Uma dança folclórica centenária, afro-brasileira, que tem o mesmo nome e origens africanas que a música mais tradicional de Portugal, resiste em Quissamã como uma das principais manifestações culturais da região no Norte do Estado do Rio de Janeiro. Mas o Fado de Quissamã, quando ouvido e dançado, em absolutamente nada se parece com o seu homônimo lusitano, embora a história de alguma forma os conecte. Tão importante para a história do interior fluminense, já foi tema de um documentário, “O fado é bom demais…”, realizado pelo Observatório Jovem da Universidade Federal Fluminense, e concorre ao Prêmio Estadual de Cultura do Rio de Janeiro 2012/2013.

O bailado típico do interior do Rio tem origem nas manifestações dos escravos que trabalhavam na produção açucareira na região. E a dança conhecida como fado é, até hoje, uma das poucas heranças culturais que retratam uma época de prosperidade no Norte Fluminense, quando, no final do século XIX, viveu um momento de progresso econômico. Apesar de ter existido em outros lugares da mesma região do Estado, Quissamã é o único município que preserva esta tradição.

A chamada “mineira” é a letra feita de improviso pelo cantador de fado. Dançada em ritmo cadenciado, é acompanhada na palma da mão e batidas do pé no chão, ao som de viola e pandeiro. O mestre Jorge Luiz Reis, natural da cidade, herdou dos avós e dos pais os costumes da dança, e hoje lidera as atividades no Grupo de Fado de Quissamã, formado por 24 homens e mulheres, além dos instrumentistas, que têm em média 60 anos. As suas apresentações acontecem até hoje na Fazenda Machadinha, em cujas senzalas sua prática começou de fato, ainda nos tempos da escravidão, além do Centro Cultural Sobradinho, ambos na própria  cidade de Quissamã.

Vale lembrar que se trata de um município cuja história sempre esteve ligada à cultura da cana-de-açúcar, passando por momentos de prosperidade e outros de estagnação. A emancipação de Macaé veio apenas em 1988, quando foram surgindo novas formas de exploração econômica e social da região, como a produção de frutas. Desde então, o bailado do Fado passou a ganhar ainda mais destaque entre a população local, como símbolo da identidade cultural do novo município. Durante muito tempo, os bailes de fado na sede da fazenda eram um sucesso rural na região e só terminavam ao raiar do dia. No final dos anos 80, com a fuga de habitantes para as áreas urbanas, a prefeitura temeu que o baile se extinguisse.

Para evitar que isso acontecesse, preservar e valorizar a tradição, algumas  iniciativas foram tomadas ao longo dos últimos anos, como a revitalização do baile da Machadinha, onde diferentes gerações se encontram e se divertem, apresentações do grupo na biblioteca da cidade e até um projeto que visa incluir oficinas práticas do Fado de Quissamã nas escolas do município, transmitindo a herança folclórica para os mais jovens.


int(1)

Não é só Portugal que tem fado; Quissamã, no Rio de Janeiro, também tem