Em 2008, o jornalista Eduardo Fenianos, também conhecido como urbenauta, se preparava para uma viagem pelo Brasil. Durante 185 dias ininterruptos, ele percorreu todos os estados do país dormindo cada dia em uma casa diferente, com um salário mínimo por mês. Agora,a partir do dia 5 de julho, as partes mais marcantes dessa viagem serão veiculadas no Twitter e transformadas na primeira Twiit Novel do país.
Eduardo rodou o país com seu carro e disse ao Virgula Lifestyle que nem sabe ao certo por quantas cidades passou, mas conheceu todas as capitais do país, ficando em média uma semana em cada. O principal objetivo era buscar os extremos de cada lugar e não apenas conhecer os pontos turísticos. E durante o trajeto, ele registrou várias situações, resultando em um total de 400 horas de imagens gravadas.
O Virgula Lifestyle bateu um papo com o jornalista para saber um pouco mais sobre sobre a viagem e a ideia de transformá-la em novela do Twitter.
Virgula Lifestyle: Por que você optou por gastar apenas um salário mínimo por mês?
Eduardo Fenianos: Quando eu fiz a primeira viagem desse tipo, quando fiquei 120 dias viajando apenas pela cidade de São Paulo (saiba mais sobre isso, no tópico abaixo da entrevista), todas as pessoas que eu conhecia na rua diziam que esse desafio era coisa de “playboy”. Foi aí que me desafiei a utilizar apenas um salário mínimo por mês. E não foi fácil. Pedi dinheiro na rua, trabalhei e só consegui sobreviver com isso porque tive ajuda de muitas pessoas. O fato de não ter gastos com aluguel ou hospedagem, já que dormia na casa das pessoas, ajudou muito.
VL: Por que “Urbenauta”?
EF: É uma brincadeira com os termos “astronauta” e “urbano”. O astronauta vai para a lua, o urbenauta vai para a rua.
VL: Como surgiu a ideia de transformar a viagem em novela?
EF: A viagem toda foi uma novela do dia dia. Nada era programado, a rua me pautava e as coisas iam acontecendo. Nos trajetos, rolava de tudo que a gente vê em novela: romance, mistério, drama, violência. Mas eu vi um Brasil, que não é aquele mostrado na TV por isso surgiu a ideia de veicular.
VL: Por que via Twitter?
EF: Eu me apaixonei pela ferramenta. A agilidade é incrível e combina totalmente com o conceito da viagem ao Brasil, já que mostra “o que está acontecendo agora”. Há umas duas semanas, criei o @urbenauta onde a novela vai ser passada.
VL: Como vai funcionar a Twiit Novel?
EF: Serão ao todo 100 capítulos, distribuídos em 5 tweets por dia. Cada capítulo será como um dia da viagem e os tweets poderão vim só com texto ou com vídeo e imagens anexas. No caso dos vídeos, serão via Youtube. Os brasileiros serão os personagens e a história vai girar em torno da realidade deles, como se comportam, onde moram, se são hospitaleiros, o que comem, o que pensam de si mesmos.
É importante dizer, que eu nunca vou opinar. As pessoas que acompanharem a novela tirarão suas próprias conclusões sobre os moradores de cada cidade. Na prática os personagens mostram quem são, como são hospitaleiros.
VL: Como aconteceram as filmagens? Tinha alguém de ajudando?
EF: Em toda viagem estava apenas eu e meu carro, que apelidei de urbenave. Ele foi uma espécie de unidade de gravação. As filmagens eram feitas com minha câmera mesmo, câmeras escondidas ou câmeras das próprias pessoas que me recebiam, tudo com muita espontaneidade, sem muita frescura ou equipamento de luz.
VL: Você pretende transformar essa viagem em livro, assim como fez com a viagem em São Paulo?
EF: Sim! O livro deve ser publicado logo após o fim da Twiit Novel. Ele será escrito paralelamente à novela e trará mais detalhes sobre assuntos abordados nos capítulos dela também. Uma coisa vai complementar a outra.
O início: Viagem em São Paulo
Tudo começou em 2001, quando o jornalista passou 120 dias viajando de carro por São Paulo. “Quando se fala em viagem, todo mundo pensa que significa sair da sua cidade, mas descobri que não é bem assim”. Eduardo passou por todos os cantos de São Paulo, dos bairros mais nobres à favelas e traçou o objetivo de passar todos esses dias sem voltar para casa, dormindo na casa de pessoas que conhecia na rua ou até mesmo na rua. “Eu me coloquei a seguinte regra: se estou nesse bairro tenho que dormir aqui. Se não conseguir um lugar, durmo na rua, até mesmo porque se eu dormir no carro, levam eu e o carro”, disse ao Virgula Lifestyle.
Durante este trajeto, conheceu pessoas incríveis, histórias marcantes e passou por diversas situações inusitadas. Até na casa da Ana Maria Braga Eduardo dormiu. Como assim? Ele conta que estava em uma favela no Morumbi, fez amizade com um morador e foi aí que conheceu o ‘Muro de Berlim do Morumbi’: de um lado as favelas, do outro as grandes mansões de figuras como Silvio Santos e Ana Maria Braga. “Passei em frente à casa dela, conversei com o segurança e decidi tocar o interfone para contar o meu desafio. Não consegui falar com ela, mas deixei meu contato. No dia seguinte, a assessora dela me ligou e disse que a apresentadora estava me convidando para dormir uma noite na casa dela. E eu fui”, explica o jornalista.
Para ele a experiência foi como uma pauta jornalística, que começou no 1º dia e acabou no 120º. Todas as histórias e detalhes vividos pelo jornalista herdaram o livro “São Paulo, uma aventura radical”, publicado em 2002, e também despertaram a ideia da viagem ao Brasil, realizada em 2008.
Clique abaixo e veja algumas fotos de Eduardo durante as viagens.