Ouça o EP completo

Uma viagem pelos sons da América Latina, essa é a principal ideia que Craca traz em seu novo EP “Humo Serrapilheira”, lançado no dia 29 de março pela Tropical Twista Records. Com um guia sensorial através de faixas instrumentais, o cidadão latino-americano traz diferentes influências musicais para descrever paisagens de destaque do lado sul do continente americano. Em entrevista ao Virgula, Craca revela mais detalhes sobre seu novo trabalho.

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O disco são trechos de instrumentos de cordas que eu tinha feito para trabalho de trilha sonora e eu recuperei. O processo foi de como eu entendo a minha nacionalidade, eu me entendo como latino-americano, não como brasileiro, argentino, uruguaio. Eu sou um cidadão da América Latina”.

Começando na música pelo violão, Craca revela que se encantou pela música eletrônica em uma festa com os amigos, lugar em que descobriu uma fita com músicas da Björk e, desde então, estuda sobre o gênero musical. “Botei no fone e deixei o som rolando, de repente comecei a pirar loucamente no som, a partir daí me apaixonei pela Björk e pela música eletrônica

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Seguindo de seu disco de estreia, “Traquitana Audiovisual” (2019), o segundo álbum da carreira do artista é composto por quatro faixas que guiam o ouvinte em uma viagem pelos sons e paisagens da América Latina. A ideia é criar um paralelo com uma viagem pelas estradas e pelos países, destacando as diferentes sonoridades e visões encontradas. Elementos percussivos, dos mais variados tons e intensidades, são o grande destaque na construção do EP sendo caracterizado como um elemento guia desta jornada.

A arte na capa, feita por Juliana Lira, já adianta sobre a ideia do protagonismo sul-americano. As mulheres são as representantes principais e se integram com as paisagens, conectando humano e natureza. Além disso, inspirado em movimentos antigos da arte, o mapa mundi é invertido fazendo com que a América Latina fique no topo.

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A ideia de segurar esse mapa mundi de ponta cabeça é reforçar que nós estamos por cima, não estamos por baixo, não nos submetemos. Mas isso é uma coisa antiga, já há registros nos colocando em outra perspectiva, de não submissão ao mundo europeu”, ressalta o artista.

Exilado da Argentina desde o primeiro ano de idade, fugindo da ditadura militar do país, Craca explica sua visão do povo do continente. ”O latino-americano, tirando os povos de origem daqui, todos são retirados do seu lugar de origem por algum motivo. Às vezes uma única vez, às vezes várias vezes. Na minha história, eu já contabilizei cinco motivos de migração forçada dos meus antepassados sempre ocasionadas por guerras ou ditaduras, até eu estar aqui. Desde o norte da África, até Polônia e vai para o Leste Europeu e de lá alguém pega essa galera e traz para América Latina”, relata

Por isso que eu falo, eu me sinto mais latino-americano do que necessariamente brasileiro ou argentino, porque eu participo desta comunidade de pessoas desarraigadas, essas pessoas que já foram tiradas tantas vezes do seu lugar de origem que não tem mais lugar de origem, eu tenho um lugar de destino que é o Brasil, então eu vou ficar aqui”, conclui.

O artista também foi responsável pela produção musical do EP. Sobre o registro, ele reforça a ideia: “Ele é uma viagem de ônibus ou de trem pela América Latina. Sentado na janelinha vendo as passagens desse continente passar”.


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A viagem sonora pela América Latina de Craca