Protagonista do documentário indicado ao Oscar Lixo Extraordinário e líder de um aterro sanitário no Rio de Janeiro, Sebastião Carlos dos Santos, o Tião, procura despertar consciências em Hollywood para melhorar a qualidade de vida dos que reciclam lixo no Brasil.

Tião, de 32 anos, aterrissou pela primeira vez em Los Angeles esta semana para assistir como uma estrela a mais da sétima arte à entrega das estatuetas no Teatro Kodak, uma gala que lhe aflige e da qual espera desfrutar, embora sem esquecer qual é seu papel na cerimônia.

“É muito gratificante e maravilhoso tudo o que está acontecendo”, comentou Tião em entrevista concedida à Agência Efe no hotel Mondrian, na Sunset Boulevard. “Isto é muito maior do que tinha pensado, todo mundo parece famoso. Mas é uma coisa que vai passar, terminará, e tenho que ter os pés no chão e não perder o contato com a realidade”, explicou.

O líder do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) se transformou nas últimas semanas no grande estandarte brasileiro pela defesa dos direitos a um trabalho e a condições de vida dignas para os que, assim como ele, cresceram aproveitando o que outros jogam fora.

Sua história como catador de lixo desde os 11 anos de idade em Jardim Gramacho, um dos maiores lixões do mundo, foi relatada no filme Lixo Extraordinário, produção britânica e brasileira que conquistou um lugar entre os candidatos a Melhor Documentário.

Desde que a indicação foi divulgada, em 25 de janeiro, Tião deixou para trás o anonimato para saltar às páginas dos jornais e aos programas das emissoras de TV brasileiras, uma mudança que tenta assimilar e aproveitar pelo bem do seu trabalho.

“Eu não sou um ator. Estou aqui por um documentário que contou a vida real e para dar notoriedade ao nosso coletivo”, indicou Tião, que, se puder, não deixará passar a ocasião de falar às grandes estrelas do cinema mundial sobre o que podem fazer pelos trabalhadores dos lixões no Brasil.

“É muito importante estar com Angelina Jolie e Brad Pitt ou outras celebridades que podem se envolver nesta causa, porque isto te dá maior visibilidade, é muito importante ter seu apoio”, assinalou o catador.

Tião passeará pelo tapete vermelho vestido com um fraque criado com exclusividade pelo estilista brasileiro Pedro Cardoso e terá a companhia de seu representante, Jackie de Botton, que usará um traje de Marta Macedo produzido com materiais coletados em Jardim Gramacho.

Lixo Extraordinário concorrerá pela estatueta com Exit Through the Gift Shop, Gasland, Restrepo e Trabalho Interno, o documentário que parte como favorito, embora Tião não perca a esperança: “Sou otimista”.

Segundo ele, o primeiro efeito da repercussão do filme já está sendo observado no Brasil, onde as pessoas estão deixando de tratar os trabalhadores dos aterros sanitários como “lixo”. “Agora há respeito”, afirmou, antes de apontar que ainda resta muito a ser feito.


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Do lixão ao Oscar, Tião quer despertar consciências em Hollywood