Luiz Otávio lança álbum “Essa maré”, produzido por Mart’nália

Tecladista e cavaquinista da banda de Mart’nália, Luiz Otávio vinha se mostrando à vontade nos vocais que fazia de improviso nos shows. “Ele tem uma voz bonitona, fazia uns djubidjubi que não é qualquer músico que faz”, descreve a cantora, com sua irreverência característica. Atenta, ela o chamou para cantarem juntos uma música do roteiro e, não demorou, começou a provocá-lo com a ideia de um disco solo dele, soltando a garganta. Assim nasceu “Essa maré” (Biscoito Fino), que chega às plataformas de streaming dia 27, com produção da madrinha Mart’nália.

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Mergulhado numa sonoridade black suburbana, que remonta à elegância quente de bailes da Zona Norte e da Zona Oeste, “Essa maré” traz sete faixas. Três são releituras de canções de Djavan, Arlindo Cruz e Don Beto – pistas de algumas das filiações do artista. As outras quatro são composições próprias de Luiz Otávio – uma delas em parceria com Tom Karabachian.

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Apesar de “Essa maré” ter sido concebido nos últimos meses, a partir da sugestão de Mart’nália, sua história começa bem antes. Na verdade, ela tem origem ainda na infância do músico, no subúrbio carioca (?) de Campo Grande, na década de 1990. O músico de 33 anos lembra: “Ganhei um tecladinho de brinquedo dos meus pais e, com 4, 5 anos já estava tirando músicas que ouvia no rádio”. Sua família ouvia muito samba e pagode, uma das influências centrais nesse primeiro momento. “Minha lembrança mais antiga sou eu tocando ‘Essa tal liberdade’, do Só Pra Contrariar”, conta.

Outros sons o interessavam. Deficiente visual desde o nascimento, mantinha os ouvidos atentos a tudo: o Raul Seixas que seu tio adorava e que ele passou a adorar também; o jazz do Sexteto Onze e Meia, banda que ele ouvia na TV entre as entrevistas do programa de Jô Soares; a MPB nas trilhas de novelas, em especial a bossa nova que acompanha as tramas de Manoel Carlos. Essas e outras referências entram no caldeirão que une qualidade musical e apelo popular e que Luiz Otávio revela agora em “Essa maré”.

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O calor da rua que sua música traz não é um acaso. Luiz Otávio rodou diversos cantos do Rio, de Copacabana a São Gonçalo, para tocar – sem valorizar as dificuldades por ser deficiente visual e por morar num bairro afastado de onde apareciam as chances de trabalhar. “As pessoas falavam: ‘Infelizmente não posso te chamar pra tocar porque não tenho carro pra te buscar’. Eu dizia: ‘Não tem problema, eu vou de ônibus’. E ia, levando teclado, guarda-chuva, bengala…”, recorda.

Oportunidades aumentaram quando Luiz Otávio foi apadrinhado pelo pianista Fernando Merlino, seu professor, e pelo baixista Arthur Maia, com quem tocou por oito anos. Foi Arthur, amigo de Mart’nália, que o apresentou à cantora. Nos últimos anos, tocou com Marcelo D2 e gravou nos discos mais recentes de Martinho da Vila e Elza Soares (esse ainda inédito).

“Essa maré” é o segundo disco de Luiz Otávio, e o primeiro de canções. Sua estreia em álbum foi instrumental, e era esse o caminho que ele parecia que ia trilhar em sua carreira. Mas quando a ideia do disco começou a ganhar força, o músico achou que devia compor. Começou a escrever melodias e, numa noite de insônia, escreveu letra para duas delas. Gostou da brincadeira e fez uma leva, da qual selecionou as quatro autorais do disco.

Em seu método de compor, sempre faz a letra a partir da melodia, buscando as palavras que se encaixam melhor naquelas notas. A parceria com Tom Karabachian, “Custe o que custar”, é exceção – ele fez a música para os versos do parceiro.

Nas letras, Luiz Otávio explora o amor em diversas formas. “Quem disse” é uma cantada desencanada e alegre; “Já tô” faz pedido de desculpas sedutor; “Custe o que custar” destila o lamento e a superação pelo fim do amor; “Essa maré” declara a paixão e convida ‘Vambora, simbora comigo/ Agora não tem mais perigo/ Se deixe envolver/ e deixa acontecer”.

As três regravações, pérolas escondidas do repertório de seus compositores, seguem o mesmo espírito suingado e romântico. São elas “Pensando nela”, de Don Beto; “Não penso em mais nada”, de Arlindo Cruz; e “Meu”, de Djavan. Nesta última, Luiz Otávio tem a participação de Mart’nália, com quem faz um dueto.

A banda de alto nível que acompanha Luiz Otávio (voz, piano e teclados) no disco é formada por amigos com quem já toca há algum tempo – a intimidade e a qualidade transparecem no resultado. A formação tem Thiago Silva (bateria); André Siqueira (percussão); João Rafael e Alexandre Katatau (dividindo-se nos baixos); Julio Raposo (guitarra); Marcelo Martins (sax, flauta e arranjos de sopros); Diogo Gomes (trompete); e Rafael Rocha (trombone).

É o próprio Luiz Otávio que amarra a definição da sonoridade de “Essa maré”, usando o mesmo balanço com que toca e compõe: “É uma mistura muito natural de soul, samba, balada, MPB, pop, uma pitada de funk e rap… Enfim, é um disco carioca”.


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Luiz Otávio lança álbum "Essa maré", produzido por Mart'nália