Artistas criam estampas para grandes marcas
Havaianas, pão de queijo, camisa da Seleção, biquíni carioca… o Brasil e alguns de seus ícones estão na moda, até aí nenhuma novidade. Ainda bem que tem artistas dando uma remixada nessas referências para apresentar ao mundo um Brasil bem menos clichê.
O Virgula reuniu aqui três exemplos de artistas que usam esse olhar diferente para o lifestyle brazuca em suas produções. Gente que tem feito sucesso aqui e (até mais) no exterior.
A carioca Lilli Kessler, publicitária de formação e artista visual de alma, como ela se define, começou o ano com vários contratos assinados com empresas francesas, pra onde tem exportado estampas e design de sua marca, a Le Modiste (que lá fora se chama Le Modiste by Lilli Kessler).
À venda na Europa, Estados Unidos, Japão, Tailândia, China e Canadá em lojas físicas e para o mundo todo através do site, ela assina almofadas, poltronas e pufes da marca Lazy Life Paris. Outras empresas estão em negociação para produzir de roupas de cama até material escolar com seus desenhos.
“No meu trabalho uso e abuso de flores, pássaros, frutas, cores e tudo o mais que faz parte da nossa identidade. Para sair da mesmice basta olhar as coisas de forma inusitada, sob outra perspectiva, que não a do senso comum”, diz Lilli.
“Exploro vários elementos ícones da nossa cultura e nem por isso o que faço é clichê. É o meu olhar sobre o que é mundano e cotidiano que fez com que meu trabalho fosse bem sucedido, inclusive fora do Brasil. Percebo que o que chama atenção das pessoas é justamente o fato de ser diferente e único, mas vejo que parte do sucesso também se deve ao fato de ter esse DNA brasileiro”, contextualiza.
FARM X ADIDAS
Outro exemplo de que dá pra levar as cores do Brasil de um jeito diferente para o exterior é a parceria da marca carioca Farm com a Adidas mundial. “Tudo aconteceu por causa da Kátia [Barros], dona da Farm”, diz Carlos Mach, gerente de branding. “Ela sempre gostou de usar Adidas Originals com vestido estampado. A Farm é uma marca que propõe estilo o tempo todo. A Originals também traduz isso. Estamos com nossa coleção fazendo sucesso em 180 países”, contou Mach ao Virgula.
A coleção foi lançada em abril e, em questão de dias, várias peças sumiram tanto das lojas físicas quanto do site. As jaquetas, calças, camisetas, mochilas, shorts, tênis e sacolas têm temática inspirada no Brasil, com direito a tucanos e abacaxis, mas estão longe de serem óbvias. “Nosso conceito contempla mudanças que acontecem no mundo e na nossa sociedade. Vamos no caminho contrário ao do clichê, que transmite algo parado no tempo”, diz Mach. “Nossa cultura é resultante de muitas misturas. O Brasil pode ser visto de várias formas ao mesmo tempo. E isso surpreende”, resume.
MUITO ALÉM DE SAMBA, MULHER NUA E FUTEBOL
O aumento da visibilidade que a arte e o design brasileiros vêm ganhando internacionalmente é indicativo de um trabalho de qualidade, para Lilli Kessler.
“As feiras de arte do Rio e de São Paulo são um sucesso e crescem a cada ano. Nossos artistas contemporâneos começam a atingir cifras antes só alcançadas por mitos como a Tarsila ou o Portinari, e nossas galerias estão cada vez mais presentes nas maiores feiras do mundo”, relativiza. “Isso tudo só agrega valor e reforça o conceito de que somos bem mais do que samba, mulher nua e futebol”, diz a artista.
“Acho que nosso próprio histórico de ter que lutar para sobreviver com poucos recursos acabou aguçando nossa criatividade. O brasileiro está sempre buscando alternativas e isso é muito importante para abrir a mente e fazer pensar fora da caixa”, acredita.
DE CAROLINA HERRERA ÀS FAVELAS
Outro brasileiro que tem chamado a atenção dos gringos com suas cores e criatividade é o grafiteiro Marcelo Lamarca. Seus desenhos podem ser encontrados em muros, telas, garrafas e outros objetos.
Formado em design pela ESPM, Lamarca já se apresentou em exposições no Rio de Janeiro, Nova York e Suíça e já realizou trabalhos para marcas como Red Bull e Carolina Herrera. Atualmente é curador do projeto “Grafite o Seu Esporte”, que acontece nas principais favelas do Rio.
“O Brasil tem se destacado em áreas como a moda e as artes plásticas como nunca antes. Parcerias com renomados estilistas gringos e grandes magazines brasileiras têm sido muito frequentes. Acho que isso tem a ver com a originalidade, com um design de qualidade e bons projetos, que aproveitam bem a diversidade de cores, formas e personagens que o Brasil tem”, diz Lamarca.
Apesar de todo o hype, Lilli Kessler se mostra preocupada com a fragilidade da imagem do Brasil, especialmente nesse momento pré-Copa – com tantas apostas de caos iminente.
“Sempre houve um olhar curioso em relação ao Brasil, mas tudo que vinha daqui era visto com uma certa desconfiança. Na última década começamos a construir uma imagem mais séria em função do desenvolvimento econômico, e isso ajudou muito. Infelizmente parece que essa visão está seriamente ameaçada pela situação política em que o país se encontra. Um bom exemplo são duas capas de revista The Economist, uma das mais importantes do mundo no ramo. Em 2009 eles publicaram uma imagem do Cristo Redentor como um foguete subindo, sendo lançado do alto do morro. Quatro anos depois, a mesma arte foi usada, dessa vez com Cristo caindo em espiral, como se o foguete não tivesse conseguido decolar. Triste, né? Temos todos que ter mais seriedade na forma de trabalhar, de se relacionar, e de se informar para tentar impedir que o que construímos de bom não vá pelos ares”, finaliza.
Siga os artistas Lilli Kessler (e sua marca Le Modiste) e Marcelo Lamarca e a marca Farm no Instagram.