Nos últimos anos, a visibilidade de pessoas trans na publicidade brasileira tem registrado avanços, evidenciando passos importantes na luta pela equidade, inclusão e diversidade. Grandes marcas começaram a dar espaço para narrativas que valorizam as vivências trans, mas ainda há um longo caminho para que a representatividade seja consistente e efetiva, especialmente em um cenário global onde a retirada de investimentos em políticas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) e o avanço da direita conservadora ameaçam conquistas progressistas.
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De acordo com o estudo Oldiversity®, conduzido pela Croma Consultoria, 55% dos brasileiros afirmam que marcas e empresas estão tentando atender as necessidades da comunidade LGBTQIA+. No entanto, Edmar Bulla, fundador do Grupo Croma, destaca que os esforços ainda são insuficientes: “As marcas precisam ser mais conscientes, comprometidas e envolver-se de forma significativa com a diversidade. A autenticidade e a responsabilidade social serão cada vez mais exigidas pela sociedade.”
Apesar de algumas campanhas de sucesso, especialistas e organizações de direitos LGBTQIA+ apontam que a representatividade trans continua sendo tratada de maneira simbólica ou restrita a ocasiões específicas, como o Dia da Visibilidade Trans. O desafio é construir um movimento publicitário contínuo que inclua pessoas trans não apenas em frente às câmeras, mas também nos bastidores – como roteiristas, produtores e líderes de criação.
Essa lacuna entre o discurso e a prática ganha ainda mais relevância diante de um contexto internacional onde empresas estão reavaliando e, em alguns casos, abandonando suas iniciativas de DEI, muitas vezes pressionadas por movimentos conservadores ou por cortes orçamentários. A polarização política e o avanço de pautas de extrema-direita têm amplificado os ataques a políticas de inclusão, colocando em risco avanços conquistados a duras penas por minorias sociais.
Segundo o Oldiversity®, apenas 46% dos entrevistados sentem que as campanhas publicitárias refletem suas realidades e necessidades, um dado que reforça a urgência de abandonar práticas de inclusão simbólica e adotar ações concretas e estruturadas. Para Bulla, “a inclusão real e significativa dos públicos da diversidade no ambiente de trabalho e nas campanhas publicitárias vai muito além do marketing; trata-se de um compromisso genuíno com a igualdade.”
A representatividade trans na publicidade brasileira não deve ser encarada apenas como um reflexo das pautas sociais contemporâneas, mas como uma oportunidade para promover mudanças culturais mais profundas. Para isso, é necessário um compromisso contínuo e corajoso das marcas, que precisam enfrentar os desafios da atual conjuntura política e econômica e reafirmar seu papel como agentes de transformação social.
Se o mercado publicitário deseja verdadeiramente contribuir para uma sociedade mais justa, é fundamental ir além das datas comemorativas e do simbolismo. Investir em empregabilidade, dar voz a pessoas trans em posições criativas e promover campanhas autênticas e responsáveis são caminhos necessários para construir um futuro mais inclusivo, mesmo em tempos de adversidade.
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