Biomédica, especialista em neurociências e desenvolvimento infantil, inova ao trazer curso para o país com aulas de mestres internacionais como Dr. Gabor Maté e Bruce Perry (Foto: Divulgação)

Os traumas vividos durante a infância têm impactos profundos e duradouros na saúde física, mental e emocional. Um estudo conduzido pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC), em parceria com a Kaiser Permanente nos Estados Unidos, conhecido como Estudo ACEs (Adverse Childhood Experiences), revelou dados alarmantes: pessoas que vivenciaram altos índices de experiências adversas na infância apresentam 460% mais chances de desenvolver depressão, 300% mais risco de doenças pulmonares e 240% mais probabilidade de sofrer de doenças cardíacas ao longo da vida.

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Para Telma Abrahão, biomédica, especialista em neurociências e desenvolvimento infantil, compreender a extensão desses impactos é essencial para desenvolver estratégias de prevenção e intervenção. “Os traumas da infância não apenas moldam o comportamento, mas também afetam profundamente a saúde física e emocional. É preciso olhar para essas marcas com mais atenção, pois elas influenciam diretamente a qualidade de vida ao longo dos anos”, afirma.

No Brasil, a compreensão sobre a relação entre adversidades na infância e quadros clínicos apresentados na vida adulta ainda é limitada. Muitas formações profissionais não incluem esses conceitos em seus currículos, dificultando intervenções mais eficazes por parte de médicos, psicólogos, pedagogos e outros profissionais que lidam diretamente com crianças, adultos e famílias. “Muitas formações profissionais não incluem essa conexão nos currículos, o que compromete a capacidade de intervenção de quem atua na linha de frente com saúde, educação e comportamento humano. Precisamos mudar essa realidade com urgência”, alerta Telma.

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Para preencher essa lacuna no Brasil, a especialista criou a primeira pós-graduação no Brasil focada em Neurociência, Trauma e Saúde Mental. A formação pioneira integra os avanços mais recentes de matérias como neurociência, neurobiologia, epigenética e psiconeuroimunologia, capacitando profissionais para compreenderem e intervirem nas raízes dos problemas que afetam a saúde integral.

Com aulas ministradas por especialistas nacionais e convidados internacionais, como o renomado Dr. Gabor Maté e o neurocientista Dr. Bruce D. Perry, a formação oferece conhecimento que cobre desde a compreensão da infância até seus impactos nos sistemas nervoso e imunológico, proporcionando uma visão integral da saúde. Essa abordagem representa um marco para a saúde no Brasil, oferecendo aos profissionais uma capacitação qualificada para transformar atendimentos e inspirar políticas públicas, ampliando o olhar para uma medicina mais preventiva e eficaz.

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“Com base em estudos de ponta, essa pós-graduação oferece uma abordagem para profissionais que buscam transformar a forma como lidamos com saúde e comportamento no Brasil. É uma oportunidade de interromper ciclos de sofrimento e promover saúde integral”, explica Telma.

As consequências não se limitam apenas a quem vivência traumas de infância. Estudos recentes de epigenética mostram que experiências adversas podem alterar a expressão genética e, consequentemente, serem transmitidas para as gerações futuras. Essas mudanças perpetuam ciclos de vulnerabilidade, dificultando a quebra de padrões de sofrimento. “Essas marcas podem perpetuar ciclos de sofrimento, criando um padrão de vulnerabilidade que precisa ser interrompido por meio de intervenções conscientes e eficazes”, explica.

Os traumas na infância impactam diretamente o desenvolvimento de estruturas cerebrais fundamentais, como o córtex pré-frontal, que regula a tomada de decisões, e o hipocampo, responsável pela memória e regulação emocional. Um estudo da Universidade de Harvard, liderado por Tottenham et al. (2010), revelou que adultos que enfrentaram altos níveis de adversidade na infância apresentam maior ativação da amígdala e da região do cérebro associada ao medo, mesmo em situações de segurança.

Essas alterações cerebrais refletem em comportamentos e relações. Crianças que enfrentam situações de violência ou negligência frequentemente têm dificuldades em formar vínculos saudáveis e apresentam maior predisposição a transtornos como ansiedade e depressão. “O impacto é profundo e demanda atenção. Precisamos investir na compreensão desses mecanismos para oferecer soluções mais assertivas e humanas”, destaca Telma.

Além das repercussões emocionais, os traumas na infância deixam marcas no organismo. Pesquisas apontam que crianças expostas a abuso ou negligência apresentam alterações nos níveis de cortisol, o hormônio do estresse. Essas alterações, quando crônicas, sobrecarregam o organismo, resultando em inflamações que podem desencadear doenças autoimunes, transtornos metabólicos e outros problemas de saúde.

Estratégias preventivas, como a promoção da autorregulação emocional e o fortalecimento de laços afetivos seguros, já demonstraram ser eficazes na redução dos impactos de traumas, principalmente em populações vulneráveis. A disseminação desse conhecimento e a aplicação de práticas baseadas em evidências são passos fundamentais para criar um futuro mais saudável e resiliente.

“Investir na infância e na prevenção de traumas é a chave para transformar vidas e garantir um futuro melhor para as próximas gerações. Precisamos entender que cuidar das crianças de hoje é cuidar da sociedade de amanhã”, conclui Telma.


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Telma Abrahão lança primeira pós-graduação no Brasil focada em Neurociência, Trauma e Saúde Mental