chicago e Detroit. Adele descende de damas do blues branco e britânico como Dusty Springfield, Alison Moyet e Lisa Stansfield.
Seu primeiro álbum, 19 (sua idade na época), foi bastante elogiado, trouxe o hit Chasing Pavements e lhe rendeu dois Grammy (e mais duas indicações). “Minha mãe gritou tanto quando a gente soube [das indicações], que acordou todos os vizinhos”, contou a moça.
CHEGA DE SER UMA “NOVA AMY”
Mesmo assim, Adele ainda era muito vista como uma “nova Amy”. Se você ouvir, por exemplo, Right As Rain desse disco sem saber quem é, vai jurar que é Amy. Normal: o mega-sucesso de Miss Winehouse criou uma demanda por mais vocalistas de timbre vintage.
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Adele agradece muito, mas no segundo disco era hora de emitir mais luz própria, crescer e aparecer. “Sinto que me tornei uma adulta nos últimos dois anos”, disse ela numa entrevista recente.
O jeitão de Adele é sem firulas: molecona, largada e espontânea, não pensa muito para falar. Quando foi receber seus Grammys, nem roupa pra ir tinha. Recebeu um telefonema de Anna Wintour, editora-chefe inglesa da Vogue americana, que propôs lhe vestir para a ocasião. Ela aceitou, claro. Veja abaixo como foi uma decisão sabia.
PRODUÇÃO DE PESO
O novo álbum é o argumento final para dissipar qualquer tentativa de comparação que ainda reste. Na produção, duas nomes de alto calibre: o americano Rick Rubin, instituição dos estúdios que tem no portfolio de Johnny Cash a Run DMC; e o inglês Paul Epworth, que já produziu Florence and the Machine, Cee Lo Green e Sam Sparro.
O primeiro single, Rollin’ In The Deep, definido por Adele como “dark bluesy gospel disco”, saiu ano passado e deixou muita gente de queixo caído. Clique aqui para ouvir.
A sonoridade do novo disco toma distância da pegada mais soul e pop do primeiro. Adele pende para o lado do blues e do country, com violões e pianos acústicos, arranjos e produção mais básica. Mas sem se prender a tradicionalismos: há espaço até para uma cover da canção Lovesong, do The Cure.
Ouça aqui outra faixa de 21, Rumour Has It:
E aqui a música Take It All, ao vivo no Hollywood Bowl, em Los Angeles. Sinta o alcance da voz.