Virada Cultural 2014: Veja atrações


Créditos: Gabriel Quintão

A décima edição da Virada Cultural, que acontece neste sábado (17) e domingo (18), das 18h às 18h, terá um espaço 20% menor no Centro de São Paulo em relação ao ano passado. Diferente da edição de 2013, que tirou os shows da periferia da cidade e os concentrou no Centro expandido, em 2014 grandes atrações ocuparão os 31 CEUS (Centro de Educação Unificado) espalhados pela capital.

“Há uma demanda de pessoas que não querem se deslocar, mas querem participar da Virada”, afirmou o secretário municipal de Cultura Juca Ferreira, ao anunciar os espetáculos que farão parte da programação dos CEUS. Dentre os destaques, está a participação do rapper Sombra, um dos fundadores do conceituado grupo SNJ (Somos Nós a Justiça), que se apresenta no CÉU Três Pontes (São Miguel Paulista), no domingo (18), às 13h. Veja AQUI a programação completa. 

“Esse retorno é bom para privilegiar as pessoas que não desfrutam disso com facilidade. Essas regiões são menos favorecidas de eventos culturais quase o ano inteiro. Ações como essa, de atrações da Virada Cultural nos CÉUS, valorizam as regiões carentes e tornam a cultura mais acessível para todos”, afirmou o rapper em entrevista ao Virgula Música.

Veja a entrevista na íntegra abaixo:

Virgula Música: Após aquela confusão durante o show dos Racionais MC’s na Virada Cultural de 2007, o rap foi banido do evento. Em 2013, rolou uma apresentação em que correu tudo bem e em 2014 temos um palco só de rap, além de várias atrações nas periferias. Ao que você acha que se deve esse ‘respeito’ pelo rap? O rap subiu alguns degraus no Brasil e não é mais visto como uma música à margem de tudo?

Sombra: O rap, desde o início, em meados dos anos 90, quando começou a ser mais conhecido, sempre foi discriminado por conta das letras que falavam sobre minorias e desigualdade. As pessoas que são à favor do sistema sempre estarão contra as nossas manifestações.

Isso não seria diferente na época, mesmo havendo uma sensibilidade maior entre as pessoas que fazem esses eventos de hip hop acontecerem. Há pessoas do nosso meio que lutam para que os artistas do rap se apresentem e isso faz com que o rap venha conquistando cada vez mais espaço na imprensa e nos eventos importantes da nossa cidade.

Virgula Música: Nesta edição, teremos até um palco com representantes do funk ostentação. O que você acha do estilo? E o que acha do rap ostentação?

Sombra: Ostentar é um monte de coisas. Músicos de outros gêneros, que são bem sucedidos no país, não acham que estão ostentando, mas eles também compram seus grandes carros, grandes casas e ninguém presta atenção nisso.

Como o funk é uma música da periferia, as pessoas batem nessa tecla e recriminam isso. Tem gente que nem gosta de funk e ostenta também. Ostentação, pra mim, é uma forma de demonstrar o que as pessoas conquistaram e isso está 100% ligado ao glamour e ao dinheiro.

Virgula Música: Ainda é difícil fazer e viver de rap no Brasil? Quais são as barreiras?

Sombra: É complicado. Não ter esclarecimento sobre as coisas: como arrumar um bom estúdio, um bom produtor, trabalhar com equipamentos de qualidade, se sentir à vontade para executar um trabalho. Tem que sair da sua zona de conforto e dar as caras. A maior dificuldade é como divulgar esse trabalho, fazer bom uso das redes sociais, e fazer o corpo a corpo, para as pessoas possam ver o seu rosto e ligar o nome à pessoa.

Virgula Música: Você é um MC experiente e que acompanha há muito tempo a cena hip hop nacional. Qual sua opinião sobre o rap que está sendo produzido hoje no país? É diferente do que a sua geração fez?

Sombra: Acredito que a principal diferença seja nos temas das letras. Os MCs perceberam que podem fazer rap falando de temas como amor, cultura urbana, festas, relacionamentos, etc. Além disso, alguns MCs e DJs já produzem com seus próprios equipamentos, junto com outros membros e fazem parcerias com músicos menos conhecidos. Outra diferença é que o rap passou a ser mais musicalizado, com influências de gêneros que sempre nos influenciaram como o samba e o afrobeat.

Virgula Música: Como é o processo de criação de suas letras e quais são as referências onde você busca inspiração?

Sombra: O meu processo de criação começa em tudo o que eu ouço ou vejo as pessoas comentando. Esse monte de informação se junta com as temáticas que já pairavam pela minha cabeça e, aos poucos, eu vou organizando as ideias. Minhas referências vão de tudo o que eu ouvi ao longo dos meus 38 anos, do rap de Racionais, Pepeu e Wu Tang Clan até Bezerra da Silva, Sandra de Sá, passando por Madonna, Tina Tuner e muitos outros.

Virgula Música: Sobre o seu show na Virada, o que os fãs podem esperar no setlist? Faixas de seu disco solo e clássicos do SNJ?

Sombra: Músicas da época do SNJ, do meu disco solo (Sem Sombra de Dúvida) e, claro, do Fantástico Mundo Popular.


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"Isso torna a cultura acessível para todos", diz o rapper Sombra sobre retorno da Virada à periferia