O vídeo de um soldado israelense apontando uma arma para um adolescente palestino, divulgado na internet, gerou polêmica em Israel, sendo apoiado por dezenas de milhares pessoas nas redes sociais e gerando debates políticos em torno dos efeitos e da continuidade da ocupação.

O vídeo, de cerca de dois minutos de duração, foi postado no Facebook no dia 28 de abril e, nele, pode-se observar David Admov, soldado da “Brigada Nahal”, que protege os colonos nas regiões ocupadas de Hebron, discutindo com um jovem palestino desarmado.

Em um momento da discussão, o soldado empurra o jovem, levanta a arma, ameaça disparar e, com a resistência do menino, e a aparição de outro jovem ao qual também aponta, o soldado chuta o palestino antes de prendê-lo.

O incidente se transformou em um barril de pólvora pouco depois que a edição digital do jornal “Maariv” informou que o protagonista da gravação – conhecido como “David haNahwali”, pelo nome da brigada – tinha sido disciplinado.

Ontem à noite, uma página aberta no Facebook intitulada “Não vendam as Forças Armadas Israelenses (IDF)” havia passado de 95 mil seguidores e dezenas de fotografias haviam sido postadas à rede por civis e militares com frases de apoio ao militar.

Políticos de grande peso em Israel, como o ministro da Economia e líder ultranacionalista, Naftalí Bennett, prestaram apoio ao protagonista.

“Eu teria reagido como David, o guerreiro da Brigada Nahal. Agiu corretamente”, escreveu Bennett, defensor dos colonos, em seu perfil do Facebook.

Para o líder, a cena foi um “ato de provocação” no qual “as duas câmeras não estavam ali por acaso”.

Em uma linha diferente, Amir Peretz, ministro do Meio Ambiente e membro do partido Hatnuah, da ministra da Justiça, Tzipi Livni, afirmou que essa é uma prova a mais da necessidade de chegar a acordos com os palestinos dentro da solução dos dois Estados.

“A diferença entre minha posição e a de Bennett é que eu tento evitar que nossos soldados tenham essas interações impossíveis com os palestinos na Cisjordânia e Bennett quer deixá-los ali”, afirmou.

“Um acordo de paz levaria os soldados a não precisar atuar mais como policiais em incidentes com civis como esses na Judeia e em Samaria – nomes israelenses da Cisjordânia. Só protegeriam nossa segurança e fronteiras”, precisou.

Moshé Feiglin, deputado do partido direitista “Likud Beytenu”, também expressou seu apoio a David Admov, mas advertiu que o exército se transformou “em um sinal da ocupação” que deve ser evitada, e que se a ideia é anexar Cisjordânia, então devem ser substituídos por policiais.

“Enquanto houver soldados e não policiais em Hebron e na Judeia e em Samaria nossos filhos seguirão sendo humilhados em incidentes como esse”, escreveu na rede.

O chefe do Estado-Maior do exército israelense, general Benny Gantz, parecia, no entanto, mais preocupado com o uso incorreto das redes sociais que do fato em si.

“É importante que lembremos e digamos a nossos subordinados de maneira clara que o Facebook não é uma ferramenta de comando. Está aí, é um fato, mas não pode sequer ser um canal paralelo para o diálogo entre os oficiais e seus soldados”, explicou ao jornal “Jerusalem Post”.

Roni Kaplan, porta-voz das Forças Armadas, confirmou à Efe que o soldado foi punido, mas por razões que não tem ligação com a gravação divulgada, e ressaltou que o incidente está “sob investigação”.

“O soldado teria sido repreendido devido a sua participação em uma ação excepcional em Hebron, o que não está confirmado. De fato, o soldado foi repreendido devido a um comportamento violento contra seus superiores, que não têm relação com o evento filmado e divulgado na rede”, afirmou.

“Investigaremos o evento imediatamente depois que o soldado voltar à unidade. A investigação se baseará nas normas éticas e profissionais das Forças de Defesa de Israel, e não na provocação que se percebe na filmagem específica”, precisou.

Para a ONG “Breaking The Silence” (“Quebrando o Silêncio”), a campanha empreendida por vários soldados na web em defesa de seu companheiro é, na realidade, uma demonstração de que “o que aconteceu nas ruas de Hebron não é excepcional, mas uma conduta rotineira”.

“O que os soldados que o apoiam estão dizendo é porque somos punidos e repreendidos por fazer nosso trabalho como nos mandam, o que querem que façamos? Como vamos nos comportar?”, questionou Yehuda Shaul, um dos porta-vozes da ONG israelense que denuncia a ocupação e luta contra a conduta abusiva do exército em regiões ocupadas.

Confira:


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Soldado israelense aponta arma para menino palestino em vídeo e gera polêmica