Em Nova York, uma mulher branca que estava passeando com o cão no Central Park, em uma área chamada Ramble, chamou a polícia após um homem negro solicitar que ela colocasse o animal na guia, como demandam as regras do parque. A discussão foi gravada por Christian Cooper, alvo da denúncia, e o vídeo causou revolta nas redes sociais.
Nas gravações, a mulher identificada como Amy Cooper (sem relações com Christian), pega o cão pela coleira de pescoço e tenta chegar perto do homem, pedindo que ele pare de gravar. Christian diz para ela não se aproximar, mas a moça continua fazendo investidas, enquanto ele repete para que se mantenha distante.
Amy afirma que ligará para a polícia e Christian concorda. E ela diz: “eu vou dizer que há um homem afro-americano ameaçando a minha vida”. “Por favor, diga o que você quiser”, rebate Christian.
Enquanto faz a ligação, a mulher arrasta o cachorro pela coleira de pescoço. Ele tenta se livrar da dona, pois suas as patas frontais mal conseguem tocar o chão.
Amy realiza a ligação e diz: “estou no Ramble e há um homem afro-americano que está me filmando e ameaçando a mim e ao meu cachorro”. Ela repete a história para o atendente e parece começar a chorar no final da ligação. Enquanto falava no telefone, ela finalmente coloca a guia na coleira do cachorro e Christian agradece, parando de filmar.
A polícia informou à rede de notícias CNN que foi até o local, mas nenhum dos envolvidos estava presente.
Christian estava no Central Park na última segunda-feira (26) de manhã para observar pássaros. A área do Ramble atrai cerca de 230 espécies, segundo o veículo. Mas ele se incomodou com a presença do cão sem guia porque isso impacta nas observações das aves terrestres. Então pediu que a dona seguisse as regras do parque.
No Facebook, ele relatou o que teria acontecido na discussão anterior à gravação. De acordo com sua versão, Amy foi resistente à ideia de prender o cão.
“Senhora, cães no Ramble precisam estar na coleira o tempo todo. A placa está ali”, ele começou. “As áreas para cachorros estão fechadas, ele precisa se exercitar”, respondeu Amy. Christian teria sugerido que ela o levasse então para fora do Ramble, onde andar sem guia é permitido, mas a dona resistiu e disse que era muito perigoso. Diante da situação, o rapaz afirmou que começou a oferecer petiscos para o animal porque sabe que os donos ficam irritados com a situação. Então Amy pegou o cachorro e Christian começou a gravar.
Christian contou que decidiu filmar a discussão porque “pensei que seria importante documentar as coisas. Infelizmente vivemos em uma era em que casos como o de Ahmaud Arbery acontecem, em que homens negros são vistos como alvos. Essa mulher pensou que poderia [usar a situação] a seu favor e eu não aceitei”.
Arbery, de 25 anos, foi um jovem negro assassinado a tiros em Fevereiro, no estado da Geórgia, enquanto praticava corrida. Os disparos foram feitos por dois policiais, que disseram suspeitar que ele poderia ser um ladrão. A vítima estava desarmada.
Ao conversar com o veículo, Amy admitiu que sabia que era contra as regras caminhar com o pet sem coleira. Ela disse que quer “se desculpar publicamente com todos”. “Não sou racista. Não quis machucar aquele homem de forma alguma”, relatou, completando que não queria “machucar a comunidade afro-americana”.
A mulher contou que desde que o vídeo viralizou, sua vida “está sendo destruída”. “Eu acho que estava assustada. Quando você está sozinha no Ramble, não sabe o que pode acontecer. Não é desculpável, não tem como defender”, relatou.
Amy foi demitida da empresa de investimentos Franklin Templeton nesta terça-feira (26). Em um pronunciamento no Twitter, a companhia afirmou que “não tolera qualquer tipo de racismo”.
Following our internal review of the incident in Central Park yesterday, we have made the decision to terminate the employee involved, effective immediately. We do not tolerate racism of any kind at Franklin Templeton.
— Franklin Templeton (@FTI_US) May 26, 2020